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Pivô de polêmica na F1 perde cargo e categoria terá sistema parecido ao VAR

O diretor de provas da F1, Michael Masi, assumiu o cargo em 2019 - Mark Thompson/Getty Images
O diretor de provas da F1, Michael Masi, assumiu o cargo em 2019 Imagem: Mark Thompson/Getty Images

Colunista do UOL

17/02/2022 10h31

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O novo presidente da Federação Internacional de Automobilismo, Mohammed ben Sulayem, anunciou as mudanças que serão colocadas em prática nesta temporada a fim de coibir falhas na execução das regras do regulamento esportivo e evitar que as equipes possam pressionar a direção de prova durante as corridas. As mudanças são uma resposta à crise de confiança na gestão do esporte gerada pelo processo de tomada de decisões durante a decisão do campeonato de 2021, em Abu Dhabi.

A principal delas é a saída de Michael Masi como diretor de prova. Ele será substituído pela dupla Niels Wittich e Eduardo Freitas, e seguirá trabalhando na FIA, embora em uma nova posição, que não foi anunciada. A nova dupla tem larga experiência no cargo de direção de prova, o primeiro tendo trabalhado na DTM, campeonato alemão de turismo, e o segundo, que é português, sendo o diretor de prova do Mundial de Endurance. A dupla terá assistência de Herbie Blash, que trabalhou por décadas ao lado do ex-diretor de prova da F1, Charlie Whiting, e que atuará como conselheiro.

Masi, por sua vez, deve continuar na FIA. Uma nova vaga, que não foi divulgada, será oferecida a ele. Atualmente, o australiano também é delegado médico e de segurança da F1, sendo responsável pelas inspeções nos circuitos.

O presidente ainda anunciou a criação de uma "sala virtual de direção de prova" da FIA para apoiar o diretor de prova em suas decisões, "nos moldes do VAR no futebol, com acesso a todas as imagens disponíveis", mas fora do circuito. As pessoas que fazem essa verificação das imagens terão "acesso direto à direção de prova, a fim de aplicar o regulamento usando o que há de mais avançado tecnologicamente."

Outra mudança será a limitação da possibilidade de comunicação entre as equipes e a direção de prova. As equipes poderão perguntar sobre procedimentos, mas não pressionar a direção de prova a tomar quaisquer atitudes. E essa comunicação deixará de ser transmitida pela TV "como forma de proteger o diretor de prova". Essa transmissão só começou a ser feita no início do ano passado, e escancarou a forma como as equipes tentavam barganhar decisões com a FIA.

Em relação às regras, o presidente da FIA afirmou que o regulamento do Safety Car será alterado, mas as mudanças só serão anunciadas após a última votação pela qual o pacote tem de passar, daqui um mês.

Sulayem afirmou que suas propostas foram apoiadas de maneira unânime na reunião da Comissão de F1, realizada na segunda-feira (14), pelas equipes e pelos donos dos direitos comerciais da categoria. Tais mudanças ainda serão apresentadas para voto na reunião do Conselho Mundial, dia 18 de março, exatamente a data em que os carros irão à pista nos primeiros treinos livres da temporada, no Bahrein. Esta votação deve ser uma formalidade, uma vez que as reformas já passaram pela reunião mais importante.

polêmica - ANDREJ ISAKOVIC / AFP - ANDREJ ISAKOVIC / AFP
Lewis Hamilton e Max Verstappen, durante GP de Abu Dhabi
Imagem: ANDREJ ISAKOVIC / AFP

Entenda a polêmica de Abu Dhabi

O campeonato da Fórmula 1 de 2021 foi decidido com uma ultrapassagem de Max Verstappen em cima de Lewis Hamilton na última volta da última corrida. Os dois chegaram empatados à última etapa e Hamilton tinha dominado o GP de Abu Dhabi até ali e parecia caminhar ao oitavo título. Mas a prova foi neutralizada por um Safety Car com seis voltas para o fim, devido a um acidente com Nicholas Latifi. Temendo perder a primeira posição, a Mercedes manteve Hamilton na pista com pneus usados. Já a Red Bull sabia que sua única chance era que Verstappen tivesse pneus novos para atacar quando a prova fosse reiniciada e o chamou aos boxes.

Foi então que se iniciaram os quatro minutos polêmicos que geraram as mudanças anunciadas hoje. O diretor de prova Michael Masi, que já chegava a Abu Dhabi pressionado, primeiramente decidiu que os retardatários não recuperariam a volta, depois mudou de ideia e, por final, determinou que apenas os cinco pilotos que estavam entre Hamilton e Verstappen poderiam ultrapassar o líder. Nesse meio tempo, Mercedes e Red Bull usavam a comunicação via rádio tentando influenciar a decisão do australiano. Parte da comunicação foi revelada ao vivo, e parte dias depois, pela própria F1.

O regulamento ao mesmo tempo dava poderes para o diretor de prova decidir como seria o reinício da prova e também dizia que todos os pilotos teriam que recuperar a volta, ou nenhum deles. Além disso, a regra especificava que era necessário dar mais uma volta antes de reiniciar a prova no caso de os retardatários ultrapassarem o líder, e isso não aconteceu porque a prova foi reiniciada apenas com uma volta para o final. Ou seja, embora Masi não tenha infringido as regras tecnicamente, a maneira como a situação foi administrada esteve longe de ser das melhores, e foi isso que gerou as mudanças anunciadas por Sulayem.