Luxemburgo: 'Voltei pela Libertadores e pelo Mundial'
O anúncio da contratação de Vanderlei Luxemburgo no final de 2019, depois de uma longa negociação com o argentino Jorge Sampaoli, foi impactante - para não dizer surpreendente.
Mesmo dono de tantos títulos no Palmeiras, a volta do treinador ao clube não foi recebida com os mesmos aplausos destinados a outro grande vencedor pelo clube - Luiz Felipe Scolari em seu retorno no ano anterior.
A divisão radical das opiniões, entre adoradores e críticos, ficou clara nas discussões de bar e nas redes sociais.
Luxemburgo? "Não liguei. Sei como são essas coisas. E sei da minha capacidade. Não estou atrasado e vai ficar claro no trabalho", afirmou com sua serenidade pontuada de aumento gradual de tom de voz quando o assunto é espinhoso.
Em entrevista exclusiva a esse BLOG, Luxemburgo falou sobre as críticas que recebe, sobre o papel que acredita que a CBF deveria assumir, sobre o Palmeiras, claro, e sobre o Luxemburgo 2020: "Voltei para ganhar o que eu não ganhei ainda: a Libertadores e o Mundial."
Menos polêmico, mas o mesmo Luxemburgo de outras temporadas. A diferença parece estar na satisfação de voltar a ser técnico de um time capaz de lhe recolocar em pôsteres de campeão.
Seguem os principais trechos:
MARÍLIA RUIZ: Há quem o considere atrasado. Depois de tantos anos de profissão, o que você considera atrasado no futebol em 2020?
VANDERLEI LUXEMBURGO: Não tem isso de atrasado. Tecnologia e métodos de trabalho sempre foram coisas que eu usei e inovei. Tática também não é uma novidade. Tem gente que pega o que eu falo para usar contra mim, mas futebol é mais complexo. Tem o fator humano. Tem o dia a dia. Mas quando querem rotular alguém, usam a mesma coisa. Sobre o que eu ainda acho atrasado? Talvez a concentração. Mas aqui no Brasil é difícil de acabar com ela. É cultural.
MR: Você não acha o calendário atrasado? O calendário desconsidera que o futebol brasileiro não é uma bolha... A CBF não deveria ser mais parceira dos clubes do que é?
VL: Todo ano falamos de calendário, é verdade... É complicado. Mas acho que CBF deveria ter um papel ainda mais importante ainda. Deveria obrigar os clubes a retransmitir um curso de educação a distância para todos os clubes que quisessem participar de um campeonato, por exemplo.
MR: E qual seria o papel que a CBF?
VL: Deveria usar recurso próprio e bancar isso. Quer ter filiação à federação do seu estado? A CBF bancaria esse sistema para que os jovens das categorias de base tivessem mesmo um diploma antes de se profissionalizar. E depois disso também. Jogador poderia estudar se quiser. Hoje é impossível você jogar e se formar em alguma e esse é um grande problema da categoria.
MR: Falando em carreira, seu retorno ao Palmeiras tem ou pode ter enredo de volta por cima. Você encara assim?
VL: Não voltei ao Palmeiras por isso.
MR: Por que você voltou?
VL: Para ganhar o que eu ainda não ganhei: a Libertadores e o Mundial.
MR: Em 2020?
VL: Meu objetivo não tem data. Mas tenho motivação, e o Palmeiras não me contratou para menos.
MR: Ao lhe contratar, o Palmeiras espera que você não só dirija um time de elenco caro, mas que recupere algumas peças que ainda não renderam o esperado...
VL: Claro, mas tenho liberdade.
MR: Como motivar um time que tem sido tão vencedor, mas que agora vê o Flamengo em "outro patamar", como diria Bruno Henrique?
VL: Estamos no Palmeiras. Pensamos no Palmeiras. O Dudu, por exemplo, precisa querer fazer mais gols. Precisa voltar a pensar em Seleção Brasileira. Comigo ele vai voltar à Seleção.
MR: Mas para competir o Palmeiras será mais agressivo no mercado (a entrevista foi feita antes da confirmação da contração de Rony)?
VL: O clube está com uma política diferente de contratações neste ano, mas posso garantir que o torcedor terá um time reforçado. Agora ou no meio do ano. Estamos trabalhando em silêncio.
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