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Britânicos banem russos e ateiam 'fogo no parquinho' do mundo do tênis

Reuters
Imagem: Reuters

Colunista do UOL

21/04/2022 04h00

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A Lawn Tennis Association (LTA) anunciou, nesta quarta-feira, em conjunto com o All England Club, que organiza Wimbledon, a decisão de banir todos tenistas russos e bielorrussos de seus eventos. Isso inclui não só o slam da grama, mas todos ATPs e WTAs e inclusive torneios juvenis promovidos pela entidade.

Isso significa a exclusão de muitos nomes de peso da atualidade, como o número 2 do mundo, Daniil Medvedev, além da ex-número 1 do mundo Victoria Azarenka, a atual #4, Aryna Sabalenka, Andrey Rublev (#8), Anastasia Pavlyuchenkova (#15), Karen Khachanov (#26), Daria Kasatkina (#26), Aslan Karatsev (#30) e mais algumas dezenas de atletas não tão badalados.

O comunicado (leia a íntegra abaixo, em inglês) afirma que a LTA, assim como outras áreas do esporte e da vida pública, precisa mandar um recado claro contra as ações de Rússia e Belarus em solo ucraniano, e que a participação de atletas desses países em seus torneios é um incentivo a regimes como os de Putin e Lukashenko.

A LTA admite que há jogadores russos e bielorrussos que não concordam com as ações de seus governos, mas ressalta que no momento é preciso fazer tudo para apoiar a Ucrânia no momento e que banir esses atletas de seus torneios é uma medida com apoio da população britânica.

A intenção é nobre, mas a federação britânica deu um passo a mais do que o desejado no mundo do tênis. A Federação Internacional de Tênis, a ATP e a WTA já haviam banido Rússia e Belarus de eventos entre países como a Copa Davis e a Billie Jean King Cup. Hoje, as bandeiras dos países não são exibidas em seus sites nem nas transmissões de TV. No entanto, nunca houve a intenção de proibir atletas de exercer seu ofício, e é aí que o clima esquenta no tênis.

Pouco depois do anúncio da LTA, a ATP, que rege o circuito masculino, manifestou-re fortemente contra, classificando a medida "unilateral" da cartolagem britânica como "injusta e com o potencial de estabelecer um precedente danoso ao esporte. Discriminação baseada em nacionalidade também constitui uma violação de nosso acordo com Wimbledon". A entidade diz ainda que suas próximas ações seriam consideradas por sua diretoria e seus conselhos (de jogadores e torneios).

A WTA, que rege o circuito feminino, também entrou de sola contra a LTA, declarando, entre outras coisas, que "discriminação, e a decisão de focar tal discriminação contra atletas competindo individualmente não é justa nem justificável." Assim como a ATP, a WTA ressalta que "proibições contra discriminação também estão claramente expressas nas regras dos grand slams" e que a entidade avaliará seus próximos passos.

E se não ficou claro o bastante, eu traduzo: em comuniquês (aquela linguagem usada em comunicação corporativa), "avaliar os próximos passos" quase sempre significa "isso não vai ficar assim". E isso, caros leitores, é o maior indício de que os próximos dias e semanas serão um tanto calientes no mundo do tênis.

Quem ainda não se manifestou foi a PTPA, entidade de jogadores encabeçada por Novak Djokovic. O número 1 do mundo, porém, foi inequívoco ao se posicionar contra a LTA: "Serei sempre o primeiro a condenar uma guerra. Nós, na Sérvia, sabemos o que estava acontecendo aqui em 1999", disse em Belgrado, logo após vencer sua estreia no ATP 250 local. "Pessoas comuns sempre sofrem - tivemos muitas guerras nos Bálcãs. Dito isso, não posso apoiar a decisão de Wimbledon. É loucura. Não é culpa dos atletas. Quando a política interfere no esporte, normalmente não acaba bem", continuou.

Nole disse ainda que "para a Ucrânia, seria melhor se Wimbledon doasse todo seu lucro como apoio em vez de banir russos e bielorrussos. Apoio totalmente a Ucrânia e seu povo. Apenas sinto que Wimbledon está fazendo isso mais para seu próprio ganho e por sua imagem do que para ajudar de verdade" (aqui vale considerar que Djokovic talvez não soubesse no momento da entrevista que a decisão não é apenas de Wimbledon, mas também da LTA e que abrange muitos outros torneios).

Coisas que eu acho que acho:

- Seria bastante interessante se Djokovic e seus colegas da PTPA ameaçarem um boicote a Wimbledon. Oferecer-se para não disputar um slam em nome de seus colegas injustiçados seria uma ótima chance para o número 1 mostrar que não é sempre egoísta como foi nos episódios do Australian Open e de Indian Wells.

- Nem todo mundo está contra a WTA. Atletas ucranianos como Elina Svitolina, Marta Kostyuk e Sergiy Stakhovsky apoiaram a medida. O trio afirma que alguns tenistas russos e bielorrussos foram vagos ao mencionar a guerra e nunca expressaram sua opinião de verdade. Para eles, "silêncio é traição", e a exclusão destes dos torneios parece justa.

- ATP e WTA podem tirar torneios britânicos de seu calendário? Podem retirar os pontos dos torneios? Estamos entrando em território desconhecido, sem precedentes, e não dá para descartar nenhuma possibilidade por enquanto. A única certeza é que vai haver muita ação nos bastidores e, qualquer que seja o resultado final disso tudo, ele vai deixar cicatrizes.

- Som de hoje no meu Kuba Disco: a clássica War Pigs (Black Sabbath), que dispensa explicações.

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