Por que 4 x 1 de 1970 e 2005 não foram tão fáceis para seleção
Na viagem ao passado, a série de textos sobre emoção e análise nas memórias do futebol já visitou o efeito do tempo para 2002 e a criação de um mito sobre 2006. Há um elemento que conecta diferentes momentos históricos: o sentimento que molda a definição sobre determinados jogos.
O domingo, na TV, é de relembrar duas finais que se encaixam exatamente no perfil, embora separadas por 35 anos. Mas valeria para inúmeros outros casos.
Para a memória que fica, nada é mais forte do que a sensação de espetáculo em quem viveu o momento original. É quando a tensão de um jogo decisivo dá lugar à empolgação de quem presencia algo que foge do roteiro.
As goleadas. E os relatos que são reproduzidos por anos e gerações. "Show" é um conceito subjetivo. Não há qualquer erro em traduzir assim o sentimento. Começa a interferir na avaliação quando a empolgação leva a simplificar o todo como "passeio" ou "jogo fácil".
Nem toda goleada é fácil. E, em alguns casos, rever a partida com outros olhos cria alguns conflitos da narrativa com a análise.
A final de 1970 não foi "moleza". Embora tenha terminado 4x1, a tranquilidade só existiu na reta final do segundo tempo. Até então, foi um jogo igual contra uma marcação forte que conseguia limitar as chances criadas. O histórico quarto gol ilustra alguns aspectos táticos, mas não resume os 90 minutos.
A final da Copa das Confederações de 2005 também não foi um espetáculo na maior parte do tempo. Na primeira etapa, um jogo amarrado e até feio, mas com dois belos gols em isolados chutes de fora da área. De "show" mesmo, provavelmente os 20 primeiros minutos do segundo tempo. Quando o cenário permitiu uma avalanche de contra-ataques e criou o encantamento que marcou aquele dia na história.
O Brasil 3x1 Argentina de 82 nem foi goleada, mas também poderia se enquadrar aqui, como dezenas de outros jogos. O "passeio" na verdade foi a postura mais conservadora da Seleção naquela Copa, e que acabou recompensada com os contra-ataques do segundo tempo, em uma partida extremamente difícil até o segundo gol.
Não é exclusividade de uma geração ou outra. Nem de uma seleção ou clube. Vale para todos, e não desvaloriza ou diminui qualquer time ou resultado. Faz parte da construção da memória. E da redução da análise ao sentimento dos instantes em que a emoção suplanta o racional. É uma forma de viver o jogo e não há nada mais legítimo. Só é, do ponto de vista mais frio, uma reflexão relevante sobre a armadilha da reprodução automática de alguns discursos.
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