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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O triste fim do craque Romário

Romário exibe a bandeira do Brasil na volta ao país - Folhapress
Romário exibe a bandeira do Brasil na volta ao país Imagem: Folhapress

Colunista do UOL

07/05/2022 11h31

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Em contexto histórico, para falar de Romário precisaremos usar dois registros: o do craque nos campos e o do político que se aliou ao fascismo bolsonarista. Não haverá mais como falar de Romário sem trocar de chave.

Quando começou sua vida parlamentar, o ex-jogador parecia estar conectado às causas mais necessárias, como as políticas públicas de inclusão para pessoas com deficiência. Mas o jogo seguiu e ele foi entortando para a direita e depois para a extrema direita.

No final de 2021, o craque disse que "antes de Bolsonaro, nosso país estava uma merda" para justificar seu apoio à liderança excludente, autoritária, racista, machista, misógina, classista, autocrata, anti-democrática e LGBTfóbica exercida pelo Presidente da República.

Alguém que diz que estamos agora melhor do que estávamos antes ou foi infectado por um tipo de ignorância aterradora ou está sendo hipócrita para além do que seria tolerável. Um mínimo de apego aos fatos, às notícias, às imagens, às dores e aos horrores que estamos vivendo seria decente.

Depois de três anos de Bolsonaro no poder, não há mais como se aliar a ele sem se afundar em sua lama ética. Mas Romário faz isso com a mesma segurança com que entrava na área para finalizar.

Bolsonaro, assim como um chute de bico de Romário na entrada da pequena área, é indefensável. Buscar argumentos para defendê-lo é compactuar com seus crimes. Não há mais como dialogar com aqueles que ainda ousam ficar ao lado do mais perverso presidente que esse país já teve.

Aliar-se a ele é concordar com todos os seus valores.

Aliar-se a ele é, portanto, apoiar o uso de um vírus mortal como arma biológica contra a própria população, é virar os olhos para os gastos nababescos em seu cartão corporativo, é avaliar que mulher é fraquejada, que estupro pode ser elogio, que negro se mede em arroba, que melhor filho morto a filho gay, que adversário político pode ser fuzilado, que a tortura é boa e que um torturador que torturou mães na frente de seus filhos pode ser chamado de heroi.

Apoiar Bolsonaro é acreditar que tudo vai bem num Brasil que come pó de osso para sobreviver, que a Amazônia pode e deve ser queimada em nome do progresso, que indígenas são pessoas inferiores.

Romário está de mãos dadas a toda essa miséria moral.

E agora, em vez de Bebeto, articula para tabelar com Rogéria Bolsonaro - mãe dos Bolsonaro Carlos, Eduardo e Flávio - nas próximas eleições.

Diante de todo esse horror é certo que estamos testemunhando daqui das arquibancadas da vida o triste fim de um ídolo.