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Nova geração da esgrima dá as caras no Pan e encerra jejum de 56 anos

O Brasil se preparava para organizar as Olimpíadas no Rio, em 2016, quando Alexandre Camargo pintou como grande promessa da esgrima brasileira, vencendo o Campeonato Pan-Americano Júnior na espada. Só sete anos depois, ontem (30), aos 24 anos, ele ganhou sua primeira medalha em uma grande competição adulta, levando o bronze nos Jogos Pan-Americanos de Santiago (Chile).

"Na esgrima, o problema é que demora muito para aparecer o resultado. Na minha categoria tem gente muito velha, caras de 40 anos, que são tops do mundo. Experiência demora para se conseguir, e a evolução é muito lenta. Se a pessoa não tiver o passo a passo, não consegue crescer. Talentos se perdem, mas quem persiste em buscar a evolução acaba indo bem", diz Alexandre.

Ontem, ele foi um dos dois brasileiros a ganhar medalha no primeiro dia de competições individuais da esgrima, um desempenho incomum para a esgrima do Brasil. Na espada masculina, por exemplo, só Arthur Cramer, em Winnipeg/1967, 56 anos atrás, havia chegado tão longe.

A outra medalha, também de bronze, veio com outra atleta de 24 anos, Mariana Pistoia, que tem história parecida. Ela também brilhou na base, foi vice-campeã pan-americana júnior em 2017 no florete, e só recentemente passou a ter bons resultados internacionais adultos.

"Eu entrei na equipe adulta um pouco antes, ela depois, mas chegou arrebentando tudo. É um momento nosso, e se não for nessa a Olimpíada que seja o estouro, que seja na próxima", diz Alexandre.

De Santiago a Paris

O Pan não vale para o ranking mundial e para a corrida olímpica, mas serve de referência para mostrar o nível dos brasileiros. Mariana tem boas chances de ir a Paris. Ela é a número 53 do ranking mundial e pode se classificar como a melhor do continente — as norte-americanas, que provavelmente terão equipe completa, não entram na conta.

"Eu queria muito essa medalha por ser uma coisa inédita para mim. Meu objetivo do ano não é esse, do ano que vem não é esse, é a classificação para as Olimpíadas. Esse é meu foco a partir de agora. É voltar para casa e começar a pensar em ir para a Europa", comentou Mariana.

Alexandre ocupa posição semelhante, é o 62º da espada masculina, mas aparece muito distante do colombiano John Rodriguez, que é o 10º do mundo e melhor das Américas. Em Santiago, os dois se encontraram nas quartas de final, com vitória do brasileiro, que também havia eliminado Nicholas Zhang, do Canadá. Uma campanha histórica, que poderia ser ainda melhor se não fosse um tropeço inesperado para o azarão chileno Pablo Catalán, na semifinal.

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Passado o Pan, ele vai para a Itália, onde fará quatro meses de estágio de treinamento visando ao Pré-Olímpico, um torneio que só classifica o campeão, mas que é o único caminho viável para ele ir a Paris. "A classificação da esgrima é dura, é intensa, o nível é alto, muita gente forte acaba não indo. Agora é pegar a experiência com esses caras e levar para a competição."

Pistoia tem o ranking mundial como plano A, e o Pré-Olímpico como B. Para se garantir nesta segunda competição como representante do Brasil, ela teve que participar de todas as etapas do circuito nacional em 2023. Precisando também competir no exterior, contou com a ajuda dos professores da pós-graduação em direito processual que ela faz no Rio Grande do Sul. Mariana é formada em direito e sonha em ser juíza.

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