Bombas e garrafadas preocupam argentinos às vésperas da Libertadores

Disputada no sábado (19) e domingo (20), a rodada dos clássicos do futebol argentino fez o país abrir a semana renovando uma antiga preocupação dos clubes com as suas torcidas.

Mesmo o estádio que se gaba de ser o mais seguro teve uma jornada das mais complicadas: estamos falando do Monumental de Núñez. O templo do futebol sul-americano e mundial prometia uma noite especial, mas a derrota do River Plate para o Boca Juniors por 1 a 0 teve como desfecho muitas garrafas atiradas em direção aos jogadores xeneizes que comemoravam a vitória — alguns deles, como o lateral Advíncula e o atacante Benedetto, provocaram os fanáticos, que responderam com as garrafadas.

Esteve longe de ser o único episódio tenso do domingo na aristocrática zona norte de Buenos Aires. Nas imediações do Monumental, a torcida invadiu o estádio, quebrou as catracas e até os aparatos que deveriam servir de proteção ao estádio. Foram colocados à venda 72.000 ingressos, mas as imagens sugeriam que o espaço superlotado continha certamente mais de 80.000 pessoas.

Dentro das tribunas abarrotadas, houve também uma insana "guerra de sinalizadores" entre grupos dissidentes dos "barra bravas", como são chamados os torcedores organizados e violentos do River. Houve um óbvio risco aos torcedores comuns, que ficaram expostos a uma tragédia semelhante à da torcida do Corinthians em Oruro (Bolívia) em 2013.

Procurada pela coluna, a diretoria do River disse que analisa suas filmagens para identificar os responsáveis pelas garrafadas, invasões e pelo porte de objetos perigosos dentro do Monumental. A pena será de um ano sem poder entrar no estádio. A Polícia Federal da Argentina também fez apreensões no estádio na tarde de ontem (21), e há a séria possibilidade de o clube ser punido com a perda de mando no Campeonato Argentino (nesta atual versão da Copa da Liga Profissional).

Outra torcida que também gerou temor em seu estádio foi a do Rosario Central. A entrada do time no Gigante de Arroyito contou com a tradicional chuva de petardos, e alguns deles foram arremessados em direção ao campo, estragando o gramado. O Central foi advertido pela AFA, mas a coluna apurou que multa ou punição só vão ocorrer em caso de reincidência.

Loucura e prejuízo

Entre as muitas músicas empurrando o River e xingando o Boca no último domingo, um novo "cântico", dedicado aos brasileiros na Libertadores ("Quiero la Libertadores / Y un brazuca ganar"), deu o tom que predomina na Argentina às vésperas do início do torneio continental.

Para muitos em Buenos Aires, a atual soberania brasileira na Libertadores, com duas finais 100% seguidas, se deve muito à impossibilidade de público nos estádios argentinos.

O problema é que agora, com as arquibancadas lotadas, os clubes correm risco constante de multas ou de portões fechados justamente pelo comportamento inadaptado dos fanáticos.

O raciocínio do fervor argentino impactar diretamente em campo foi reforçado pelo técnico do Atlético-MG, Antonio "Turco" Mohamed: "No ano passado, Boca e River não tiveram público no estádio, esse 'plus' não houve na Libertadores passada. Agora será muito mais equilibrado".

De fato, as três últimas Libertadores com público tiveram Argentina na final — em 2017, com o Lanús; em 2018, com River e Boca, e em 2019, de novo com o River, que eliminou o Boca justamente na semifinal. Sem a presença dos torcedores, o país não passou da semifinal (ou nem isso, no caso de 2021).

Quem acompanha a Libertadores de perto sabe que a diferença de atmosfera dos estádios argentinos para os demais países é marcante. Os representantes do país na atual edição são seis: River Plate, Boca Juniors, Vélez Sarsfield, Talleres, Colón e Estudiantes de La Plata. O sorteio dos grupos será nesta sexta (25), e a primeira rodada está prevista para 5 de abril.