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Joel Jota altera bio, diz que foi um dos melhores do mundo, mas renuncia

Joel Jota modificou ontem (18) parte de sua biografia publicada no próprio site. O trecho que dizia que "foi considerado um dos melhores nadadores do mundo" foi apagado depois da repercussão causada por uma postagem desta coluna. Horas depois, renunciou a uma função no Time Brasil, omitindo que seria mentor.

Em contato por telefone, defendeu sua carreira e explicou quem é o sujeito do oculto da frase. Quem o considera um dos melhores do mundo? Ele mesmo.

"Minha tese é a seguinte: já é difícil ser atleta, muito difícil ser convocado. Fui para Durban (África do Sul), nadei aquela prova e, num universo de muitas pessoas, fiquei em sétimo lugar, poxa vida. Só de chegar lá me considero um dos melhores", afirmou, admitindo que deveria ter explicado que partia dele a opinião de que ele foi um dos melhores do mundo, e não de um sujeito oculto.

O resultado citado por Jota aconteceu na primeira de oito etapas do circuito de Copas do Mundo de Piscina Curta da temporada 2005-2006, quando ele foi sétimo colocado nos 50 m livre, com o tempo de 23s07. O desempenho, em uma prova bastante esvaziada, o deixou em 104º lugar no ranking mundial daquele ano em piscina de 25 metros, que não é olímpica.

Ele diz que tirou esse trecho da própria biografia, ontem, porque a passagem ofendeu nadadores que, de fato, foram melhores do mundo. "O jeito que eu me coloquei está ferindo os caras? Então vou tirar isso. Mas não é uma mentira, é assim que eu me vejo".

O mesmo tom é adotado na apresentação de suas palestras, quando o telão exibe que Joel foi "um dos melhores nadadores do mundo de sua geração".

O coach, porém, alega que não tinha conhecimento de release disparado no ano passado, oferecendo entrevista com ele e divulgando livros dele, que dizia que Jota "chegou a receber o título de melhor nadador do mundo". Diz que a informação é falsa e que irá buscar os responsáveis pela mentira.

Quanto ao trecho que diz que ele é "considerado o maior treinador de alta performance do país", o ex-nadador explica que não está se referindo a treinador de esporte de alta performance, mas a treinador de carreiras de alta performance. Ele admite que essa frase aparecer em meio a citação de recordes, medalhas e feitos esportivos, pode deixar outra impressão.

Seleção e títulos

Joel refuta duas informações citadas em texto de quinta (18) deste Olhar Olímpico. Alega que foi convocado para disputar a Copa do Mundo de Durban, porque teve um dos 20 melhores índices técnicos do Troféu Finkel daquele ano, por um quinto lugar nos 50m borboleta.

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"Fui um dos quatro convocados, e tudo meu foi pago pela CBDA. Eu fui convocado pela seleção brasileira para uma disputa em que representava o meu país", argumenta. Na natação, é comum usar o termo "seleção" para nomear equipes que vão a competições prioritárias.

Em 2005, o Brasil organizava uma etapa de Copa do Mundo e tinha obrigação de mandar um mínimo de quatro atletas para as demais, com os melhores do país tendo preferência para as etapas mais interessantes. Assim, coube a Joel a oportunidade de representar o Brasil na África do Sul.

Ele também diz que foi campeão brasileiro em provas de revezamento 4x50m, que não são olímpicas, no adulto e na base. Essas especificidades não constam em nenhuma descrição dele em redes sociais ou em seus materiais de divulgação. "O público admira um ex-atleta chegar onde eu cheguei e eu não estou mentindo. Fui campeão do 4x50m, o público quer saber só que foi campeão. A gente não precisa do detalhinho, da semântica."

Desistência

Na entrevista, por volta das 19h de quinta (18), Jota explicou por que seria mentor do Time Brasil nas Olimpíadas. Pouco depois da conversa, e antes da publicação desta entrevista, informou pelo Instagram que estava renunciando ao chamado, mas passou a dizer que seria "padrinho".

O posto é diferente do divulgado pelo COB nas redes sociais do comitê e do falado pelo diretor de marketing do COB, Gustavo Herbetta, em entrevista ao podcast do próprio Jota. A entrevista foi retirada do ar.

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Já na madrugada, Jota informou aos seguidores que havia sido convidado para ser "padrinho", que tem a função de "apoiar a delegação e promover o espírito esportivo, usando sua influência junto ao público". Há uma diferença entre os cargos, porém. O padrinho atua nas redes sociais, mas não vai a Paris. O ex-nadador disse ao UOL que iria à França, e, ao Estadão, que teria tudo pago pelo COB, inclusive recebendo cachê.

No Instagram, mudou a versão e disse que deixaria seus negócios de lado "sem qualquer remuneração" para ir à Olimpíada. Na postagem, de sete slides, ele não escreveu nenhuma vez a palavra "mentor", que é o cargo que foi atribuído a ele pelo COB e divulgado por ele próprio.

"O mentor não é do atleta. É mentor do time, do COB, dos dirigentes, da missão, do gestor. Em alguns momentos vou dar uma palestra para o time de missões, para o time de logística, time de chefes de delegação. E mentoria do que? Da minha área que sou especialista: de carreira, gestão de tempo, inteligência emocional. Não é de natação", ele disse quatro horas antes de informar que teria o cargo de padrinho, somente.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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