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OPINIÃO

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Vinícius Jr é vítima de perseguição racial, mas a La Liga só assiste

Acompanhado de Militão e Rudiger, Vini Jr mostra manifestações racistas nas arquibancadas do Estádio Mestalla, em Valencia - Jose Breton/Pics Action/NurPhoto via Getty Images
Acompanhado de Militão e Rudiger, Vini Jr mostra manifestações racistas nas arquibancadas do Estádio Mestalla, em Valencia Imagem: Jose Breton/Pics Action/NurPhoto via Getty Images

Colunista do UOL

22/05/2023 11h15

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Vinícius Jr é um dos grandes jogadores do momento, candidato a Bola de Ouro nesta temporada, e já demonstrou ser um cara que enfrenta as adversidades de frente, porque lidou com várias delas desde criança.

Nasceu pobre, preto, no morro. Na mente doentia da maioria dos torcedores espanhóis, ele não tem o direito de ser gente, de vencer, de sorrir, de ajudar a sua família, de ser feliz, de ter talento. Eles só dão o direito de ser um escravo da ignorância e da pobreza de espírito dessa gente.

O racismo que o Vinícius Jr vem sofrendo há tempos na Espanha é assustador. Como a La Liga não fez nada para coibi-lo, foi crescendo até chegar aos dias de hoje, ficando claro que é uma perseguição pessoal. Alaba, Rudiger e Eder Militão também são pretos. Mas não são perseguidos.

Vini não está mais suportando ser agredido covardemente sempre que entra em campo para fazer o seu trabalho. O Real Madrid precisa ser radical porque é o único que pode fazer algo de verdade. O que seria do Campeonato Espanhol sem o Real Madrid?

Para o presidente da La Liga, Javier Tebas, a Espanha não é racista. Ele deve ser um daqueles que acredita que existe o "universo do futebol", e o que acontece nas portas ou dentro dos estádios não reflete o pensamento de uma sociedade.

Um racista será racista em qualquer lugar.

O racismo não aparece só nos gritos de uma torcida, mas nos olhares nas ruas, na desconfiança nas lojas, nas risadas nas escolas, ao evitar sentar ao lado de uma pessoa preta no ônibus ou no metrô... o racismo é escancarado de diversas formas.

Javier Tabes responde para o Vinícius Jr nas suas redes sociais, mas não abre a boca para condenar ou para dizer que atitude irá tomar contra essa perseguição perversa que o brasileiro sofre desde quando começou a destacar no Real Madrid, na Europa e no mundo.

Para os torcedores espanhóis, um homem preto, brasileiro, não tem o direito de fazer o gol do título de uma Champions League.

Ficou claro para mim que quanto mais sucesso o Vini Jr foi alcançando, mais o ódio dessa gente foi aumentando, até chegar a uma proporção que começou a incomodar as autoridades brasileiras, mas não as espanholas.

Aliás, esse caso deveria estar incomodando as autoridades europeias. O caso Vinícius Jr pode ser um marco no combate contra o racismo ou pode também reiniciar um forte e violento movimento de perseguição aos negros na Europa.

Ele deveria sair do Real Madrid e da Espanha, e ir para algum outro país em que ele fosse acolhido, respeitado e reconhecido pelo jogador, mas principalmente, pelo ser humano que é.

Na realidade, ninguém fez nada efetivo até agora. Passou do tempo de os jogadores do Real Madrid saírem de campo em solidariedade ao Vini. Já teve até um boneco enforcado representando o jogador brasileiro e ninguém se indignou com isso.

Faltam três rodadas para terminar a La Liga e o Real Madrid deveria se recusar a jogar, em represália pela conivência e inércia do presidente Javier Tabes.