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Ferrari lança carro e mostra por que é a equipe que pode surpreender na F1

Colunista do UOL

17/02/2022 10h14

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A Ferrari fez o lançamento do SF-75, seu carro para a temporada 2022 da Fórmula 1, nesta quinta-feira (17) na sede da equipe, em Maranello, na Itália, cercada de expectativas. O carro, com asas pretas, assim como a Scuderia usou no começo dos anos 1990, tem soluções diferentes em comparação com o que foi visto até agora, na tentativa das equipes de terem a melhor interpretação das novas regras aerodinâmicas da categoria.

O bico tem um formato diferente de todos os outros carros lançados até agora, mas a grande diferença está na maneira como o ar é direcionado para a parte lateral do carro, e também na entrada de ar dos radiadores, logo acima. Como o novo regulamento busca diminuir a capacidade de se gerar pressão aerodinâmica por meio da parte de cima do carro, as equipes perceberam que as laterais são o caminho de desenvolvimento para tentar reduzir esse efeito. Lembrando que o foco das novas regras é de diminuir a turbulência gerada pelos carros e, por isso, há a tentativa de limpar todo o fluxo de ar que passa por ele.

"Acho o carro agressivo, radical, e bonito também", definiu Carlos Sainz, depois que o chefe Mattia Binotto disse que os engenheiros tinham aproveitado as novas regras para abordar o projeto do carro "com a mente aberta", a fim de aproveitar as oportundidades.

Ferrari aposta em dupla de pilotos equilibrada e melhora da unidade de potência

É fácil entender por que a Ferrari é apontada como a candidata mais forte a aproveitar o novo regulamento para entrar na disputa com Mercedes e Red Bull na temporada 2022 da Fórmula 1. Embora os lançamentos dos carros vermelhos sempre carreguem muito otimismo, o time usou o que pôde do último campeonato para se colocar em uma posição melhor para este ano.

Com Carlos Sainz ao lado de Charles Leclerc, a Ferrari não só passou a ter uma dupla mais equilibrada, como obrigou o monegasco a trabalhar pesado para andar no ritmo do companheiro. E essa é uma dinâmica que pode ajudar o time em 2022, se os dois não entrarem em rota de colisão na disputa interna.

O motor é um capítulo à parte, com a queda em 2020 depois de uma investigação sigilosa da FIA, e a retomada progressiva desde então. Este crescimento teve um capítulo importante com as mudanças na parte de recuperação de energia feitas na segunda metade do campeonato de 2021. As novas peças eram um teste do conceito que está sendo usado na unidade de potência de 2022, a última antes do congelamento, então o sucesso da atualização é uma boa notícia. Se o restante do motor seguir a mesma linha e a Ferrari recuperar o que foi perdido após 2019, o time pode voltar a lutar mais à frente.

Claro que tudo isso depende do carro. Toda pré-temporada, ouvimos boatos circulando nesta época do ano a respeito dos números de túnel de vento ferraristas serem muito bons, e isso muitas vezes não é confirmado na pista.

Regra que estreou em 2021 pode ser arma importante para a Ferrari

Quando a Ferrari estava lutando com a Mercedes em 2018 e 2019, o motor acabou escondendo deficiências no desenvolvimento aerodinâmico, e resolver isso foi o foco da Scuderia durante 2020. O carro de 2021 nasceu bem mais consistente, então é outro bom sinal. Além disso, a Ferrari é a equipe que pode se beneficiar mais de uma mudança no regulamento que passou a valer no início de 2021: o limite de desenvolvimento aerodinâmico permitido dependendo da posição do campeonato.

A Scuderia foi sexta colocada no mundial em 2020, então eles puderam usar 12,5% a mais de tempo de túnel de vento e simulações computadorizadas para o desenvolvimento aerodinâmico do carro entre janeiro e junho do ano passado em relação à Mercedes. Já na segunda metade do ano, a diferença caiu porque o time era quarto colocado, mas ainda assim eles tiveram 7.5% a mais que a Red Bull, líder da segunda metade. Como estas porcentagens aumentaram em 2022, mesmo tendo terminado 2021 em terceiro lugar, a Ferrari vai ter 15% a mais de tempo de desenvolvimento que a Mercedes (que foi campeã) até a metade do ano. Isso, lembrando que o desenvolvimento aerodinâmico do carro de 2022 só pôde começar em janeiro do ano passado, então todo o trabalho foi afetado por essa regra.

É claro que outros times que permaneceram mais atrás no campeonato tiveram muito mais tempo no túnel de vento, mas a Ferrari é um time com mais recursos e ferramentas melhores, o que, pelo menos em teoria, permite que eles usem o tempo adicional de forma mais eficiente.

Por outro lado, a desvantagem para Mercedes e Red Bull em 2021 foi bastante considerável. Um regulamento totalmente novo seria o suficiente para neutralizar essa diferença? Binotto prefere não fazer projeções antes do carro ir à pista. "Precisamos progredir ainda mais. Mas o que foi feito em 2021 é encorajador porque é uma prova de que a equipe está indo na direção certa."

A resposta a esta pergunta começará a ficar clara a partir do GP do Bahrein dia 20 de março. Antes disso, as equipes farão duas baterias de três dias de testes cada, em Barcelona entre 23 e 25 de fevereiro, e no Bahrein, entre 10 e 12 de março.