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Único tetra legítimo, Paulistano esquece feito perseguido pelo Santos

Carlos Botelho do Amaral (Guariba), Mário Andrada e Silva, Arthur Friedenreich, Carlos Araújo (Zito),  Cassiano da Silva Passos: campeoníssimos pelo Paulistano - Centro Pró-Memória do Paulistano
Carlos Botelho do Amaral (Guariba), Mário Andrada e Silva, Arthur Friedenreich, Carlos Araújo (Zito), Cassiano da Silva Passos: campeoníssimos pelo Paulistano Imagem: Centro Pró-Memória do Paulistano

Luis Augusto Simon

Do UOL, em São Paulo

11/05/2013 06h00

Cartolas e torcedores dos grandes de São Paulo têm por hábito exaltar cada taça que seus rivais não possuem. Mas o tetracampeonato estadual, mais rara conquista no Campeonato Paulista, é até agora exclusividade de um clube que abandonou o futebol há décadas, quer distância de qualquer aglomeração característica dos estádios e cujos associados dão de ombros ao feito que nem o Santos de Pelé foi capaz de alcançar.

“Eles (sócios) não têm a dimensão da magnitude que foram esses títulos. A imprensa tem procurado muito mais as nossas taças e fotos do que os sócios do clube. Ficou tudo muito esquecido. É uma pena”, afirma a  historiadora Ana Paula Fernandes, 24 anos, responsável pelo museu do Paulistano, campeão paulista de 1916 a 1919. 

A exclusividade pode cair este ano, caso o Santos, agora liderado por Neymar, vença o Corinthians na decisão. O primeiro jogo da final está marcado este este domingo, às 16h (horário de Brasília), no Pacaembu.

O Paulistano venceu 48 das 62 partidas que disputou naqueles quatro anos, com seis empates e oito derrotas. Um aproveitamento de 82,26% (à época, vitória valia dois pontos). Um time que marcou 211 gols e sofreu 67.

Poderia ser chamado de o time de Arthur Friedenreich – o maior jogador brasileiro do início do século passado – mas era mais do que isso. Mesmo porque o grande jogador somente se incorporou ao esquadrão em 1918, quando foi artilheiro com 25 gols.

“O Paulistano foi o grande campeão em uma época em que o futebol se fortalece como o esporte mais popular do país, basta lembrar que há relatos de 40 mil pessoas assistindo aos jogos decisivos em 1919 e que aparecem as primeiras grandes rivalidades com o Trio de Ferro – Paulistano, Palestra Itália, hoje Palmeiras, e Corinthians – e que o futebol paulista é reconhecidamente o mais forte do Brasil”, diz o jornalista Luiz Carlos Duarte, autor do livro “Friedenreich, a saga de um craque nos primeiro tempos do futebol brasileiro”.

Em 1916, o vice campeão foi o São Bento. Em 1917, o Palestra Itália. Em 1918, o vice-campeão foi o Corinthians, em uma competição marcada por uma tragédia e a primeira grande polêmica envolvendo grandes times de São Paulo.

Houve a epidemia de gripe espanhola que, segundo dados oficiais, matou 2756 pessoas em São Paulo. Por isso, alguns jogos – que não influenciavam na classificação final – foram cancelados. E o Palestra reclamou muito após uma derrota por 3 a 1 para o Paulistano. Seus dirigentes argumentaram que o árbitro não marcou três pênaltis contra o rival e que seus jogadores eram vítimas de ofensas raciais por parte dos adversários, que os chamavam de “carcamanos e italianada”. Abandonaram o campo e o campeonato.

Em 1919, o campeonato, emocionante, foi decidido na última rodada. O Palestra dominou a competição desde o início. No primeiro turno, empatou apenas um jogo, contra o Paulistano. No segundo, perdeu para o Ypiranga por 6 a 1, em jogo que seus jogadores ficaram muito abalados com uma contusão grave do jogador Bertolini, que deixou o campo ensangüentado, diretamente para o hospital. Não havia substituição.

O Paulistano foi reagindo e aproveitou-se de uma derrota do Palestra para o Corinthians e chegou na penúltima rodada com chances de ser campeão. Venceu o Palestra por 2 a 1, de virada, e assumiu a liderança. Na última rodada, o Paulistano venceu o Corinthians por 4 a 1 com dois gols de Friedenreich, um de Zito e outro de Agnelo.

No Paulistano, Friedenreich teve um grande parceiro: o atacante Mario Andrada, artilheiro do campeonato de 1919, com 22 gols. O jornalista Max Valentim, no livro “O Futebol e Sua Técnica", o definia como um dos grandes dribladores da época, ao lado de Neco, do Corinthians.

Mario Andrada nunca foi da seleção brasileira. O Paulistano tinha dois titulares no time de 1919, que conquistou o Campeonato Sul-americano, primeiro título internacional do Brasil: o médio Sérgio Pires e Friedenreich.

As escalações do Paulistano são ditas com uma facilidade incrível por Ana Paula Fernandes. Ela mostra fotos e recita nomes como se tivesse vivido as grandes glórias do clube. “Não conheço muito sobre futebol mas me dediquei muito a esse trabalho aqui. Vejo uma foto, comparo com outra de anos depois e vejo se é o mesmo jogador. É preciso ter muito cuidado para fazer as legendas corretamente. Sou são-paulina, não sei a escalação do São Paulo de hoje, mas do Paulistano eu sei muita coisa”, afirma ela sobre o clube que, hoje, é um símbolo da elite da cidade.

EQUIPE CAMPEÃ EM 1916

  • Em pé: 1º Orlando Pereira, 2º Cunha Bueno, 3º Manoel Carlos Aranha (Carlito). Agachados: 1º Sérgio Pereira, 2º Rubens de Moraes Salles, 3º Benedito Ferreira (Basilicão). Sentados: 1º Agnello Bastos, 2º Mário Andrada e Silva, 3º Mariano Procópio, 4º Madureira , 5º Maurício Villela