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Rafael Oliveira

Perder Messi nunca seria fácil, mas Barcelona criou "tempestade perfeita"

Messi lamenta um dos gols sofridos pelo Barcelona contra o Bayern de Munique, em jogo na Liga dos Campeões - Manu Fernandez/Pool via Getty Images
Messi lamenta um dos gols sofridos pelo Barcelona contra o Bayern de Munique, em jogo na Liga dos Campeões Imagem: Manu Fernandez/Pool via Getty Images

Colunista do Uol

25/08/2020 17h27

Sempre pareceu difícil imaginar Lionel Messi em outro clube. Por mais que as especulações fossem constantes ao longo dos anos, o barulho nunca foi levado a sério. Mas agora virou assunto de verdade (méritos para Marcelo Bechler novamente).

A reação imediata é projetar os diferentes cenários. Com que camisa fica melhor? Qual projeto esportivo vai conquistar o melhor jogador da geração?

Mas, antes mesmo de pensar no destino, é necessário pensar no desafio que o Barcelona tem pela frente. A derrota por 8x2 para o Bayern parece ter acelerado um processo que talvez fosse inevitável. O desgaste era crescente, assim como as dificuldades internas e a frustração com as decepções dos últimos anos.

As eliminações contra Roma, Liverpool e Bayern foram dolorosas. São anos seguidos com a sensação de que há pouco além de Messi para competir em cenário internacional. Internamente, as contratações mais badaladas (Dembélé, Coutinho e Griezmann) não entregaram nem perto do esperado.

Se Ernesto Valverde incomodava por fugir do "DNA Barça", Quique Setién talvez fosse o perfil certo na hora errada. Pois o problema nunca foi apenas o treinador. E a decisão de Messi reflete muito mais o estágio de descontentamento com as decisões da diretoria.

Abrir mão de um grande ídolo nunca será um processo fácil. Curiosamente, o Barcelona vivenciou a exceção da regra quando Ronaldinho "passou o bastão" para Messi. A transição foi incrivelmente bem-sucedida e também contou com o amadurecimento de uma geração de Xavi, Iniesta, Puyol e Piqué.

Não há uma fórmula fácil para romper com quem escreve tantos capítulos brilhantes e importantes na história de um clube.

Olhando para o rival Real Madrid, a saída de Cristiano Ronaldo mantém uma lacuna no elenco até hoje. Natural. Não há substituto para uma máquina de gols. Só que o contexto era diferente. O ídolo saiu após conquistar a terceira Champions consecutiva, com um time montado e uma filosofia já implantada em relação a jovens apostas para o futuro.

No caso do Barça, Messi sairá no momento de total reconstrução, deixando um clima de terra arrasada. Não há uma leva de jovens (fora Riqui Puig e Ansu Fati), não há critério nas transferências recentes, não há planejamento para além de uma temporada (eleições pela frente) e não há dinheiro para investir (a não ser o que entrar com as vendas).

As reações também são sintomáticas. Puyol, Vidal e Suárez se manifestaram quase imediatamente, apoiando a decisão de Messi. Ronald Koeman chegou para promover uma profunda reformulação, mas certamente pretendia contar com alguns pilares - e o argentino seria o principal deles.

A transição pós-Messi nunca seria simples, mas o Barcelona parece ter construído a "tempestade perfeita". É o desfecho mais traumático possível, muito como consequência da incompetência na gestão.

O melhor cenário é imaginar o clube como uma página em branco a partir de agora, o que tem seus prós e contras. Após quase duas décadas de absoluto sucesso esportivo, o futuro é uma grande interrogação e o presente é um gigante desafio. Em algum momento, a hora de dar adeus a Lionel Messi chegaria. Só não parecia ser agora e não precisaria passar a mensagem de implosão.