Topo

Rafael Reis

exclusivo
REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Orgulhoso do 7 a 1, técnico da Alemanha diz que semi é obrigação na Copa

Hans Flick comandou o Bayern de Munique antes de treinar a Alemanha - Getty Images
Hans Flick comandou o Bayern de Munique antes de treinar a Alemanha Imagem: Getty Images

17/09/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Hans-Dieter Flick tem muito orgulho de ter feito parte da comissão técnica de Joachim Löw na seleção alemã que goleou o Brasil por 7 a 1 na semifinal da Copa-2014 e, na sequência, conquistou o tetracampeonato mundial.

Curiosamente, nem é o fato de ter levantado o troféu mais cobiçado da modalidade que faz Hansi, como é mais conhecido no meio do futebol, encher o peito. O que realmente o deixa feliz é lembrar como seus companheiros de trabalho reagiram depois da histórica vitória sobre a equipe canarinho.

"Eles foram respeitosos e demonstraram apreço por seus colegas brasileiros, tiveram muita humildade apesar do resultado. Naquele momento, eles realmente viveram todos os valores que todas as seleções da Alemanha pregam", afirmou em entrevista exclusiva ao "Blog do Rafael Reis".

Oito anos depois da partida que ele mesmo define como "uma das maiores da história alemã", Flick está novamente às vésperas de disputar um Mundial pela seleção do país onde nasceu. Só que agora, ele não faz mais parte da linha auxiliar. É protagonista.

Coube ao ex-comandante do Bayern de Munique, clube pelo qual ganhou dois títulos da Bundesliga e venceu a Liga dos Campeões da Europa na temporada 2019/20, a missão de substituir Löw, que deixou o banco de reservas da Alemanha no ano passado após uma década e meia à frente da equipe.

E Flick herdou do seu antigo chefe uma seleção que tem sido colocada em dúvida depois de ter sido eliminada precocemente nas duas últimas grandes competições que disputou Copa-2018 e Euro-2020.

Mas, mesmo com esse histórico recente, o novo treinador da Alemanha tem planos ousados para o Mundial do Qatar: considera que chegar às semifinais é o mínimo aceitável e quer o título.

Durante o bate-papo com o "Blog do Rafael Reis", Flick falou também sobre Manuel Neuer, suas escolhas profissionais, o sucesso dos treinadores alemães no cenário internacional e jogadores brasileiros.

Confira a entrevista com o técnico da Alemanha

BLOG DO RAFAEL REIS - A Alemanha teve resultados abaixo da expectativa na Copa do Mundo-2018, na Eurocopa-2020 e nas duas edições já disputadas da Liga das Nações. É correto afirmar que a seleção germânica chega em baixa ao Qatar-2022?

HANSI FLICK - Nossas últimas atuações foram muito promissoras. Com exceção do Qatar, que já estava automaticamente classificado por ser anfitrião, fomos a primeira seleção a conquistar a classificação para a Copa. Estamos invictos há 13 partidas e, ao longo dessa trajetória, aplicamos uma goleada por 5 a 2 sobre a atual campeã europeia, a Itália. Então, acredito que estamos no caminho certo, ainda que tenhamos muito trabalho pela frente até o Mundial.

Na sua opinião, qual é o principal motivo de Alemanha não ter se dado bem nas últimas competições que disputou? A geração atual não é tão boa quanto a anterior?

Somos privilegiados de contar com muitos jogadores de destaque na nossa equipe. Eles são muito talentosos. Na última Euro, no entanto, acredito que faltou à seleção aquela confiança que é decisiva e que tradicionalmente é uma das nossas forças. Agora, estamos trabalhando para recuperá-la.

Você substituiu Joachim Löw, que ficou no comando da Alemanha por mais de uma década (15 anos, para ser mais preciso). Já é possível dizer que a seleção tem a sua cara? O que ainda falta para isso?

Os jogadores já compreenderam o que a comissão técnica espera deles. E, pelo que vimos nas últimas partidas, já estão conseguindo jogar exatamente da forma que nós e os torcedores queremos. O que precisamos agora é de um pouco mais de consistência.

O 7 a 1 foi um resultado histórico para o Brasil e também para a Alemanha. O que ele trouxe de positivo, mas também de negativo, para a sequência do futebol germânico?

Essa vitória foi uma das maiores partidas da história da seleção alemã. Não apenas por causa da inesperada margem de gols que aplicamos, mas também por conta da forma como nossos jogadores reagiram a ela: eles foram respeitosos e demonstraram apreço por seus colegas brasileiros, tiveram muita humildade apesar do resultado. Naquele momento, eles realmente viveram todos os valores que todas as seleções da Alemanha pregam. Também não podemos nos esquecer que o Brasil não pode escalar sua melhor equipe naquele dia e estava enfraquecido por não poder contar com Thiago Silva e Neymar.

Esta deve ser a última Copa de Manuel Neuer. Qual é a importância que ele ainda possui hoje em dia para o funcionamento da seleção alemã?

Manuel é um goleiro fantástico. Sua performance debaixo das traves é capaz de decidir o resultado de uma partida. Ao mesmo tempo, no seu posto de capitão, ele é de vital importância como líder e modelo no qual os jogadores mais jovens se inspiram.

É bem raro vermos na Europa um técnico deixar um grande clube para dirigir uma seleção. Por que você escolheu comandar a Alemanha depois de sair do Bayern e não ir, por exemplo, para o futebol inglês?

Não existe um emprego maior no futebol mundial do que dirigir uma seleção. É uma grande honra e privilégio para mim. Então, quando me convidaram, nem pensei duas vezes para aceitar.

Os treinadores alemães têm dominado a Liga dos Campeões (venceram três das últimas quatro edições do torneio). Afinal, o que vocês têm de tão especial?

Aqui na Alemanha, temos muito orgulho do nosso excelente sistema educacional para formação de treinadores. Acabamos de mudar nosso curso Pro License de Colômbia para o novo campus da DFB (Federação Alemã de Futebol), em Frankfurt. Esperamos que esse updagre dê um impulso extra para nossos técnicos.

Dado tudo que aconteceu com a Alemanha nos últimos anos, o que pode ser considerado um resultado satisfatório para vocês na Copa-2022?

Não vamos ao Qatar apenas para fazer figuração. Todo nós, jogadores, treinadores e membros da comissão técnica, depositamos a mais alta expectativa em nós mesmos. Nosso diretor-executivo, Oliver Bierhoff, já falou que alcançar as semifinais é nosso objetivo mínimo. Todos aqui trabalham com a ideia de sermos campeões mundiais.

Se você pudesse escolher um jogador do Brasil para defender a seleção alemã, qual seria?

Estou completamente feliz com os jogadores que tenho à disposição. Eles são os que eu quero.

Para completar, quais são, na sua opinião, as seleções favoritas para vencer a Copa do Mundo?

Acredito que não exista uma verdadeira favorita para ficar com o título. O que há sim é um grande número de potenciais candidatas à taça. Faremos tudo que for possível para nos juntarmos a elas.