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Paulo Anshowinhas

REPORTAGEM

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Brasileiras desbravaram a megarrampa e agora buscam giro perfeito no skate

A skatista Raicca Ventura, revelação do skate park e vertical - Pablo Vaz/ Divulgação
A skatista Raicca Ventura, revelação do skate park e vertical Imagem: Pablo Vaz/ Divulgação

Colunista do UOL

17/08/2022 04h00

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Depois da façanha de se tornarem as primeiras skatistas femininas brasileiras a "droparem" a Megarrampa de Bob Burnquist, na Califórnia (EUA), a dupla Raícca Ventura e Dora Varella parte agora para novos desafios.

Elas farão uma demonstração durante o campeonato de Mega Park, que começa neste domingo (21), em Curitiba, na pista da Green box, do skatista Gui Khury (com cerca de 9,8 metros de altura por 67m de comprimento). A competição contará com grandes nomes da modalidade vertical.

As paulistanas Raícca, de 15 anos, e Dora, 21, fazem parte da nova safra do skate feminino. Dora foi integrante da seleção olímpica em 2021 e terminou na sétima colocação em Tóquio. Ela lidera o ranking STU (Skate Total Urbe) do ano passado.

Raícca, por sua vez, desponta como nova revelação nacional com uma trajetória imbatível de vitórias por todas as competições que disputou no país. Ela é a atual bicampeã brasileira de skate park e vertical, e no final de julho acertou um aéreo de cerca de 1.80 m de altura no Vert Battle, em Atibaia, considerado o mais alto já realizado no Brasil.

Para completar, em 10 de julho passado, a dupla fantástica de skatistas de vertical conseguiu realizar outros feitos inéditos.

Dora foi a primeira mulher brasileira a "dropar" a Megarrampa de Bob Burnquist, de uma altura de cerca de 50 pés (cerca de 15 metros de altura), e também a fazer o "step up", realizando o "transfer" de uma rampa para a outra, enquanto Raícca foi a primeira mulher a acertar o "combo" (fazer o "drop", atravessar o "gap" - vão, e realizar um backside air no final).

Dora também foi pioneira no drop da Mega Park do americano Elliot Sloan, como também a primeira a encarar a rampa do Gui Khuri, em Curitiba.

A primeira mulher da história a realizar o "drop" foi a americana "Lynz" Adams Hawkins Pastrana, campeã mundial de vertical em 2009 e 2019, e três vezes campeã do X-Games, que desceu a megarrampa em Temecula (Califórnia) em 2004, mas nunca completou o "combo".

Raícca sonha em ser a melhor skatista do mundo, se acertar o "Five"

A coluna de skate de Paulo Anshowinhas no UOL Esporte bateu um papo descontraído com as meninas em duas ocasiões, e ambas buscam acertar com perfeição a mesma manobra: o "Five" (giro de 540 graus).

"Quando eu desci a Mega e acertei, não tinha a menor ideia que tinha sido a primeira mulher a acertar o combo", disse Raicca no inicio da conversa. "Eu e Dora somos amigas, independentemente de qualquer coisa, a gente sempre se incentiva, querendo que a outra acerte e foi muito legal", contou, ao descrever a experiência.

"Deu medo de descer a Megarrampa, mas eu estava com tanta vontade que eu fui com medo mesmo e deu tudo certo", contou Raícca sobre o primeiro "drop" do alto da rampa de 15 metros, que tem 112 metros de comprimento.

"Eu achei muito mais alto ao vivo do que nos vídeos, mas meu técnico (Cris Mateus - Técnico da Seleção Olímpica chilena, e da Escola Brasileira de Skate) disse para eu ir aquecendo na parte baixa e ir subindo, e deu certo", revelou.

"O meu sonho é ser a melhor skatista do mundo", conta Raícca, "Mas faltam algumas manobras como o 'Five', flip heel, varial flip. Mas não está difícil. Ao acertar, a gente chega lá e ganha", profetiza.

Para Dora, Mundial do Rio deve ser um "choque de realidade"

Dora Varella - Tauana Sofia/ Divulgação - Tauana Sofia/ Divulgação
A skatista brasileira de park e vertical Dora Varella, que dropou a Megarrampa
Imagem: Tauana Sofia/ Divulgação

Dora Varella, por outro lado, já andou no Mega Park de Elliot Sloan (semelhante em altura ao do Gui Khury, que ela irá encarar neste domingo), e tem o apoio do namorado, o skatista recordista de aéreo do X-Games Ítalo Penarrubia, que segundo ela "é o melhor coach do mundo".

Para Dora, um ano após as Olimpíadas, muita coisa mudou. "Eu vi uma diferença de evolução bizarra com o surgimento de novas skatistas em todo o mundo, e o Mundial do Rio deve ser um choque de realidade", analisa.

"Vi meninas desconhecidas realizando twists (540). Se antes havia 200 meninas andando bem, agora são 600 buscando vaga olímpica em uma clara mudança de mindset", avalia, realisticamente.

Assim como Raícca, Dora também planeja utilizar novas manobras que já estão em treinamento para garantir um pódio olímpico.

"O Five (540) e os flips são as que fazem toda diferença para sua linha ir para cima. Mesmo usando bem a pista, com uma borda legal, um aéreo bem alto, é preciso dar duro para ter o 'Five' e o flip no pé, que estou treinando neste exato momento e é o meu sonho desde que eu comecei a andar de skate", conta.

Dora é esportista por natureza e já praticou futebol, tênis, muay thai, boxe, vôlei, ginástica olímpica, natação. A brasileira se considera competitiva com ela mesma e diz que: "o skate me ensinou como tratar as pessoas, incentivar os outros, e ser você mesma sem depender dos outros. Aí me apaixonei, e queria fazer isso para o resto da minha vida. E não tem volta", sentencia.