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Time feminino: técnico do Corinthians fala em renovar e deseja encarar Lyon

Arthur Elias técnico do Corinthians - Bruno Teixeira/Ag. Corinthians
Arthur Elias técnico do Corinthians Imagem: Bruno Teixeira/Ag. Corinthians

19/12/2020 04h00

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O técnico Arthur Elias comanda uma máquina de jogar bola que neste domingo (20) tenta o bicampeonato paulista feminino, depois de bater a Ferroviária por 3 a 1 na primeira partida da decisão.

Ao mesmo tempo em que prepara o Corinthians para o round final do Estadual, em Araraquara, ele discute a renovação de seu contrato com o clube. A tendência é sua permanência.

O treinador também trabalha na montagem do elenco para 2021 em meio a renovações de contratos de jogadoras, assédios de rivais às suas comandadas e interesse em atletas adversárias.

Em entrevista ao blog, ele falou sobre essas situações. Também revelou o desejo de enfrentar o Lyon, da França, considerado por ele e por muita gente o melhor time feminino do mundo.

Arthur fez ainda um desabafo. Reclamou que adversários, torcedores e até familiares de integrantes do time empurram a obrigação de vencer para o alvinegro como se não existissem outros clubes com boa estrutura e investimento na categoria no país.

Porém, ele admite que parte dessa cobrança é fruto das coleções de taças e vitórias ostentadas por seu esquadrão.

O Corinthians é o atual campeão brasileiro e venceu a última Libertadores, disputada em 2019. Em 2020, o alvinegro fez até aqui 31 jogos, saindo vencedor em 26 oportunidades. Foram três empates e apenas duas derrotas. São 93 gols marcados e 18 gols sofridos.

Leia a seguir a entrevista na qual, claro, o treinador fala também do confronto com a Ferroviária, tradicional rival de sua equipe. O time do interior precisa vencer por dois gols de diferença para forçar uma disputa de pênaltis ou ganhar por vantagem maior para ser campeão no tempo normal.

Blog do Perrone - Como está sua situação contratual com o Corinthians?

Arthur Elias - A gente está conversando agora, mas a tendência é dar tudo certo e seguir trabalhando no clube pelo qual tenho muita gratidão, um clube que me dá todas as condições para trabalhar. A tendência é a gente ficar mais um ou dois anos.

Blog - Muitas jogadoras têm contrato para renovar agora também?

Arthur - Sim, tem muitas jogadoras para renovar contrato. A gente ainda tem contrato de curto prazo. É uma situação que o clube está começando a rever. Esse é um momento em que junto com a final do Paulista a gente está discutindo renovações de contrato e contratações para o próximo ano.

Blog - Imagino que será mais difícil manter algumas jogadoras. Os rivais vão querer se reforçar enfraquecendo o Corinthians.

Arthur - Essa estratégia a gente vê que alguns clubes estão usando, mas faz parte do mercado, é do jogo. A gente aqui tem grandes atletas, assim como também têm grandes atletas em outras equipes, e a gente também pode ter interesse em trazer. Isso eu acho que é saudável, positivo para as jogadoras serem cada vez mais valorizadas, elas têm propostas. O que a gente não faz aqui é loucura. A gente vai dando o noso passo conforme a nossa perna, vai evoluindo o nosso projeto, vamos valorizando todas as atletas e profissionais que estão aqui trabalhando. E é esse o nosso pensamento, com algumas contratações, dentro do perfill que a gente procura. Então caso a gente perca jogadoras, o que é natural, pode acontecer, o que eu garanto para o torcedor corintiano é a equipe vai estar muito competitiva no ano que vem, nesse ano especial que é um ano com duas Libertadores (as edições de 2020 e de 2021), Campeonato Brasileiro, Campeonato Paulista, espero estar defendendo o título de todas essas competições e, também, na segunda Libertadores poder buscar, talvez, uma vaga pro primeiro Mundial de Clubes (a realização da competição ainda não está confirmada).

