Julio Gomes

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Arbitragem, polícia e torcida foram mais vergonhosos do que a seleção

Fernando Diniz tornou-se nesta terça o primeiro técnico a perder um jogo com a seleção em casa pelas eliminatórias. O segundo da história (o outro foi Lazaroni, em 1989) a perder três partidas seguidas com a seleção principal. Mas acho impossível falar do superclássico do Maracanã sem falar da arbitragem. Foi uma vergonha completa.

O árbitro chileno Piero Maza atuou exatamente como a Argentina queria. De Paul, só de cair três vezes no chão com a mão no rosto, arrumou dois amarelos e um cartão vermelho. O juiz apitou falta em todo e qualquer lance em que os jogadores brasileiros chegavam junto, beneficiando quem não queria jogo. Mostrou amarelos exagerados para o Brasil, não usou o mesmo critério para a Argentina. Foi complacente com a cera argentina, que levava um minuto para cobrar cada lateral. Deu vergonhosos 3 minutos de acréscimos no primeiro tempo, quando o jogo ficou parado por pelo menos 7. Maza foi um aliado e tanto para o que a Argentina veio fazer.

A polícia carioca eu já critiquei em outra postagem. Considerou o jogo de baixo risco e é cúmplice da CBF ao ter permitido que a organização do jogo vendesse carga total de ingressos, sem separação de torcida. Depois, quando a coisa esquentou entre machões dos dois lados, saiu dando porrada como se não houvesse amanhã. Um despreparo total. O Brasil começou perdendo o jogo ali.

Continuou perdendo quando parte do Maracanã vaiou André e Diniz antes de a partida começar, o que demostrava que havia um Fla-Flu nas arquibancadas. Quando o jogo estava empatado no segundo tempo, a parte da torcida flamenguista começou a cantar músicas de apoio ao clube. Aos 37 minutos do segundo tempo, centenas de pessoas já estavam indo embora do Maracanã. Aínda deu tempo de gritar "time sem vergonha" para os jogadores e "olé" quando a Argentina trocava passes.

Seria inaceitável mesmo se tivesse perdendo de 4 a 0. É o Brasil, é o Maracanã, é jogo contra a Argentina. Isso é um sinal claro de como os torcedores gourmet de hoje em dia são mimados e não sabem conviver com frustrações, com nada que não seja o que eles querem que aconteça. Foi mais inaceitável ainda considerando como a arbitragem influenciou na partida e que ainda havia bola rolando e a chance do empate.

O Brasil foi uma vergonha em campo? Não foi. Jogou mal? Jogou. Péssimo? Não. O primeiro tempo foi totalmente condicionado pela briga da arquibancada. Um jogo para lá de tenso e que a arbitragem não soube conduzir. A Argentina tentou durante toda a partida manter a posse no meio de campo, sem a menor intenção de atacar, até porque Messi estava nitidamente abaixo fisicamente. O Brasil conseguiu ajustar a marcação no meio de campo, diferente do que fez contra a Colômbia, mas as jogadas de ataque foram prejudicadas por decisões quase sempre ruins de Martinelli (apesar dos bons dribles) e Raphinha.

No segundo tempo, o Brasil voltou bem e jogou por 10 minutos. Teve uma chance com Raphinha e uma clara com Martinelli, que não finalizou bem após grande jogada de Gabriel Jesus. A partir daí, nitidamente cansou. Os quatro atacantes não pressionavam mais pela bola como no primeiro tempo. Foram alguns minutos em que ficou claro que Diniz precisava ter colocado sangue novo. Não colocou. A Argentina, muito inteligente, percebeu a oportunidade, foi à frente, conseguiu um escanteio e fez o gol. Depois, voltou ao seu jogo e com a complacência da arbitragem.

O jogo do Brasil foi ruim, mas não foi tão vergonhoso quanto a arbitragem e o que vi nas arquibancadas do Maracanã.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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