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Por que a Red Bull deixa Verstappen passar por cima das instruções do time?

Max Verstappen e Sergio Pérez na entrevista coletiva após o GP da Arábia Saudita - Bryn Lennon/Getty Images
Max Verstappen e Sergio Pérez na entrevista coletiva após o GP da Arábia Saudita Imagem: Bryn Lennon/Getty Images

Colunista do UOL

24/03/2023 04h00

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"Qual é a volta mais rápida?", pergunta Max Verstappen na volta 46, com quatro giros para o final do GP da Arábia Saudita. "Nós não estamos preocupados com a volta mais rápida no momento, Max", respondeu seu engenheiro, Gianpiero Lambiase. "Mas eu estou", rebateu o holandês. A volta mais rápida dá um ponto extra na Fórmula 1, e estava com seu companheiro Sergio Perez. Até o último giro, quando Verstappen foi mais veloz.

Dentro do contexto das últimas voltas da prova, dá para entender melhor o diálogo. Verstappen tinha reclamado de uma sensação estranha com a transmissão do carro, e perguntou se os engenheiros conseguiam ver algo na telemetria. Eles não encontraram nada de errado.

A Red Bull estava com mais uma dobradinha garantida, Perez vinha conseguindo manter uma vantagem estável, entre 5 e 4s, desde que Verstappen tinha passado Alonso para ser segundo, na volta 25. Com menos de 15 giros para o final, seria difícil pensar em uma virada.

Dessa forma, Lambiase pediu por três vezes, nas voltas 39 e 40, para Verstappen virar na casa de 1min33s0, mesma instrução que foi passada ao líder Perez. O engenheiro não obteve resposta. Na verdade, a resposta de Verstappen foi uma volta em 1min32s4 e outra em 1min32s6. Só resta à Red Bull dizer a Perez que a nova meta era 1min32s6. "Então por que você estava falando 1min33s0? Estamos forçando sem motivo, mas vou fazer", reclama o mexicano. Perez faz 1min32s4, desconfiado que Verstappen está mais rápido. Ele já viu esse filme antes.

Na volta 45, depois de um quarto pedido, Verstappen diminui o ritmo e pergunta sobre a volta mais rápida. Perez também pergunta, com duas voltas para o final. Ambos ouvem que ela está em 1min32s1.

Perez venceu, mas saiu do carro reclamando ao perceber que tinha perdido o ponto da volta mais rápida. Diz que, pela informação que recebeu, não ficou claro se ele poderia baixar o tempo ou não. Ele não sabe que, do outro lado da garagem, Verstappen também não teve autorização.

E mais: o chefe dos dois, Christian Horner, ainda diz que Perez tentou a volta mais rápida "nas primeiras curvas da última volta, mas tirou o pé quando percebeu que estava acima da meta."

Está claro que a Red Bull até tenta colocar rédeas em Verstappen, mas não há qualquer consequência quando eles não conseguem. Isso não vem de hoje e tem muito a ver com o espírito da equipe.

Tudo na Red Bull é levado ao limite, é assim que eles trabalham. É por isso, em última análise, que eles passaram do teto de gastos, tentando explorar as exclusões ao máximo. É por isso que eles costumam trabalhar no carro até o último momento antes da classificação, muitas vezes com clima de correria nos boxes. É por isso que eles desenvolveram um DRS mais poderoso que os demais (depois de sofrerem algumas quebras levando tudo ao limite).

Nunca um piloto Red Bull encarnou tão profundamente esse espírito da equipe quanto Verstappen.

Eles sabem que, ao longo do campeonato, será o holandês que trará os resultados mais regulares, que é capaz de lidar com uma gama mais ampla de situações. Isso, a médio e longo prazo também, haja vista o contrato do piloto, o mais longo do grid, até o final de 2028. Então resta a Horner, Marko e companhia aplaudi-lo. Em outras equipes, agir dessa maneira seria visto como deixar o time em segundo plano. Não na Red Bull.