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Rodrigo Mattos

Por que CBF não reduziu Estaduais e como isso abala finanças de clubes

21/08/2020 04h00

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Durante uma rodada de quarta-feira do Brasileiro à noite, a CBF publicou em seu site o calendário da temporada 2021. Não houve aviso à maioria dos dirigentes, a Tvs e a jornalistas. No documento, os Estaduais são mantidos com 16 datas, o Brasileiro é espremido em seis meses e terá quase metade das rodadas afetadas por desfalques por jogos da seleção.

A decisão sobre o cronograma de jogos foi tomada de forma bem antecipada pela CBF: o calendário foi anunciado ainda em agosto. No ano passado, foi publicado em outubro já com partidas da Libertadores. Ressalte-se que a temporada do próximo ano é afetada pela extensão do atual calendário até fevereiro de 2021 por conta da pandemia do coronavírus.

E por que a CBF decidiu manter os Estaduais do mesmo tamanho em um calendário apertado? Como isso afetará as finanças dos clubes e as próximas competições?

Por Estatuto, a diretoria da CBF decide sozinha o calendário do futebol. Há correntes na confederação que defendem a redução dos Estaduais por um calendário mais racional. Ao mesmo tempo, há pressão das federações estaduais para mante-los e a prioridade é manter o apoio político.

O presidente da entidade, Rogério Caboclo, fez uma promessa aos presidentes das federações, seus aliados e base eleitoral, de que preservaria os Estaduais. Não falou em número de datas. Repetiu sua promessa durante a paralisação da pandemia, inclusive atrasando rodadas do Brasileiro.

Mais, as federações usam os contratos que têm com a TV Globo para garantir datas. Os acordos preveem um mínimo de 16 ou 17 datas ou haveria redução de valores. O Paulista tem acordo até 2021, Gauchão, também. O Mineiro tem contrato até 2023. A CBF usa isso como argumento para justificar as 16 datas. Há ainda acordos pelo Goiano e Pernambuco, todos com datas mínimas. Ao já divulgar um calendário, a CBF evita pressões para reduções que já vinham sendo expostas como em posição expressa pelo presidente do Bahia, Guilherme Bellintani, que defendeu uma revisão do calendário em posts no twitter.

A questão é que o mercado já não olha para os Estaduais como um produto de valor e isso gera perdas financeiras aos clubes. Em meio à briga com o Flamengo, a Globo rompeu o acordo do Carioca. Renegociando contratos da Libertadores e Copa do Mundo, a emissora dificilmente fará propostas dos níveis atuais de valores para renovações dos Estaduais.

Além disso, com 16 datas, os Estaduais de 2021 se iniciam quatro dias depois do Brasileiro, em uma ressaca. Terão muitas datas, mas apenas dois meses entre duas competições mais relevantes. É bem possível que os clubes tenham que usar reservas no início ou quebram seus elencos. Ou seja, não são produtos fáceis de serem vendidos como atrativos a outros veículos de mídia além da Globo.

No Rio, os três clubes grandes, Vasco, Fluminense e Botafogo, já não têm a garantia de cotas fixas de R$ 18 milhões como neste ano após o rompimento do contrato com a Globo. O Flamengo já dispensara esse valor. Assim, serão dois meses de perda financeira para esses times a não ser que outra TV compre os direitos por cerca de R$ 100 milhões, cenário improvável. Em 2021, o Paulista segue vantajoso para os quatro grandes do Estado, com cotas de R$ 25 milhões por clube, mas é improvável que isso se mantenha em 2022.

Com o Brasileiro por apenas seis meses, cai a renda do pay-per-view já abalado pela pandemia de coronavírus e sua paralisação. Contabilizadas as duas temporadas de 2020 e 2021, o Brasileiro terá 13 meses, um a menos do que o normal, que já é pouco. Ou seja, reduz-se o valor ganho com o premiere.

Há uma aposta entre federações de que, com a manutenção dos Estaduais com 16 datas, no final, a Globo ou outro veículo seja obrigado a comprar os produtos porque não terá outra opção de partidas durante esse período.

Neste cenário, de uma certa forma, a CBF mantém os regionais em uma queda de braço com o mercado: quer impor um produto que não é atrativo como antes para os veículos de mídia. E por que os Estaduais não são interessantes para as TVs e plataformas com a força de antes? É um reflexo da falta de interesse do público em geral nos Estaduais. A aposta do mercado é que, no final, será o público que ditará o que vai acontecer no futuro independente da promessa feita pela confederação a aliados.