Blog - Muitos torcedores do Corinthians falam que gostariam de ver o clube enfrentando o Lyon, considerado o melhor time feminino do mundo. Você conhece bem o Lyon? Consegue projetar como seria esse confronto?

Arthur - Conheço bastante o time do Lyon, é minha responsabilidade conhecer as principais equipes da Europa, da Ásia, dos Estados Unidos. Sem dúvida é a melhor equipe do mundo, uma seleção mundial. Eu também gostaria muito de jogar contra o Lyon, gostaria de enfrentar todos esses times de camisa, os ingleses, que estão investindo, os da Alemanha são tradicionais, os dos Estados Unidos, que também são muito fortes. Eu gostaria muito. E espero que esse intercâmbio possa acontecer o mais rápido possível através de competições oficiais, como o Mundial, ou até em competições não oficiais, como torneios preparatórios, porque enriquece. Acho que pelo que a gente tem feito, a gente consegue defender bem a camisa do Corinthians, consegue fazer um bom jogo conta qualquer equipe do mundo. O jogo é jogado. Com o Lyon, entendo que seria um jogo em que a gente ficaria menos com a bola do que a gente está acostumado, não que a gente abdicasse de tentar jogar dentro das nossas características. Pode ser que dentro de um jogo de imposição, com o Lyon também conseguindo, em boa parte do jogo, jogar dentro da característica delas... mas a gente tentaria tirar esse conforto, estudando, como a gente faz com.tofos adversários, jogando futebol, com coragem, alegria, organização dentro do campo. Acho que dessa forma, a gente é capaz de enfrentar qualquer um.

Blog - Falando da final do Paulista, Corinthians e Ferroviária são times que se conhecem muito. Até que ponto isso dificulta o seu trabalho e quais as estratégias para driblar o conhecimento que o adversário tem do Corinthians?

Arthur - O fato de as duas equipes se conhecerem bem só ajuda a qualidade do jogo, porque fica um jogo mais estratégico e um jogo em que o nível de concentração e de entrega também tem que ser muito alto para alguém sair vencedor. Então é interessante. O resultado da primeira partida vai, provavelmente, mudar a postura da Ferroviária em relação ao que ela fez no segundo tempo (do primeiro jogo). A gente está preparado para isso. E achamos bom também que o jogo tenha novos desafios. E, obviamente, por ser um jogo decisivo, a preparação do time para esses momentos de final de jogo, momentos que podem ser diferentes, (em termos) táticos e de postura da equipe da Ferroviária, são o foco de preparação nossa.

Blog - De que forma o resultado do primeiro jogo pode mudar o jeito de jogar dos dois times na segunda partida?

Arthur - Da nossa parte não muda. A gente tem uma ideia de jogo bastante definida, independentemente do placar, independentemente de se é fora ou em casa, independentemente do adversário, a gente tenta impor a nossa ideia de jogo, a gente tem sido feliz. Mas, entendemos também que, pelo placar do primeiro jogo, por mais que a gente não mude, a Ferroviária mudando, e a gente vai precisar ver isso no campo, talvez algumas adaptações precisem ser feitas. Espero uma Ferroviária, talvez, marcando mais alto do que fez historicamente contra a gente, e precisando sair um pouco mais, precisando ter um pouco mais de posse de bola, tentar criar um pouco mais de oportunidades para tentar chegar nos gols que ela precisa. Esse tipo de jogo a gente conseguiu algumas vezes fazer em mata-mata. Isso é importante para nós porque eu entendo que, se for um jogo mais franco, vai nos proporcionar um pouco de campo, poder jogar com um pouco mais de velocidade. Da nossa parte não muda, a gente não vai jogar de acordo com o resultado, vamos pensar no resultado só no final da partida e vamos jogar dentro das nossas características porque tivemos uma semana cheia de preparação, o campo é um campo muito bom para se jogar futebol e a equipe se sente confortável buscando a bola o tempo inteiro e tendo o controle do jogo.

Blog - Com um aumento de investimento, é nítido que Palmeiras, São Paulo e Santos querem alcançar e tentar ultrapassar o Corinthians no futebol feminino. Qual é o pulo do gato para o Corinthians se manter no topo?

