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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Jogam na terça: 5 histórias desconhecidas do Corinthians x Boca de 2012

Corinthians e Boca Juniors na final da Libertadores em 2012 (Foto: Divulgação/TV Globo) - Reprodução / Internet
Corinthians e Boca Juniors na final da Libertadores em 2012 (Foto: Divulgação/TV Globo) Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

24/04/2022 04h00

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Corinthians e Boca Juniors fazem na terça-feira (26) o principal confronto da fase de grupos da Libertadores da América de 2022. Clubes de vasta torcida no mundo todo, os dois gigantes se encontram na Neo Química Arena, às 21h30 (de Brasília), carregando histórias apimentadas em confrontos diretos.

Para o Corinthians, o ápice na Libertadores foi alcançado justamente diante do Boca na épica noite de 4 de julho de 2012 no Pacaembu. O título invicto, a volta olímpica diante do "bando de loucos" e os gols de Emerson Sheik continuam vivos na memória do brasileiro que acompanha futebol.

Mergulhada na rotina argentina (e nos arquivos dos jornais "Olé", "Clarín" e "La Nación"), a coluna resgata cinco histórias que atravessam o tempo no país vizinho. Para corintianos especialmente mais novos, alguns causos são até mesmo desconhecidos. Confira:

Bomba-relógio

Noite de terça-feira, véspera da decisão. O Boca do técnico Julio César Falcioni e do meia Juan Román Riquelme fazia o reconhecimento do gramado do Pacaembu. Durante o treino da equipe argentina, torcedores que estavam do lado de fora do estádio jogaram rojões em direção às arquibancadas. Foram quatro bombas arremessadas para dentro do estádio, sendo que duas caíram nas arquibancadas vermelhas, sem danificar os assentos.

O episódio não atrapalhou o treino xeneize. Alguns jogadores apenas olharam para o local após ouvirem o barulho, continuando suas atividades. Os principais jornais argentinos aproveitaram a ocasião para carregar nas tintas e anunciar "um clima de guerra" para a decisão, dizendo que o Pacaembu era uma "bomba-relógio prestes a explodir".

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Juan Roman Riquelme em ação com a camisa do Boca Juniors
Imagem: Gabriel Rossi/LatinContent via Getty Images

Riquelme culpado

Em pleno 2022, muitos torcedores do Boca ainda põem a culpa daquela derrota em Riquelme.

A história é bastante conhecida na Argentina: no almoço de quarta-feira, horas antes do Corinthians x Boca, Riquelme, brigado com o técnico Julio César Falcioni, comunicou aos colegas que deixaria o clube depois da final. Em 2013, já com Carlos Bianchi no comando, ele voltou à equipe.

Choro de perdedor? "[O anúncio de Román] Influenciou demais", disse o zagueiro Rolando Schiavi ao TyC Sports, canal da TV argentina, em 2020. "Muitos jovens se abalaram, muitos eram amigos. Não foi fácil se concentrar."

Outro a detonar Román foi o uruguaio Santiago Silva, atacante daquele Boca. "Foi uma loucura, isso não se faz", afirmou à Rádio La Red também em 2020.

"[Riquelme] Não tinha que dizer nada. Se vai falar alguma coisa, que fale depois, ganhando ou perdendo. Não foi positivo para ninguém no Boca. A mim não me impactou. Numa final, o ambiente precisa ser positivo."

"Um jogador de futebol se prepara para a final com cara de bunda [equivalente ao original em castelhano "cara de perro", "cara de cachorro"]. Román? Um jogador excepcional em campo, mas fora dele não encontrei nada assim."

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Ralf em ação na partida entre Corinthians e Boca Juniors, na final da Libertadores 2012
Imagem: Robson Ventura/Folhapress

Guerra e paz

Um retrato fixo daquela final para os argentinos foi o desempenho de Ralf e Paulinho, a dupla de volantes do Corinthians. Os argentinos têm certa obsessão pelos volantes. "É a sala de máquinas", costumam dizer, para ilustrar que o funcionamento dos times depende demais dos jogadores que antigamente carregavam as camisas 5 e 8.

"Ralf e Paulinho parecem que estão numa guerra; já Ledesma, Somoza e Erviti [os volantes do Boca], que estão passeando no parque", falou Mariano Closs, principal locutor da Argentina, na FOX Sports.

O "Clarín" do dia seguinte reforçou esta visão: "Uma pobre noite para o histórico espírito combativo argentino".

Tanque em fúria

No melhor estilo "Jonathan Calleri versus Palmeiras", o atacante do Boca Santiago Silva roubou uma câmera fotográfica de um jornalista na entrada do vestiário do Pacaembu ao perder a final.

Ao passar pelo corredor que liga o campo ao vestiário, o jogador esticou o braço e pegou uma câmera. Uma parede separava o jogador do repórter, impossibilitando o jornalista de se aproximar de Silva.

Imediatamente, o jornalista pediu o objeto de volta, mas não foi atendido pelo atleta do clube argentino. "Dá aí!!!", esbravejou o jornalista. "Ladrão, né?".

Posteriormente, a diretoria do Boca foi notificada, e a câmera foi devolvida para o profissional de imprensa.

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Diego Armando Maradona, torcedor-símbolo do Boca Juniors
Imagem: JAVIER SORIANO / AFP

A bênção de 'Dios'

Torcedor-símbolo do Boca Juniors, Diego Armando Maradona esteve em seu famoso camarote na Bombonera na primeira partida da final. Na segunda, no Pacaembu, sofreu com o Corinthians pela TV, fazendo muitos elogios ao time de Tite nos dias seguintes.

Bem humorado, Diego disse à Rádio Metro, da Argentina, que Ralf e Paulinho eram dois "orangotangos" em campo, impedindo qualquer avanço dos jogadores do Boca.

"É uma equipe totalmente atípica das demais brasileiras. Ele se parece muito mais como um time italiano do que de seu país. Uma equipe muito organizada, que sai em contragolpe, preenche os espaços e que tem dois orangotangos no meio de campo. Eles chegam a todas as bolas. O Corinthians tem também um goleiro que abre os braços e alcança as duas traves", comentou Maradona.

Tite concordou com a análise feita por Maradona sobre o "Corinthians italiano". O treinador ressaltou que todos os 11 titulares tinham dever de marcar intensamente e que jamais a equipe partia para o ataque de maneira desordenada.

"O Maradona observou bem", resumiu Tite, devolvendo o afago.