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Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Do favoritismo a rodadas: o que deu errado para a Mercedes na pré-temporada

Lewis Hamilton, da Mercedes, durante teste da pré-temporada, no Bahrein - LAT Images/Mercedes
Lewis Hamilton, da Mercedes, durante teste da pré-temporada, no Bahrein Imagem: LAT Images/Mercedes

Colunista do UOL

15/03/2021 06h03

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Ninguém na Fórmula 1 esperava que a Mercedes tivesse uma pré-temporada tão complicada depois que o time ganhou com folga o campeonato do ano passado, mas a história foi muito diferente no Bahrein, onde o time até fez o melhor tempo no sábado, com Valtteri Bottas, mas colecionou problemas, ao mesmo tempo em que a rival Red Bull demonstrou que segue no mesmo caminho de evolução que tinha se iniciado no final do ano passado.

Lewis Hamilton terminou os três dias de testes com o quinto melhor tempo e Valtteri Bottas, com a marca que fez no sábado, foi o décimo no geral.

Logo que o carro da Mercedes saiu dos boxes pela primeira vez, houve uma quebra de câmbio que fez o time perder praticamente uma manhã inteira de testes. E, quando o W12 foi para a pista, era clara a dificuldade que os pilotos tinham com o equilíbrio. No caso de Lewis Hamilton, para piorar, o novo assento que o inglês fez para esta temporada não o agradou, e ele pediu para usar o antigo, além de também ter feito alterações nos pedais.

São problemas surpreendentes porque a maioria dos carros é considerada uma evolução em relação ao ano passado, até porque as mudanças estão bastante restritas devido à adoção de fichas de desenvolvimento, uma das respostas à pandemia. Porém, uma série de alterações feitas no regulamento visando diminuir a pressão aerodinâmica dos carros no assoalho, difusor e dutos de freio parece ter afetado mais o carro da Mercedes do que os rivais.

"O carro não está bem equilibrado. Estamos com dificuldades de fazer com que ele faça as curvas, basicamente. Se deixamos a frente do carro muito presa, o carro acaba girando muito. Isso não é um problema incomum de se ter, mas é algo que precisamos entender melhor e resolver", explicou o chefe de engenharia de pista da Mercedes, Andrew Shovlin.

Mas como foi exatamente este tipo de comportamento, que vem da perda da pressão aerodinâmica especialmente na traseira do carro, onde as mudanças do regulamento se concentram, que fez com que Lewis Hamilton rodasse em sua simulação de classificação nos minutos finais do teste, isso indica que os três dias de atividade no Bahrein não foram suficientes para a Mercedes se entender com o W12.

O comportamento arisco chamou a atenção dos rivais. Lando Norris, da McLaren, brincou dizendo que seu time tinha como melhorar o desempenho, mas que o carro "não parecia tão ruim quanto o da Mercedes. Houve vezes em que eles foram lentos na pré-temporada, mas dava para ver que o carro estava equilibrado e era só uma questão de configuração de motor ou algo do tipo. Desta vez, não é isso."

De fato, a avaliação de Shovlin é de que, no momento, "há vários rivais melhores do que nós em termos de ritmo de corrida, embora tenhamos melhorado um pouco o comportamento do carro".

Não é a primeira vez que eles visivelmente têm dificuldades de equilíbrio com o carro em testes. Isso aconteceu em 2017, também depois que entraram em vigor algumas mudanças aerodinâmicas. Naquele ano, a então rival Ferrari se aproximou bastante, mas a Mercedes se recuperou e venceu com tranquilidade.

Em 2021, há alguns fatores diferentes. A Red Bull parece ser uma rival mais consistente do que a Ferrari foi, especialmente entre 2017 e 2019. Mudanças que o time começou a implementar em seu carro desde o GP da Turquia do ano passado tornaram o equipamento mais previsível, e o RB16B recebeu elogios de Max Verstappen e Sergio Perez, que se mostraram rápidos tanto em suas simulações de classificação (Perez foi o mais rápido da pista quando fez o seu ensaio, e o mesmo aconteceu com Verstappen, que acabou com o melhor tempo de teste), quanto de corrida.

E o próprio poder de reação da Mercedes é menor por duas outras mudanças nas regras: eles agora têm direito a usar menos tempo para o desenvolvimento aerodinâmico do carro que as outras equipes, por terem sido campeões, e estão tendo de cortar um orçamento que chegou a mais de 400 milhões de dólares para entrarem no teto de 145 milhões, que entra em vigor em 2021. "E ainda temos de equilibrar isso com o carro de 2022, que será totalmente diferente e que só pôde começar a ser desenvolvido em janeiro por todas as equipes, então a grande dificuldade será julgar o quanto vale a pena focar no carro deste ano. Vai depender muito da situação de cada equipe no campeonato", explicou Shovlin.

Não há dúvidas de que a Mercedes pode melhorar o comportamento de seu carro, mas os heptacampeões não saem do teste com o mesmo favoritismo com que entraram. Com menos de duas semanas para a primeira corrida, que também será realizada no Bahrein, dia 28 de março, resta saber o quanto será possível recuperar.