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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A história do time que nunca perdeu

Torcida do Vasco se manifesta contra a homofobia antes de jogo contra Operário - Thiago Ribeiro/AGIF
Torcida do Vasco se manifesta contra a homofobia antes de jogo contra Operário Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Colunista do UOL

26/06/2022 12h02

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O time foi formado por alguns bons amigos da pequena cidade no interior do estado. Não demorou a ficar famoso porque jogava sempre de forma fenomenal.

As vitórias iam se empilhando e um empresário decidiu investir no time e profissionalizá-lo. Com dinheiro, o time ficou ainda mais poderoso. Em pouco tempo, estava jogando o campeonato estadual, a série D, depois a C, a B e finalmente chegou à divisão principal. Tudo isso sem nunca ter perdido ou sequer empatado. Virou fenômeno internacional. Torcedores apareciam do nada e houve até quem virasse casaca para poder apoiar aqueles que nunca perdiam.

Depois de alguns anos, tendo conquistado tudo o que disputou, a torcida começou a deixar de frequentar os estádios. Preferiam dar uma espiada pela TV apenas para saber de quanto venceriam.

Os jovens que aprendiam a gostar de futebol já não se interessavam pela camisa do time que nunca perdeu porque iam ao jogo atrás de alguma emoção. O time foi minguando no apoio que vinha da arquibancada até se tornar um multi-campeão sem torcida. Seguia atraindo investidores, ficava a cada dia mais rico, mas não era mais desejado.

Os rivais, passaram a celebrar vice-campeonatos com a alegria dos campeões. O time que nunca perdia estava isolado em sua exuberância vencedora vendo, de seu pedestal, os adversários lotarem estádios.

Um dia, nem mesmo os empresários quiseram mais investir no time que nunca perdia e voltaram seus interesses aos que perdiam.

Perder é parte pulsante de estarmos vivos. Lidar com a perda é muito do que nos torna humanos. É o que tece empatia e compaixão.

Ganhar ensina a gente a ser alegre. Mas é perder que ensina a gente a amar.

O que tenho visto a torcida do Vasco fazer nas arquibancadas tem me emocionado demais.

Cresci sendo incentivada a detestar o Vasco. Meu pai, tricolor, ficava muito arrasado nas derrotas para Vasco e Flamengo e eu, imediatamente, coloquei esses dois clubes na lista de inimigos. Mas a gente cresce e amadurece. Ou deveria.

O Vasco, que sempre esteve associado às mais nobres lutas, e que há duas temporadas joga a série B, tem dado constantes lições de amor e empatia para quem estiver disposto a escutar. Dentro e fora de campo. A torcida absorveu como nenhuma outra a luta contra a LGBTfobia e hoje, em São Januário, bandeiras e camisas em homenagem ao movimento podem ser vistas fartamente.

A torcida do Cruzeiro, aliás, tem dado exatamente a mesma demonstração de amor nas arquibancadas, ainda que não tenha encampado as lutas sociais como a do Vasco.

Amar um time quando ele está em fase arrasadora é bastante fácil. Amar quando as coisas não estão assim tão maravilhosas é que é divino.