Topo

Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Uma arquibancada em transe, sem homens e sem violências

Só mulheres e crianças viram Coritiba x Aruko no estádio - Rafael Ianoski/Coritiba
Só mulheres e crianças viram Coritiba x Aruko no estádio Imagem: Rafael Ianoski/Coritiba

Colunista do UOL

17/01/2023 06h40

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Toda mulher que ama futebol já sonhou com uma arquibancada sem violências contra nossos corpos, nossa dignidade e nossa moral.

Um lugar onde nossa voz ecoasse alto, onde fosse possível ficar sem camiseta, apenas de top, sem achar que seremos sexualmente importunadas. Manto em mãos, chacoalhá-lo sobre a cabeça e pular em demonstração de amor ao time.

Um lugar onde pudéssemos levar crianças sem o receio de que iriam se machucar.

Um lugar onde tudo o que houvesse fosse a paixão desmedida que não tem medo de se revelar.

O Coritiba mostrou que esse lugar pode existir.

No dia 15 de janeiro havia apenas mulheres e crianças no Couto Pereira para a estreia do Coxa no Paranaense.

A ação ocorreu após decisão do TJD-PR, que acatou e reverteu parcialmente a perda de mando pelas confusões no primeiro clássico contra o Athletico de 2022. O Coxa foi punido com um jogo com portões fechados e o Furacão com dois jogos sem público.

Foi uma maneira criativa e inédita de mudar uma decisão judicial.

As imagens emocionam e o que me comove de forma mais intensa é a voz que vem da arquibancada: uma voz feminina.

As torcedoras do Coritiba escancaram o que já era intuído: nós existimos nesse mundo tão masculino do futebol.

Nós torcemos. Nós consumimos. Nós amamos um time do mesmo jeito que vocês.

E fazemos isso a despeito de sermos maltratadas e excluídas: insistimos em amar um jogo que é abusivo contra nossa moral, nossa dignidade e nossos corpos.

Parabéns ao Coxa e às mulheres que nesse 15 de janeiro fizeram história.