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Rafael Reis

REPORTAGEM

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Por que os xeques árabes não têm interesse em comprar clubes no Brasil?

Nasser Al-Khelaifi é o presidente do Paris Saint-Germain, clube bancado pelo Qatar - Getty Images/Getty Images
Nasser Al-Khelaifi é o presidente do Paris Saint-Germain, clube bancado pelo Qatar Imagem: Getty Images/Getty Images

Colunista do UOL

08/04/2023 04h00

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No primeiro semestre do ano passado, o Athletico enviou uma delegação a Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, para negociar com possíveis investidores interessados em comprar parte da sua futura SAF (Sociedade Anônima do Futebol).

Ao longo dos últimos 12 meses, outros clubes importantes do cenário nacional também mandaram representantes (normalmente empresários designados por ele) ao Oriente Médio em busca do mesmo dinheiro que alimentam os cofres de Paris Saint-Germain, Newcastle e cia.

Todos retornaram do famoso "Mundo Árabe" com promessas nunca concretizadas de que suas ofertas seriam devidamente avaliadas. Mas, na prática, viajaram de volta ao Brasil com as mãos abanando.

Isso acontece porque, com exceção do Grupo City, que já inseriu o Bahia no seu portfólio de mais de uma dezena de clube, os xeques árabes têm pouco (para não dizer nenhum) interesse em ingressar no futebol pentacampeão mundial.

Para entender esse "descaso", é primeiro preciso compreender que todo mundo que decide comprar uma equipe de futebol o faz porque imagina que pode obter alguma vantagem com esse negócio.

Na maioria dos casos, esse atrativo é o lucro operacional que pode ser obtido com a comercialização de jogadores, aumento nas receitas de patrocinadores e com uma futura revenda de suas ações para outros investidores.

Mas os multimilionários do Oriente Médio não estão nem aí para isso. O que eles querem é outra coisa, algo que o futebol brasileiro não é capaz de proporcionar.

Os governos do Qatar e da Arábia Saudita, só para citar os casos mais conhecidos de investimento no futebol, não se utilizam de Paris Saint-Germain e Newcastle, respectivamente, para obter lucro financeiro imediato.

O negócio deles é aproveitar a imagem positiva do futebol para que a opinião pública passe a associar seus países às benesses proporcionadas pelo esporte, e não mais aos problemas dos seus regimes políticos, que muitas vezes desrespeitam os direitos humanos e as liberdades individuais.

A longo prazo, esperam ser mais bem aceitos pela comunidade internacional e, com isso, fazer mais negócios com o Ocidente, o que significa, aí sim, faturar mais dinheiro.

Só que para essa conta fechar os xeques árabes precisam estar envolvidos em projetos grandiosos, que mobilizem torcedores do planeta todo. Os clubes brasileiros, mesmo os de maior torcida, não possuem essa força global (até por não disputarem a Liga dos Campeões da Europa e os outros campeonatos onde as grandes forças estão). Eles são apenas potências regionais.

O Grupo City, que é bancado com dinheiro do governo de Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), é uma exceção a essa regra porque optou por ter uma equipe de relevância mundial (o Manchester City), capaz de fazer essa limpeza de imagem desejada por seus donos, mas montou também uma estrutura espalhada pelos mais diferentes países (inclusive o Brasil) capaz de dar sustentação futebolística e econômica ao clube-matriz do conglomerado.

Dos 20 clubes participantes da primeira divisão do Campeonato Brasileiro deste ano, que tem início marcado para o próximo fim de semana, quatro têm seus departamentos de futebol gerenciados por investidores estrangeiros: Bahia (Grupo City), Botafogo (John Textor), Bragantino (Red Bull) e Vasco (777 Partners).

O Cruzeiro também já aderiu ao modelo de SAF, terceirizou o comando do seu time e hoje é dirigido por um proprietário que atua também no exterior. Mas a diferença é que Ronaldo Fenômeno, também dono do Valladolid (ESP), é brasileiro e até foi jogador do clube.

Outras equipes da Série A, casos de América-MG, Athletico-PR, Atlético-MG, Coritiba e Cuiabá, também já constituíram suas Sociedades Anônimas do Futebol ou estão em busca de investidores interessados em comprar parte das suas ações e turbinar a curto prazo suas receitas.