Genialidade de Mahomes expõe o problema do futebol americano
O Kansas City Chiefs ganhou o Super Bowl de novo. É campeão do futebol americano pela terceira vez, na sexta temporada completa de seu quarterback, Patrick Mahomes.
O rapaz é um gênio. Tem apenas 28 anos, nunca teve lesão séria como profissional, arremessa a bola oval de maneira pouco ortodoxa quando precisa, corre com a bola, tem controle total de quase tudo o que acontece em campo. É consenso, ainda dá para jogar mais e ele ganhará mais títulos. Em Kansas City? Provavelmente. Mas, se quiser mudar, pode mudar de time. O time em que ele cair será automaticamente favorito.
E é aí que mora o problema. Ou, pelo menos, o problema para os adversários e para quem gosta de competitividade no esporte.
A NFL é uma liga de quarterbacks. Sim, há 53 jogadores no elenco de cada time, tem especialista para tudo: os caras que atacam, que defendem, que chutam, que pegam gatorade para o craque, etc. Mas, por mais coletivo que o esporte seja, o que importa mesmo é teu quarterback. Não há esporte no mundo em que um jogador seja tão mais importante que os outros como acontece no futebol americano.
Para a Liga, talvez isso represente dinheiro. Mas e para o esporte? Fica cada vez mais claro que o time campeão (por anos) não será o que trabalha melhor o elenco, vende mais produtos, tem mais torcida. Quem ganha é quem encontra o melhor quarterback possível. E é simples assim.
O New England Patriots nunca havia sido campeão. Arrumou um Tom Brady, ganhou seis vezes. Brady foi para o Tampa Bay já veterano, o Tampa Bay ganhou também. O Kansas City Chiefs tinha só um título, lá em 1969. Arrumou um Mahomes e já ganhou mais três. O San Francisco 49ers, perdedor do Super Bowl ontem, ganhou quatro títulos quando tinha o lendário Joe Montana no comando, nos anos 80. Ganhou mais um na esteira de sucesso, com o também craque (mas não tanto) Steve Young. Nunca mais acertou um quarterback deste nível. Nunca mais foi campeão.
Óbvio que há exceções aqui e ali e, como os playoffs são disputados em partidas únicas, há sempre margem para algo diferente. Mas dinastias, times supercampeões, só existem mesmo na esteira de um quarterback genial. Não adianta ter um corredor genial ou um recebedor genial ou um chutador genial ou um pegador de gatorade genial. Ajuda. Mas o que decide mesmo é ter um quarterback fora-de-série.
Se Mahomes se machucasse, os Chiefs, se bobear, nem mesmo se classificariam para os playoffs. Neste ano, o corpo de recebedores dele tinha Travis Kelce, o namorado da Taylor Swift, que tem números de craque (mas será que é tudo culpa do Mahomes?) e um monte de outros recebedores meia boca. Os 49ers vêm há anos construindo um time completo em todos os setores, mas não têm um Mahomes. Dançaram, apesar do equilíbrio e do Super Bowl decidido na prorrogação. Jogo decidido por... Mahomes, claro.
O que os americanos gostam é de show e de dinheiro girando. A NFL é um caso de sucesso. Mas é um problema quando você já sabe quem vai ganhar e falta só definir quantos recordes o gênio terá e quem irá superar. O jogo fica unidimensional, jogado só da mesma forma, perde cor, perde alternativas. Para os caras da grana, o problema nem é tanto esse que eu aponto (por gosto pessoal), mas é um pepino quando o gênio cai em um clube de uma cidade média e pouco importante para o país. Certamente eles não querem que não haja um Mahomes - o que querem é que o cara caia em um time de Nova York.
A solução para isso, eu não tenho. Não sei se é possível conter os gênios. No futebol, até é. No futebol americano, uma escolha certa é a diferença entre passar uma década ganhando ou anos e anos e anos em desesperança.
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