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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Reunião indesejada do Big 3 é presente para grego em Roland Garros

Reuters
Imagem: Reuters

Colunista do UOL

29/05/2021 12h00

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Novak Djokovic, Rafael Nadal e Roger Federer estão do mesmo lado da chave de Roland Garros, e só um deles poderá alcançar a final. Com Rafa na terceira posição do ranking e Roger em oitavo, havia essa possibilidade antes do sorteio, e Murphy se manifestou da pior maneira possível para os fãs do Big Three. Assim, Nole pode encarar Roger já nas quartas de final e o vencedor desse jogo (se acontecer) pode duelar com Nadal na semi.

Com essas cartas na mesa, toda análise parte do ponto em que os três já saíram perdendo nesse sorteio, independentemente do momento de cada um no circuito - e são momentos bem distintos. Vejamos, então como ficaram os caminhos específicos de cada um e o que isso significa tanto para nosso querido trio quanto para o grego Stefanos Tsitsipas, o novo segundo favorito das casas de apostas para o slam do saibro.

Djokovic: o azarado sortudo

Tirando o provável encontro com Nadal na semi e o possível-mas-não-tão-provável duelo com Federer nas quartas, dá até para dizer que o resto da chave de Nole é um tanto amigável. Desde a estreia, contra Tennys Sandgren, incluindo a segunda rodada com Cuevas ou Pouille e uma terceira fase contra possivelmente Humbert. Isso é praticamente o cenário dos sonhos para todo top: uma primeira semana de slam sem ameaças reais, o que lhe dá tempo de trabalhar em paz, calibrar golpes e fazer os ajustes finos para o que deve ser uma segunda semana intensa. Em muitas oportunidades, o campeão do slam é aquele que teve a primeira semana menos turbulenta, e Djokovic começa o torneio com isso a seu favor.

Sobre o momento do número 1 do mundo, é possível que as derrotas para Karatsev em Belgrado e Nadal em Roma tenham tirado um pouco do peso das costas do sérvio - e um título na Sérvia neste fim de semana, na fraquíssima chave de Belgrado (Nole encara na final Alex Molcan, #255 do mundo), não adiciona coisa alguma. É claro que fará falta "aquela" confiança que ele já teve para bater Nadal no saibro, mas o início light da caminhada é algo que deve ser considerado como positivo ao avaliar as chances do sérvio em Paris.

Nadal: muito perigo à vista

Dentro do Big Three, Rafa parte de um lugar mais confortável por só precisar enfrentar Djokovic ou Federer (e não dois deles), ainda que o suíço não esteja tão cotado assim (já escrevo mais sobre isso). Entretanto, o resto da chave do espanhol traz obstáculos interessantes e nada simples. Ainda que a estreia contra Popyrin não prometa dilemas (Rafa bateu o australiano sem problemas em Madri) e um possível encontro com Gasquet na segunda rodada não deva ser complicado (16-0 no H2H!), Nadal pode encontrar Jannik Sinner nas oitavas e Andrey Rublev (ou Aslan Karatsev) nas quartas. Sim, o mesmo russo que eliminou Rafa em Monte Carlo. Isso, claro, antes de rever Nole nas semifinais. Se o favoritismo de todo esse povo se confirmar, será a chave mais dura para Rafa em muito tempo em Roland Garros.

Tecnicamente falando, Nadal ainda não jogou seu melhor este ano. Seu saque andou instável, assim como o jogo de fundo. O problema, nem tanto para Rafa quanto para seus adversários, é que assim mesmo ele conquistou Barcelona e Roma. Se o serviço estiver mais estável em Roland Garros, a coisa fica ainda mais dura para o resto da chave. O torneio do ano passado, quando Nadal não brilhou na maioria de seus jogos, mas tirou da cartola uma atuação irretocável na final, mostrou que batê-lo no saibro de Paris, mesmo em condições adversas para seu tênis, continua sendo a tarefa mais difícil do esporte. Improváveis e impensáveis sempre podem acontecer (alô, Robin Soderling!), mas todo favoritismo se justifica para Rafa em Roland Garros.

Não custa lembrar: se confirmar o favoritismo e conquistar Roland Garros pela 14ª vez (por extenso para não confundir: "décima quarta" - o homem tem uma estátua no torneio!), Nadal passará a ter, sozinho, o recorde masculino de títulos de slam em simples, com 21. Hoje, ele e Federer têm 20 cada.

