Topo

Pole Position

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Por que as asas do carro novo da F1 são curvadas e qual o futuro do DRS?

A Aston Martin foi o primeiro carro da F1 2022 a ir a pista, em um teste privado em Silverstone - Glenn Dunbar/Aston Martin
A Aston Martin foi o primeiro carro da F1 2022 a ir a pista, em um teste privado em Silverstone Imagem: Glenn Dunbar/Aston Martin

Colunista do UOL

13/02/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Os lançamentos dos primeiros da temporada 2022 da Fórmula 1 dos últimos dias mostraram qual será o efeito nas novas regras da categoria no visual desta nova geração de carros, que fará seu primeiro GP dia 20 de março, no Bahrein. São vários pontos que chamam a atenção, mas algo que diferencia estes carros de praticamente tudo o que se viu antes na categoria são as asas traseiras.

O regulamento força os times a abandonarem o formato retangular e com aletas nas extremidades. Agora, as asas serão mais arredondadas, tanto nas laterais, quanto na lâmina inferior.

É como se todos os desenhos infantis de como um Fórmula 1 deveria ser tivessem que ser adaptados.

A mudança não é estética e é um dos pontos centrais da tentativa de limpar o rastro de ar turbulento gerado pelos carros no passado, que dificultava as lutas por posição na pista. A ideia de se curvar as laterais da asa traseira é limpar o fluxo de ar e fazer com ele acompanhe a superfície e seja jogado para o alto.

asa - LAT Images/Daimler AG - LAT Images/Daimler AG
Com o ar úmido, é possível ver como a interação entre zonas de pressão diferentes no canto da asa geram vórtices
Imagem: LAT Images/Daimler AG

Com as chamadas endplates que eram usadas até o ano passado nos cantos das asas, o fluxo de ar atrás do carro formava espirais, ou vórtices. Eles eram bem visíveis quando os carros estavam andando na chuva ou com muita umidade no ar. Como o carro é feito para andar bem de cara para o vento, ou seja, sem esse tipo de turbulência, o nível de aderência cai muito se ele segue outro carro que está gerando estes vórtices. Isso dificulta a vida dos pilotos, que perdem o controle do carro ao tentar se aproximar.

O próprio formato da nova asa também ajuda o ar a ser jogado para cima, ou seja, fora do caminho do carro que vem atrás, e mais longe do ar mais veloz que passa por debaixo do carro. E há mais uma diferença: a volta da chamada beam wing, banida em 2014. Trata-se de uma asa menor, colocada na base do aerofólio traseiro, que também vai ajudar o ar a ser direcionado para cima.

Nova asa é parte de pacote para melhorar disputas, mas não aposenta o DRS

Segundo os dados das simulações da categoria, nos carros até 2021, a perda de pressão aerodinâmica se um carro chegasse a 10m do outro era de 47%, sendo que a pressão aerodinâmica é o que 'gruda' o carro no asfalto. Com as novas regras, esse número deve cair para 18%. Ou seja, com mudanças como a nova asa traseira, os pilotos deverão ter mais estabilidade quando estão seguindo um rival de perto, tendo mais chances de ultrapassagens.

É a dúvida em relação às soluções que os engenheiros encontrarão e como isso vai afetar o sucesso das novas regras que faz com que o DRS continue sendo usado nesta temporada. A asa traseira móvel passou a ser usada em 2011 depois que uma mudança de regras, em 2009, falhou na tentativa de diminuir a dependência aerodinâmica dos carros. Quando a asa está ativada, o carro oferece menos resistência ao ar e aumenta a velocidade.

A meta da F1 é deixar de usar esse sistema, que só pode ser ativado pelo piloto que está a menos de 1s do rival em áreas pré-determinadas da pista. Para o diretor técnico da Aston Martin, as regras de 2022 já podem ser suficientes para que isso comece a ocorrer. "Acho que podemos ver uma redução nas zonas de DRS ao longo do tempo e algumas delas podem ser removidas", disse Andy Green.

Esse seria o primeiro passo: em algumas pistas, como na Áustria, há três zonas de DRS. Então, se a F1 avaliar que as regras deram certo, a distância das zonas e seu número serão revistos e, só depois, o dispositivo será abandonado.

Para isso, contudo, é preciso que as regras funcionem, o que é apenas teoria por enquanto. "Tudo isso só foi testado no mundo virtual até agora, das simulações de computador ao túnel de vento, que não trabalha com turbulência. Vamos ver como essas novas regras vão interagir com os pneus e com o acerto dos carros. E também temos conseguido recuperar muito da performance perdida com o desenvolvimento aerodinâmico", lembrou o diretor técnico da Haas, Simone Resta.

Isso pode fazer com que os números de turbulência não sejam tão baixos em relação a 2021 quanto a F1 espera, mas espera-se uma mudança significativa. E não só no visual.

Os primeiros experimentos serão nos testes de Barcelona, entre 22 e 25 de fevereiro. A Fórmula 1 faz ainda outra bateria de testes no Bahrein antes de começar a temporada, também no país árabe, dia 20 de março.