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Coluna do PVC

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Dirigentes da Libra cogitam cisão e dois Brasileirões

A taça é uma só e o campeonato só pode ter um - Flickr/CBF
A taça é uma só e o campeonato só pode ter um Imagem: Flickr/CBF

Colunista do UOL

03/02/2023 11h30Atualizada em 03/02/2023 18h06

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Duas pessoas ligadas à Libra (Liga Brasileira) confirmaram que há dirigentes cogitando realizar o Brasileirão, a partir de 2025, só com os filiados à entidade, se não houver acordo com a Forte Futebol, para que se forme uma só associação.

Importante salientar que não é uma posição unânime, mas um relato confirmado, por duas fontes distintas, de que houve conversas nesse sentido.

A ruptura não faz sentido e seria um retrocesso de 90 anos. O respeito às regras, ao acesso e descenso, aos campeonatos que existem atualmente, é fundamental, para que o mundo saiba que o Brasil respeita as normas vigentes.

Todo o resto é golpe. É como invadir o Congresso, para tentar depor o governo. É basear-se no suposto poder econômico, para criar um problema novo, como o eterno dilema de quem é o campeão de 1987.

Ou pior, voltar aos anos 1930, quando os estaduais tinham dois campeões, pelas cisões em ligas opositoras.

Se não houver unidade, que se respeite a lei do mandante e cada entidade venda os direitos dos jogos de seus filiados. Perde-se dinheiro e credibilidade, mas respeitam-se as regras dos campeonatos vigentes. A Premier League não rompeu com o Campeonato Inglês. É o prosseguimento de uma história iniciada em 1889.

Lembre-se sempre de que Vasco x America é conhecido como "Clássico da Paz" até hoje, embora nem clássico seja mais, porque abriu o Campeonato Carioca de 1937, após quatro anos de divisões entre ligas. Em 1933, Botafogo e Bangu foram campeões. Em 1934, Vasco e Botafogo. Em 1935, America e Botafogo. Em 1936, Vasco e Fluminense, sempre com duas associações distintas e dois campeonatos separados. A confusão terminou na abertura de um único torneio em 1937, com Vasco x America, o "Clássico da Paz".

Mas, sim, dois dirigentes confirmaram que a ruptura é cogitada em conversas entre presidentes e representantes de clubes ligados à Libra.

Por outro lado, os dirigentes ligados à Libra têm ponderações importantes, que diferem do que aqui foi publicado na quinta-feira. Flávio Zveiter, vice-presidente de Desenvolvimento e Projetos da CBF, um dos idealizadores da Liga, argumenta que só aceitou seu cargo na confederação por causa da boa vontade de Ednaldo Rodrigues para a organização dos clubes.

Diz não ter mais nada a ver com a Libra e que seu papel é de mediador, para tentar liderar a unidade entre as duas entidades atuais, Libra e Forte Futebol.

Outro dirigente argumenta que a Libra já desistiu das aprovações apenas por unanimidade e permitiu que as votações sejam vencidas com 85% dos votos. Importante ponderar que 15%, numa entidade com 14 integrantes, significa que três votos servem para reprovar uma ideia. Flamengo e Corinthians detêm 76% do dinheiro do pay-per-view, atualmente, e precisariam de apenas um voto a mais para vetar negociações importantes. Não quer dizer que isso vá acontecer, porque o pay-per-view parece condenado a se tornar outro formato. Mas 85% são os votos de três dirigentes, Flamengo, Corinthians e Palmeiras, por exemplo.

Também se afirma que a Libra chegou a uma fórmula em que a divisão do dinheiro daria 3,07% de distância do mais rico para o que menos arrecada. Esta conta pode depender dos critérios de engajamento, mas será muito positiva se de fato se chegar a este equilíbrio.

O que não pode haver é a cisão. Ou o Brasil tem uma Liga apenas, conduzida por critérios econômicos, não políticos. Ou, se houver divisão, precisa ser com base na lei do mandante, com cada entidade vendendo seus direitos dentro de um só campeonato. Seria terrível, mas menos ruim do que voltar noventa anos no tempo, em que se criava uma suposta primeira divisão sem respeitar os critérios de acesso e descenso antes existentes.

Quem é o campeão brasileiro de 1987? Ninguém quer fazer esta pergunta sobre 2025, 2026, 2027... Até 2024, os direitos de TV estão vendidos e este risco não existe. Depois disso, tem gente que julga possível.

A Liga tem de fazer o Brasil andar para a frente, não para trás.