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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Em cerimônia de sorteio, Conmebol aprofunda o blablablá contra o racismo

Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol, durante sorteio da Sul-Americana e da Libertadores 2022 - Reprodução/Youtube
Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol, durante sorteio da Sul-Americana e da Libertadores 2022 Imagem: Reprodução/Youtube

Colunista do UOL

27/05/2022 13h24

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A antecipada cerimônia de sorteio do chaveamento das próximas fases da Libertadores e da Sulamericana começou com um discurso do presidente da Conmebol, o paraguaio Alejandro Dominguez.

Em cerca de cinco minutos, talvez menos, ele falou sobre o racismo. Sorrindo, disse que o racismo deve ser evitado. "Evitem", pediu.

Evitem, meus caros.

É assim que a Conmebol luta contra o racismo. Pedindo educadamente que "los hinchas" evitem-no.

Resistam à tentação. Como café depois das 16h: melhor não.

Mas teve mais frases de efeito.

"Não podemos permitir a discriminação e muito menos o racismo", disse o cartola.

Muito menos o racismo.

O que isso quer dizer? Homofobia, então talvez, dependendo da circunstância, pode. Misoginia idem. Machismo também.

Um discurso vazio e sem sentido.

Só não foi lamentável porque pelo menos foi.

Pelo menos teve discurso contra o racismo. Verdade. Mas o efeito de palavras jogadas ao vento sem nenhum tipo de paixão, engajamento e interesse beira o zero.

Nem palavras, nem multas terão efeito nessas lutas.

Eliminação dos times é a medida sobre a qual importa falar. Deveria começar daí o repúdio.

Claro que discursos são necessários, mas o tom tinha que ser completamente outro. Forte, contundente, revoltado, transtornado.

O senhor Dominguez, um homem branco, falou contra o racismo como minha mulher fala contra o coentro. E ainda com um sorriso levemente ajeitado no canto da boca. Como quem tenta disciplinar o adorado animal de estimação que fez xixi na sala: nada de contundência, nada de raiva, nada de revolta.

Todo esse dengo na voz é medo de provocar a fúria do torcedor (cliente/consumidor) racista? Talvez.

É lamentável que assim seja.

Fora isso, uma cerimônia que tenta imitar em tudo as cerimônias de sorteio da UEFA. Como quase sempre acontece quando tentamos imitar hábitos e costumes do colonizador, as imitações ficam cafonas e apequenadas.

Triste que esses sejam os regentes do nosso futebol. Todos com a mesma cara, as mesmas roupas, uma mesma mulher "cota" ao lado deles.

O futebol é maior do que essas pessoas e essas formalidades, e resiste a todo esse cerimonial. Nossa sorte está aí.

Que venham as oitavas.