Arthur - Os rivais aumentarem o investimento é muito bom para o futebol feminino. Os clubes brasileiros investindo mais, criando melhores condições de trabalho, é algo muito bom. O que a gente no Corinthians precisa fazer é dar sequência ao que a gente tem feito. Temos uma boa estrutura que a gente precisa aproveitar. Tem uma sequência de trabalho com atletas e comissão técnica que a gente precisa aproveitar. Não achar que nada disso vai nos dar um ponto a mais do que os outros se a gente não trabalhar, não se dedicar, não se reinventar como a gente se reinventou esse ano. Mudei o sistema tático da equipe. Não mudei as ideias de jogo, mas o sistema foi mudado, isso em relação ao ano passado, que foi um ano fantástico, batemos recorde, ganhamos Libertadores, Paulista. Então, em alguns momentos você precisa se reinventar e evoluir. Eu considero uma equipe de futebol, eu uso muito essa expressão, uma equipe de futebol é igual à Igreja Sagrada Família, em Barcelona, que está sempre em construção. Então, a gente tem muito para evoluir ainda, dentro e fora de campo. Os outros vão fazer mais? Que bom, que façam. E a gente vai fazer mais da nossa parte. O que eu realmente me incomodo, às vezes, é de todos olharem para nossa equipe, e simplesmente acharem que temos estrutura, que temos boas atletas e desconsiderarem que os adversários também têm grandes atletas, também têm uma boa estrutura, um investimento muito parecido com o nosso, e colocar o Corinthians sempre como favorito, principalmente com responsabilidade de vencer. Não temos responsabilidade maior do que os outros. Se a gente está vencendo, é às custas de muito trabalho, de muito planejamento, dedicação porque a gente não é melhor do que ninguém.

Blog - Você acha isso em relação à imprensa? A imprensa acha que o Corinthians tem uma estrutura muito melhor do que a dos outros e a realidade não é bem assim?

Arthur - Que a realidade não é bem assim é certeza. Sei da realidade de investimento dos outros clubes. Muitas jogadoras que estão em outros clubes foram titulares nossas e campeãs. Outras jogadoras nós tentamos trazer, e os clubes, com investimento muito parecido, seguraram. É uma concorrência muito grande no mercado. Existem times que têm estafes maiores do que a gente. Então, a realidade não é assim como ela é passada. Agora, não a imprensa. Às vezes, o pessoal da imprensa também coloca dessa maneira. Mas, como a gente está ganhando muito, chegando muito, isso está enraizado, é familiar, pessoas próximas, as pessoas que a gente encontra, no clube.

Blog - As diretorias dos outros clubes também pensam assim?

Arthur - O que acho engraçado, não digo as diretorias dos outros clubes, mas eu vejo isso no discurso, é que, quando monta o time, todo mundo monta falando que é para ser campeão. Mas aí quando chega na fase de mata-mata e vai nos enfrentar só o Corinthians é favorito. Isso tem acontecido, e eu acho engraçado. Quando monta o time é para ser campeão. Quando está perto de ser campeão passa o favoritismo para o outro lado. A gente vê que tem outras equipes com muito investimento, e eu me surpreendo com esse favoritismo, que a gente conquistou por um lado, mas que também é preciso ter uma dimensão melhor da dificuldade que é fazer isso que a gente está fazendo.

Blog - Eu o interrompi quando você falava da forma como as pessoas mais próximas falam do favoritismo do time.

Arthur - É isso, a gente vê no dia a dia, as pessoas que torcem, familiares, funcionários do clube, mesmo as pessoas que estão muito próximas, elas têm um grau de exigência muito alto com a gente. Isso é fruto do nosso trabalho. Isso é gostoso porque a gente tem essa clareza, que todos esperam muito da gente. A gente pode fazer muito realmente, mas a gente sabe a dificuldade de cada jogo. Se a gente esmorecer, aí não estamos nem preocupados com a decepção dos outros, mas com a decepção nossa. Então, a gente está trabalhando todos os dias com o alerta ligado, tentando ser melhor a cada dia.