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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Aplaudido até por Maradona, Rincón brilhou na maior vitória da Colômbia

Freddy Rincón deixa a Argentina no chão pelas Eliminatórias em 1993 - Reprodução web
Freddy Rincón deixa a Argentina no chão pelas Eliminatórias em 1993 Imagem: Reprodução web

Colunista do UOL

14/04/2022 13h05

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Ídolo histórico do Corinthians e ex-jogador da seleção colombiana, Freddy Rincón morreu hoje em decorrência dos ferimentos sofridos em um acidente de carro na madrugada de segunda-feira. Aos 55 anos, o ex-meio-campista estava internado desde a manhã do mesmo dia devido a um traumatismo craniano, chegou a ser operado, mas não resistiu à gravidade dos ferimentos.

Rincón foi um dos maiores nomes da história da seleção da Colômbia, disputando três Copas do Mundo (1990, 1994 e 1998) e comandando a equipe em seu maior feito, o histórico 5 a 0 imposto à seleção argentina em pleno Monumental de Núñez.

A coluna resgata histórias daquela tarde inesquecível para toda uma geração.

Tensão e presságio

O jogo ocorreu em um domingo, 5 de setembro de 1993. A poucos minutos do apito inicial, o piloto de um Boeing MD-83 das Aerolíneas Argentinas teve uma "brilhante" ideia: a fim de entreter seus passageiros, desviou-se de sua rota e realizou um maluco rasante sobre o estádio do River Plate. "O avião deu uma barrigada, depois acelerou os motores e voltou a subir", relatou um espectador.

"Todos ficamos boquiabertos. Imagino o cagaço de quem estava na tribuna San Martin Alta ao ver aquele avião vindo para cima. Passou muito perto."

Os 70.000 torcedores que já enchiam o Monumental escaparam por pouco de uma desastrosa colisão. A seleção não teve a mesma sorte.

Em uma vitória de proporções épicas, a Colômbia atropelou sem piedade uma débil e indefesa Argentina que surpreendeu com a pobreza de seu futebol mesmo com jogadores experientes e de vitoriosas carreiras como Goycochea, Ruggeri, Simeone, Redondo e Batistuta.

A picardia colombiana de Faustino Asprilla, a cadência de Carlos Valderrama, a potência de Rincón, o "olé" do público contra a própria equipe e as loucas vaias ao final do jogo seguem muito lembradas em Buenos Aires.

O primeiro gol foi exatamente de Rincón, aos 41 minutos do primeiro tempo. Asprilla (dois) e Valencia também anotaram os seus. Em uma atuação histórica, mesclando entrega, força, rapidez e enorme categoria, Rincón anotou mais um, aos 27 minutos do segundo tempo. Passou por cima de um volante igualmente famoso como o argentino Fernando Redondo, então a caminho do Real Madrid.

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Histórica capa da revista "El Gráfico" protesta a vergonha argentina em 1993
Imagem: Reprodução

Patrimônio cultural

Mais do que uma goleada, o 5 a 0 virou uma humilhação nacional argentina.

A façanha colombiana, levada a cabo no palco da maior conquista esportiva da história argentina, sobreviveria e muito aos 90 minutos regulamentares.

"VERGONHA!", estampou a revista El Gráfico naquela que talvez tenha sido a capa mais famosa de sua quase centenária trajetória. Sobre um fundo preto, a indignada exclamação era seguida por algumas afirmações e interrogações.

Com Maradona em campo (estava na tribuna do Monumental na goleada colombiana, aplaudindo o "baile" de Rincón e Valderrama), os argentinos arrancaram um empate na partida de ida da repescagem intercontinental contra os australianos, 1 a 1, em 31 de outubro, em Sydney.

Duas semanas depois, no duelo de Buenos Aires, o craque foi a referência de tranquilidade no jogo mais nervoso da seleção em décadas. O gol da classificação veio chorado, aos 15 minutos do segundo tempo, em um cruzamento de Batistuta que desviou no marcador, ganhou altura e fez uma parábola para encobrir o goleiro Zabica. A Argentina e Maradona estavam na Copa de 1994.

A Colômbia e Rincón também. Foram eliminados na primeira fase em um grupo com Suíça, Estados Unidos e Romênia. A Argentina, já sem Maradona, suspenso por doping, caiu nas oitavas justamente ante a Romênia.