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OPINIÃO

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Discurso murcho de Bolsonaro só não foi pior porque ele falou pouco

Jair Bolsonaro faz primeiro pronunciamento após eleição - Reprodução
Jair Bolsonaro faz primeiro pronunciamento após eleição Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

02/11/2022 04h00

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Não me surpreendi em nada com o discurso do "ex"-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ele mentiu quando disse que sempre jogou dentro das quatro linhas da Constituição — o que, na verdade, nunca fez.

Mentiu também quando disse que nunca tentou retaliar a imprensa, porque fez isso o tempo todo, só dando entrevistas para os "seus" veículos de comunicação.

Foi covarde quando não reconheceu a vitória do presidente Lula (PT) nas urnas. Sim, foi com pouca diferença, mas Lula venceu honesta e democraticamente.

E Jair Bolsonaro não teve a humildade de parabenizar o novo presidente. Até o último ditador do Brasil, general João Figueiredo, ligou para Tancredo Neves para parabenizá-lo pela vitória nas eleições presidenciais indiretas, em 1985.

Fez um mini discurso de ódio contra a esquerda, sendo que quem está paralisando rodovias com manifestações antidemocráticas são os seus apoiadores, os bolsonaristas. E aí justificou as manifestações como uma reação ao sentimento de injustiça sobre o processo eleitoral.

Ele defendeu o direito de ir e vir dois dias depois de ter perdido a eleição e o caos se instalar nas estradas. Para mim, ficou claro que ele só falou porque não tinha o que fazer. Mas demorou dois dias para ensaiar um discurso de dois minutos?

Bolsonaro também foi covarde ao não falar nada sobre a transição, deixando Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil, para fazer isso. Nogueira, sim, reconheceu a vitória e citou Lula como presidente.

A fala de Bolsonaro só não foi tão ruim porque ele falou pouco. E não merece elogio algum, porque ficou assistindo de camarote a todo caos que vem acontecendo desde segunda-feira.

Não entendo quem passa pano para um cara que destruiu o país só por ter feito um discurso em que deu a entender que aceitou a derrota. Foi uma aceitação forçada, contrariada. Não foi um discurso natural.

O importante é que ele foi derrotado. Se ele parabenizar ou não o Lula, tanto faz. Sairá do mesmo jeito, e o Brasil será infinitamente melhor.

O mundo já reconhece Lula como o novo presidente do Brasil, e pouco importa se Bolsonaro reconhecer ou não. O importante é que o Brasil voltou a ser um país aceito e simpático para o cenário mundial.

Todos os grandes líderes mundiais já parabenizaram o presidente eleito, e alguns até já telefonaram, como o americano Joe Biden e o francês Emmanuel Macron.

Lula também já foi convidado pelo presidente do Egito, Abdel-Fatah al-Sissi, para participar da Cúpula das Nações Unidas para o Clima (COP27), que começa no dia 6 de novembro, no Cairo. No ano passado, Bolsonaro não foi para a COP26, só mandou um vídeo de três minutos.

Já estamos começando a olhar para o nosso futuro, apesar de ter que suportar esse "ser" até o dia 31 de dezembro. E será ainda mais vergonhoso se ele não transmitir a faixa presidencial, em 1º de janeiro de 2023.

O presidente Lula terá muito trabalho, mas ficará para a história novamente. Dessa vez, será por recuperar os valores e os princípios da nossa sociedade.

Acredito e espero que, a partir do ano que vem, todas as investigações contra o clã Bolsonaro comecem a andar de verdade, porque eles têm muita coisa para explicar.

Não pode ficar ninguém de fora. Todos os possíveis crimes cometidos nesses quatro anos precisam ser investigados e, então, punidos.

Mas voltando a falar do momento atual: talvez Bolsonaro esperasse que algumas instituições abraçassem os gritos golpistas para uma intervenção militar. Mas, obviamente, ninguém aderiu a esse louco pensamento.

Ele ficou completamente isolado, e não teve outra coisa a fazer a não ser aparecer e falar. A única coisa que gostei da sua fala é que ela foi murcha, sem braveza, sem grosseria.

Bolsonaro terminou o mini discurso como o covarde que é, sem deixar que os jornalistas fizessem perguntas. Mas ele não teria como explicar e nem como responder a pergunta que todos fariam: "Presidente, o senhor vai ligar para parabenizar o presidente Lula?".

Então preferiu fugir.