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Rafael Oliveira

O que aproxima eliminações tão diferentes como as das seleções de 82 e 2010

Zico e Júnior festejam gol do Brasil contra a Escócia na Copa de 1982 - S&G/PA Images via Getty Images
Zico e Júnior festejam gol do Brasil contra a Escócia na Copa de 1982 Imagem: S&G/PA Images via Getty Images

Colunista do Uol

22/04/2020 12h04

Calma. Não é uma comparação entre as seleções. É uma reflexão sobre como nem toda eliminação em Copa do Mundo precisa ter um culpado, um alvo fácil para depositar as frustrações.

As Copas de 1982 e 2010 não foram escolhidas por acaso. Talvez sejam dois extremos do que a opinião pública passou a tratar quase como "o bem e o mal".

É compreensível a diferença. A seleção de 82 remete a uma forte carga emocional para diferentes gerações. E não é apenas memória afetiva ou saudosismo. É o reconhecimento de uma grande reunião de craques que chegaram a jogar bem naquele mundial, diferentemente da ilusão sobre 2006.

Em 2010, o Brasil chegava da decepção de 2006, já não contava com vários dos craques da geração anterior e ainda tinha um conflituoso Dunga alimentando certa rejeição.

Os estilos de jogo também não tinham nada em comum. Só que as eliminações não nascem do contexto, embora geralmente sejam contadas a partir dele. Acontecem porque os 90 minutos reúnem os mais diferentes cenários, passando por aspectos psicológicos, técnicos, táticos e pela alternância de momentos.

Contra a Holanda, em 2010, o Brasil fez um belo primeiro tempo e tinha o roteiro que o tornava tão forte na época: a vantagem no placar e a teórica chance de definir em contra-ataques. Falhas em cruzamentos isolados, abalo psicológico e um prejuízo irreversível.

Em 1982, Itália e Brasil tiveram períodos de superioridade e outros de jogo aberto e até descontrolado. No melhor momento brasileiro, um erro de passe na saída de bola deu vida novamente ao adversário. Quando parecia ter conseguido o mais difícil, no 2x2, sofre outro gol em rebote de escanteio.

De formas diferentes, as eliminações pareciam improváveis. Faz parte do jogo. Da competitividade e da aleatoriedade de como partidas podem ser resolvidas sem que os gols sigam a dinâmica esperada. Apontar dedo para um "culpado" pode oferecer uma sensação de alívio para quem o faz.

Seja o passe de Cerezo, a saída de Júlio César, a expulsão de Felipe Melo, o meião de Roberto Carlos, a decisão de Fernandinho, a convulsão de Ronaldo, etc... Cada episódio tem ou não sua relevância nas histórias, mas nenhuma eliminação pode ser reduzida a uma explicação tão objetiva, pois o futebol não é assim. E nem é justo que alguém carregue todo o peso.

Por não ser uma comparação entre times, fica fácil diferenciar o tamanho de cada um. A seleção de 82 entrou para a lista dos que fizeram história mesmo sem o título mundial, como a Holanda de 1974 ou a Hungria de 1954. A de 2010 poderia ter ido mais longe na Copa e era real candidata ao título, ainda que com limitações. Ambas caíram dentro da imprevisível normalidade de um confronto eliminatório de alto nível.