Federer: o ponto de interrogação

Esqueçamos por um momento a possibilidade de encontrar Nole e Rafa - até porque ela pode ser secundária. Roger Federer é um grande ponto de interrogação aqui. Sua única partida no saibro, a estreia no ATP 250 de Genebra, deixou evidentes algumas deficiências que podem ser até consideradas normais para quem não competia desde Doha. A movimentação deixou a desejar em momentos, e os golpes do fundo não estavam tão afiados como o "padrão Roger" exigiria em outras circunstâncias. Pior: Federer deixou escapar o terceiro set contra o veterano Pablo Andújar e não teve chance de mostrar evolução durante a semana.

Como se trata de Roger Federer, acho que não convém presumir que o suíço jogará em Paris no mesmo nível mostrado em Genebra. É justo esperar uma evolução, ainda que seja compreensível se ela não vier para um semideus que experimenta os primeiros momentos de "mortalidade" à beira dos 40 anos. De qualquer modo, Federer estreia contra um qualifier e, na segunda rodada, pode ter um teste e tanto contra um Marin Cilic que é um dos únicos cinco campeões de slam na chave - ainda que, a bem da verdade, seja necessário apontar que o croata também já viveu dias melhores no circuito. Taylor Fritz pode aparecer pela frente se Roger alcançar a terceira rodada e, nas oitavas, o rival sairá da seção que tem um Berrettini em bom momento e um Auger-Aliassime treinado por Toni Nadal e que não vem encantando no saibro.

Até um par de anos atrás, daria para cravar que Federer alcançaria as quartas sem grande problemas. Hoje, depois de duas cirurgias no joelho e com 39 anos nas costas, não é tão simples assim. Mesmo que apareça em Paris em melhor forma do que em Genebra, alcançar as quartas será um feito e tanto para o Federer de hoje. A questão que acho interessante, porém, é que se isso acontecer - e admito, é um grande "se" - a vida de Djokovic (ou quem quer que seja) não vai ser nada simples nas quartas.

Tsitsipas: o campeão do sorteio

Se Nadal, Djokovic e Federer estão de um lado, quem está do outro? A resposta óbvia é Daniil Medvedev, número 2 do mundo, também conhecido nos últimos dias como o homem responsável pelo drama na chave de Roland Garros. O russo já disse e repetiu para o mundo inteiro ouvir que não gosta de jogar no saibro, e os resultados recentes (uma vitória e duas derrotas somando Madri e Roma) são prova disso. Jogando tudo no liquidificador, temos um raro cenário em que o cabeça de chave 2 de um slam beira a irrelevância, ainda que sua chave seja fácil e, com alguma boa vontade, Daniil pode avançar e surpreender muita gente.

O premiado com isso tudo é Stefanos Tsitsipas, cabeça 5, campeão de Monte Carlo, vice em Barcelona, semifinalista em Roma e campeão em Lyon. O grego é agora o nome a ser batido na metade de baixo da chave. Tsitsipas está no mesmo quadrante de Medvedev, o que seria ruim na quadra dura, mas hoje significa o equivalente ao segundo lugar do grid num GP em que o pole position larga na parte suja da pista. Seu caminho passa por um Chardy que não vem brilhando na estreia, Korda ou Martínez na segunda rodada, e uma terceira fase com quem avançar do grupo que tem um qualifier, Krajinovic, Querrey e Isner. Nas oitavas, Carreño Busta parece ser o nome mais provável para encontrar Tsitsipas. Nas quartas, o vencedor da seção de Medvedev, que pode muito bem ser Garín, Dimitrov, Pella, Munar ou até o gigante Opelka, que foi semifinalista em Roma. Ou, claro, o próprio Medvedev. Será?

Quando e onde: O torneio começa neste domingo, com os jogos da arena principal, a Quadra Philippe Chatrier, começando sempre às 11h locais (6h de Brasília). SporTV e Bandsports mostram ao vivo.

Mais: uma prévia completa do torneio, incluindo a chave feminina, foi enviada neste fim de semana para apoiadores do blog. Interessados em receber conteúdo adicional podem conhecer o programa de financiamento coletivo do Saque e Voleio, disponível no Apoia.se. Mais informações logo abaixo.

Durante o torneio, também dou dicas de apostas e cotações atraentes. Posto sempre algumas sugestões diariamente no site The Player.

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