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Rafael Reis

OPINIÃO

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Ainda sem técnico, seleção deveria ter Parreira e Felipão como interinos

Felipão foi técnico da seleção brasileira em duas Copas do Mundo e ganhou uma - Rafael Ribeiro / CBF
Felipão foi técnico da seleção brasileira em duas Copas do Mundo e ganhou uma Imagem: Rafael Ribeiro / CBF

16/02/2023 04h20

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Anunciado ontem como técnico interino da seleção brasileira para o amistoso contra Marrocos, no dia 25 de março, Ramon Menezes não terá nenhum impacto na preparação canarinho para a próxima Copa do Mundo.

E esse não é nenhum demérito para o treinador que acabou de conquistar o título com a seleção sub-20. Qualquer outro nome colocado às pressas no cargo (a menos que fosse um homem de confiança do próximo efetivo, alguém que ainda não existe) também seria um zero à esquerda no processo de construção do time para 2026.

Tudo que Ramon fizer durante sua curta passagem pela função (as observações de possíveis novos convocados, a definição de um outro esquema tático, o uso de estruturas diferentes de jogo) se perderá assim que Carlo Ancelotti, Jorge Jesus ou qualquer outro "professor" for anunciado pela CBF.

Assim, o amistoso contra Marrocos, seleção que foi a surpresa da última Copa e que, por isso, tinha tudo para ser um teste dos mais interessantes para a equipe pentacampeã mundial, terá valor nulo. Será como uma estrada que leva do nada a lugar nenhum.

Se ainda não tem técnico e nem definiu uma linha de trabalho para o ciclo do Mundial-2026, que será dividido entre Estados Unidos, Canadá e México, a CBF deveria ter a hombridade de simplesmente não levar a seleção a campo nesta Data Fifa.

Assim, os jogadores ganhariam um descanso antes da reta final da extenuante (ainda mais depois de uma Copa no meio do caminho) temporada europeia e a seleção não banalizaria ainda mais a sua já desgastada imagem.

Mas é claro que essa é uma hipótese que jamais seria considerada pelo alto comando da CBF. Afinal, cada amistoso da equipe canarinho no exterior rende uma bela grana para a entidade, com cachê e venda dos direitos de transmissão. E há também a necessidade de exposição frequente dos seus patrocinadores. Ou seja, questões comerciais.

Sendo assim, e partindo da ideia de que Ramon ou qualquer outro interino não fará nenhuma diferença na construção da nova seleção brasileira, melhor seria transformar o amistoso contra Marrocos em uma festa para celebrar a vitoriosa história canarinho e aproveitar a data para homenagear Carlos Alberto Parreira e Luiz Felipe Scolari.

Os treinadores dos dois últimos títulos mundiais do Brasil (1994 e 2002) já estão aposentados do banco de reservas e tratariam essa oportunidade exatamente por aquilo que ela seria, um reconhecimento pela carreira, e não como forma de trampolim para impulsionar seus nomes.

Esse gesto da CBF também teria o valor de amenizar um pouco a imagem de derrotados que grudou na dupla depois da histórica derrota por 7 a 1 para a Alemanha nas semifinais de 2014. É claro que Parreira e Felipão tiveram (muita) culpa nesse vexame sem proporções, mas também precisam se reconhecidos como os campeões mundiais que são.

Mas a seleção não correria risco de ser derrotada por Marrocos caso estivesse nas mãos de dois treinadores aposentados? Sim, correria. Mas essa possibilidade também existe com Ramon. E, o mais importante de tudo: esse amistoso não servirá para absolutamente nada, nem para observações futuras.

Com a confirmação de Ramon como treinador interino da seleção, a CBF já não tem mais tanta pressa assim para escolher o verdadeiro substituto de Tite.

Tanto Ancelotti quanto Jorge Jesus estão presos a contratos com clubes europeus (Real Madrid, no caso do italiano, e Fenerbahçe, para o português) e só poderão assumir o comando do time canarinho após o encerramento da temporada europeia, no meio do ano.

Após a Data Fifa de março, a seleção terá uma nova janela para amistosos entre os dias 12 e 20 de junho. O início das eliminatórias sul-americanas para a Copa-2026 ainda não teve data divulgada, mas deve acontecer no segundo semestre.

O próximo Mundial será o primeiro da história com a participações de 48 países (e não mais 32, como vinha sendo desde a França-1998). Os três países-sedes já têm presença assegurada e não precisarão passar pelo torneio qualificatório.