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Julio Gomes

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Gabriel Jesus volta a mostrar que é confiável e mais completo que Gabigol

Gabriel Jesus durante jogo da seleção brasileira pelas eliminatórias - Lucas Figueiredo/CBF
Gabriel Jesus durante jogo da seleção brasileira pelas eliminatórias Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

09/06/2021 04h00

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Muitos dizem que as Eliminatórias Sul-Americanas são uma grande enganação. O Brasil ganha de todo mundo e, na hora H, contra os europeus, se dá mal.

Não concordo. Acho as Eliminatórias Sul-Americanas são extremamente competitivas. São raríssimos jogos fáceis, há muitos fatores geográficos pesados e duvido que uma seleção europeia vencesse, com o pé nas costas, seis de seis, como o Brasil fez até agora. Mas, sim, há um desnível. Os jogos são tão competitivos que alguns fatores táticos e técnicos ficam em segundo plano. Na Copa do Mundo, tais fatores são fundamentais, e aí os duelos contra os europeus ficam perigosos.

Fiz um preâmbulo para chegar ao debate sobre os Gabrieis: Jesus x Gabigol.

Quem considera a Eliminatória Sul-Americana "café com leite" dirá o que do Brasileirão versus Premier League? Ou da Libertadores versus Champions? De Gabigol versus Gabriel Jesus?

Historicamente, jogadores atuando (bem) no futebol brasileiro ganham um enorme lobby para ocupar espaço na seleção. Porque os caras estão aqui do lado, fazem gols a favor ou contra o time do coração de muita gente, são os jogos que todos assistem. Não podemos perder de vista, no entanto, que o nível defensivo que eles enfrentam, seja individual, seja de sistema, é muito inferior.

Não acho absurdo Gabigol ocupar um espaço na seleção. Até porque há um outro fator muito importante: confiança. Atacante que se acostuma a fazer gols e que vive grande fase pode carregar este tipo de confiança para uma competição como a Copa do Mundo. Outro pode até ser melhor e jogar contra caras melhores, mas não entra em campo com o mesmo "cheiro" de gol.

Mas esse tipo de coisa só vale às vésperas da Copa. Convém guardar uma vaguinha no elenco para quem estiver vivendo um enorme momento, independente do histórico. Ou para algum jovem que possa viver a experiência de uma Copa, pensando nas próximas.

Gabriel Barbosa pode se encaixar neste perfil lá na frente. Ele ainda é novo e pode ter uma nova chance de jogar na elite da bola. Mas, neste momento, não dá para colocá-lo na mesma prateleira de Gabriel Jesus. E nem de ninguém que atue consistentemente no alto nível europeu.

Jesus foi um titular desde o início da caminhada de Tite na seleção. É um jogador de garantias. Um garoto cabeça boa, que atua em um dos melhores times do mundo, que está desenvolvendo seu jogo com o melhor treinador do mundo (Guardiola), com grande noção coletiva. E que mostra boa capacidade de adaptação, como vimos ontem, contra o Paraguai.

Jogando pelo lado direito, fez uma partida enorme. O lance do primeiro gol é todo dele, dominando com muita classe um lançamento longo e criando a jogada de profundidade. O cruzamento acabou no gol de Neymar. Jesus e Neymar, que ainda deu a assistência para Paquetá fazer o segundo, foram os melhores da seleção.

Muitos pegam no pé por Gabriel Jesus ser um atacante que "não faz gol". Bem, ele fazia... quando enfrentava babas por aqui. Na seleção, os jogos são mais duros. E entre empurrar uma bola para dentro ou criar uma jogada de gol para outro concluir, o saldo final é o mesmo: um gol para o time.

O futebol de Jesus está em um estágio bem superior ao de Barbosa. Repito: não é absurdo apostar, pertinho da Copa, por um atacante em grande fase. Pode ser Gabigol, pode ser qualquer outro. Mas confiar em Gabriel Jesus é uma aposta mais segura para o processo inteiro.

O desempenho de Tite (50 pontos em 54 possíveis em 18 jogos válidos por Eliminatórias) é assustador. E fala muito mais do trabalho dele do que das seleções que ele enfrenta. Diminuir os adversários pelas Eliminatórias é um erro. São seleções que, no mano a mano, podem dar trabalho para qualquer seleção europeia.

O Brasil tem passado o carro em seus adversários sul-americanos porque tem um trabalho de ótimo nível sendo realizado. Gabriel Jesus tem exatamente o perfil deste processo. Gabigol ainda terá de provar mais coisas até o fim de 2022. Acho até que, até lá, estará atrás de Pedro nesta lista —seu reserva no Flamengo. A concorrência é brava, e o futebol é dinâmico.