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Mercedes já teve melhor motor e agora é engolida nas retas na F1. Por quê?

Lewis Hamilton, da Mercedes, durante o GP do Bahrein, que abriu a temporada 2022 da F1 - Mercedes
Lewis Hamilton, da Mercedes, durante o GP do Bahrein, que abriu a temporada 2022 da F1 Imagem: Mercedes

Colunista do UOL

04/04/2022 04h00

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Esta temporada da Fórmula 1 está começando de maneira diferente em relação a todas as outras da era híbrida da categoria: de 2014 para cá, esta é a primeira vez que a Mercedes nem sequer briga por vitórias. Os alemães tinham uma enorme vantagem quando a unidade de potência V6 turbo híbrida foi adotada, e foram vendo os rivais chegando perto ano após ano. Agora, não parecem ter mais o melhor motor da categoria.

A diferença, contudo, não é grande. A Renault e a Ferrari foram as duas que mais evoluíram em relação a 2021, sendo que os italianos foram os que perderam menos com a introdução do combustível E10, com 10% de etanol ao invés de 5,75% usados até o ano passado. Pode parecer uma diferença pequena, mas que deu dor de cabeça inclusive para os fornecedores, já que o combustível teve de ser homologado antes do início da temporada.

A Renault mostrou na Arábia Saudita que recuperou o déficit que tinha ano passado, acertando a mão na decisão arriscada de usar todas as suas fichas de desenvolvimento de uma vez em 2022, não tendo desenvolvido seu motor ano passado.

Já a Red Bull Powertrains usa o motor atualizado pela Honda para 2022. Os japoneses tinham dado um grande salto com a unidade de potência de 2021, e agora focaram mais na adaptação ao novo combustível e mantiveram um ótimo nível.

O que há de errado com o motor Mercedes?

Há muitas interrogações acerca do rendimento dos motores Mercedes, já que os dados apontam que tanto a equipe principal, quanto seus clientes, estão com dificuldades. Segundo apurou a coluna, o motor da Mercedes é, de fato, um problema para as clientes, mas não pela falta de potência em si.

A dificuldade seria de integração, pois a maioria das mudanças feitas para esta temporada visou adaptar a UP às necessidades únicas do carro da Mercedes, que tem um conceito diferente de resfriamento que permite praticamente não ter entradas de ar nas laterais. E isso tornou o equipamento alemão mais difícil de ser adaptado para os outros carros.

Também é fato que a equipe de fábrica da Mercedes sofre muito com as golfinhadas, tendo de usar seu carro mais alto que o ideal, o que gera mais resistência ao ar, e também não tem uma asa que gera pouca pressão aerodinâmica no momento. Também por conta das golfinhadas, o time não tem usado seu modo de motor mais potente nas classificações, para evitar que o carro bata muito no asfalto. Tudo isso é negativo para a velocidade de reta.

Para se ter uma ideia, somente por ter usado uma configuração com mais pressão aerodinâmica na Arábia Saudita, os dois pilotos da Ferrari foram o segundo e terceiro no grid e o 13º e 14º em velocidade de reta na classificação. E sabe-se que a unidade de potência ferrarista está funcionando muito bem.

mclaren - Divulgação/McLaren - Divulgação/McLaren
Lando Norris, da McLaren
Imagem: Divulgação/McLaren

Os clientes da Mercedes também têm seus problemas: A Aston Martin é outro carro que sofre muito com as golfinhadas e está bem acima do peso, a McLaren tem gerado menos pressão aerodinâmica que o previsto e a Williams é outro caso com um grave problema de peso.

Ainda assim, se o problema de integração se confirmar, não é algo que a Mercedes HPP, responsável pelas unidades de potência, poderia resolver facilmente devido ao congelamento de motores.

Como funciona o congelamento dos motores

As unidades de potência receberam suas últimas atualizações antes de primeiro de março para três dos seis elementos que as formam: motor a combustão, turbocompressor e MGU-H. Entre os GPs da Bélgica e da Holanda, encerra-se o prazo para a segunda parte da homologação, do MGU-K, bateria e central eletrônica.

Essa divisão foi, originalmente, um pedido da Ferrari, aceito pelas demais. Com isso, os italianos dividiram seu desenvolvimento em partes, mudando o foco conforme o prazo de homologação, o que foi importante para o salto que deram com a parte elétrica da unidade de potência na segunda metade do ano passado, que foi completado no início deste ano.

Assim, a partir do GP da Holanda de 2022 até o final da temporada de 2025, as quatro fornecedoras de motores só poderão fazer alterações por motivos de confiabilidade, sob aprovação da FIA.