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Tales Torraga

OPINIÃO

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Monumental de Núñez 'pulsa' e manda recado aos brasileiros na Libertadores

Torcida do River Plate superlota o Monumental de Núñez - Reprodução TyC Sports
Torcida do River Plate superlota o Monumental de Núñez Imagem: Reprodução TyC Sports

Colunista do UOL

01/03/2022 04h00

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Quem esteve domingo (27) no Monumental de Núñez se assustou. O River Plate recebeu o Racing pela quarta rodada do Campeonato Argentino (versão Copa da Liga Profissional) em um estádio que parecia saído de um teipe dos anos 1970. O clube informou que o público pagante foi de 70.074 pessoas, mas as imagens que circulam desde a tarde de domingo sugerem um total acima de 80.000 torcedores, com muita gente empilhada nas escadas, marquises e grades.

A histeria coletiva parecia encaminhar o River a mais uma goleada sobre o Racing. O time de Marcelo Gallardo terminou o primeiro tempo com 2 a 0, mas o rival comandado por Fernando Gago teve, na segunda metade, sua melhor atuação dos últimos tempos, buscando o 2 a 2 em um jogaço com um pouco de tudo — inclusive muita confusão nas arquibancadas.

Loucura paralisa clássico

A superlotação do Monumental de Núñez era tamanha que o jogo foi interrompido no fim do primeiro tempo para acalmar a troca de socos e pontapés. Havia também enorme risco pelos torcedores que escalaram os alambrados e armaram uma briga generalizada na Sívori Alta, setor dos "barras bravas", os torcedores organizados (e violentos) que caracterizam o futebol argentino tanto quanto a paixão do "público comum".

Entre as muitas músicas empurrando o River e xingando o Boca, um novo "cântico", dedicado aos brasileiros na Libertadores ("Quiero la Libertadores / Y un brazuca ganar"), deu o tom que predomina na Argentina às vésperas do início do torneio continental: o aproveitamento campeão dos times brasileiros nos últimos dois anos, com duas finais 100% seguidas, se deve muito à impossibilidade de público nos estádios argentinos.

Tal raciocínio foi seguido pelo técnico do Atlético-MG, Antonio "Turco" Mohamed: "No ano passado, Boca e River não tiveram público no estádio, esse 'plus' não houve na Libertadores passada. Agora será muito mais equilibrado".

De fato, as três últimas Libertadores com público tiveram Argentina na final — em 2017, com o Lanús; em 2018, com River e Boca, e em 2019, de novo com o River, que eliminou o Boca justamente na semifinal. Sem a presença dos torcedores, o país não passou da semifinal (ou nem isso, no caso de 2021).

Quem acompanha a Libertadores de perto sabe que a diferença de atmosfera dos estádios argentinos para os demais países é marcante. Os representantes do país na atual edição são seis: River Plate, Boca Juniors, Vélez Sarsfield, Talleres, Colón e Estudiantes de La Plata, que nesta quarta (2) começa a provar a força da sua localidade justamente para garantir passagem ante o Audax Italiano, do Chile. Na ida, fora de casa, o Estudiantes do goleador Boselli perdeu por 1 a 0 na semana passada.

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Marcelo Gallardo cumprimenta o filho no superlotado Monumental de Núñez
Imagem: Divulgação River Plate

Desinflado

Uma das muitas teses que circularam nos debates portenhos pós-empate do River com o Racing foi justamente esta noção de loucura coletiva que estressou e fez os jogadores de Gallardo realmente abrirem o bico.

O raciocínio tem um certo sentido, embora seja impossível tirar o mérito do Racing de Gago, que leu certo a partida e explorou a deficiência crônica do River nos cruzamentos na área.

Outra má notícia para o gigante de Núñez foi a contusão muscular do capitão Enzo Pérez, que agora se esforça para voltar no superclássico contra o Boca, no dia 20. O River ainda não encaixou bem os reforços e sofre para lidar com a intensidade excessiva que seu estilo de jogo ultra-agressivo impõe ao próprio time. As lesões são uma indesejada parceira para a equipe que gera ótimas opções no ataque, é verdade, mas ainda deixa muito a desejar na defesa.

As oitavas de final da Libertadores serão no fim de junho. Muitos preveem que a reconhecida capacidade de Gallardo será suficiente para corrigir tudo até lá. O difícil é imaginar o quão loucos estarão os torcedores — se o fervor em fevereiro, em um jogo local, no começo do campeonato, já foi tamanho.