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Sobrinho-neto de Michel Temer troca Itália pelo Brasil por seleção de rúgbi

Jogador da primeira divisão do rúgbi profissional italiano, Lorenzo Massari costumava passar períodos curtos no Brasil treinando com a seleção brasileira. Seu vínculo com o país dos Tupis, porém, não é nem um pouco pequeno. Ele chama de tio-avô um homem que os demais chamam de ex-presidente da República.

Lorenzo é sobrinho-neto de Michel Temer, que presidiu o Brasil entre 2016 e o fim de 2018 e que, antes, foi vice-presidente. "Quando ele ainda era vice, eu vim para o Brasil e fomos visitar ele na casa dele. Eu que sou parente fiquei todo nervoso, mesmo ele sendo meu tio. É uma situação surreal", conta.

O jogador, atualmente com 26 anos, nasceu no Brasil e aqui viveu até os sete. Mas cresceu e fez carreira na Itália, passando pelas academias de formação da seleção italiana. "Dos 15 aos 17 eu morei em uma academy. A gente dormia lá, treinava, ia para a escola. Fiz todo meu percurso na federação italiana, estava na lista para ir para o M20 [como é chamada a seleção masculina sub-20], mas foi outro rapaz e eu acabei ficando de fora do percurso das seleções", conta.

Sem espaço para jogar pela Itália, Lorenzo logo foi lembrado pelo Brasil. O pai dele jogou rúgbi, deixou amigos em Curitiba, e sempre atualizava um deles sobre a carreira do filho. "Um dia ele mandou um highlight meu, esse amigo passou para um olheiro da seleção, que passou para o técnico. Mas eles já tinham ouvido falar de mim por um colega que também joga na Itália e que me recomendou".

Na base do boca a boca, Lorenzo ganhou uma chance na seleção brasileira, e não largou mais, ainda que seguisse passando muito mais tempo na Itália do que com os Tupis (como o time brasileiro é conhecido). Ele estudou Comunicação e Cinema em Milão e jogava pela equipe da cidade.

"Quando escolhi minha faculdade me deparei na importância de ter uma formação legal. Ajuda a formar, a saber pensar. Isso foi muito bom. A coisa boa da academy da seleção italiana é que a gente treinava muito, mas a escola era de ótimo nível". Desde então, virou um apaixonado por arte, e tenta passar esse gosto adiante.

Enquanto não consegue conciliar o esporte com uma carreira cinematográfica — mesmo quando tentou ajudar a comunicação da CBRu com gravações no treino percebeu que não faria nenhuma das duas coisas direito —, ele tenta ampliar o time dos admiradores da arte. Organiza passeios a museus nas viagens com a seleção e passa recomendações de filmes. Na Itália, chegou a montar cineclubes, para mostrar as obras-primas do cinema aos colegas.

Há alguns meses, Lorenzo veio morar no Brasil. Entrou de cabeça no grande projeto do rúgbi brasileiro: levar os Tupis a uma Copa do Mundo masculina, maior torneio da modalidade. A seleção nunca passou perto da vaga, mas Uruguai e Chile já se classificaram ao próximo Mundial, na Austrália, e escancararam o caminho para o Brasil.

Na prática, a seleção precisa ser melhor que Colômbia e Paraguai no CIRCUITO, em jogos que serão realizados no meio deste ano e no meio de 2025. Se ficar em segundo, ainda deverá ter a chance de jogar uma repescagem contra o pior entre Canadá e EUA — por discrepância técnica e física, o que gera risco de lesões, times com nível mais baixo sequer entram nas eliminatórias.

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"Está dependendo tudo da gente. Entrou um novo treinador que veio com o projeto de levar a gente para a Copa, e eu comprei essa missão junto deles. A gente está trabalhando muito na parte física, desde dezembro fazendo pré-temporada, mesmo enquanto joga campeonato [o Super Rugby Americas, com a franquia dos Cobras]. Eu estou exausto e esperando que todo esse trabalho que a gente está fazendo, que ainda não dá para ver, dê resultado em julho."

Lorenzo acredita que levar o Brasil a uma Copa do Mundo é uma das formas de fazer o rúgbi furar a bolha. No que cabe a ele, tem tentado. Na última vez que esteve com o tio-avô famoso, que sempre liga nos aniversários, pegou uma carona de Tietê a São Paulo com o ex-presidente, e fez o percurso falando de rúgbi no "Uber presidencial".

"Eu tentei conversar com ele, mas ele é bem político. Fui falando como o rúgbi seria bom para desenvolver projetos sociais. Ele falava 'ah, que legal', mas não saía disso. Sempre tentei acessar para trazer mais patrocínios para o rúgbi. Ainda não deu, mas vou continuar tentando. Ele não é mais presidente, mas tem influência."

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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