Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Interlagos elogiado, onda teen e Hamilton pop no Brasil: a pesquisa da F-1
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Escrevi brevemente na semana passada sobre a pesquisa feita pela F-1 e pela Nielsen com fãs do mundo todo. Prometi ler o calhamaço de 58 páginas e voltar aqui com outros dados interessantes.
Promessa feita é promessa cumprida, vamos lá então.
Antes do festival de números e gráficos, há um prefácio de Stefano Domenicali, o homem que a Liberty Media elegeu para comandar a F-1. E chama a atenção o alinhamento dele com o "american way" de promover o esporte, muito focado para o entretenimento.
"Estamos concentrados no conteúdo que entregamos e na maneira como essa entrega é feita. Temos de dar os fãs o que eles querem, para mantê-los engajados. Nossa estratégia é continuar entregando transmissões ricas em informações, mas aumentar também a produção de conteúdo menos tradicional, por mídias sociais e por parcerias como com a Netflix", escreve o italiano, ex-dirigente da Ferrari.
É um choque frontal com a visão anterior, que durou décadas.
Ecclestone desdenhava dos fãs.
Numa entrevista que fiz com ele em seu escritório, em 2005, deixou claro que via os torcedores nas arquibancadas como um estorvo. Pagavam pouco e só traziam problemas. As meninas dos olhos dele eram os hospitalities e o Paddock Club. Isso, sim, trazia dinheiro.
Em 2014, chegou a dizer publicamente que "a F-1 não precisa de jovens fãs". Redes sociais não só eram ignoradas como eram combatidas.
Mas veio a Liberty. E, com elas, uma atenção maior com os fãs. A pesquisa publicada na semana passada é a terceira de uma série. A primeira foi em 2015, quando os ventos começavam a mudar. A segunda, em 2017, meses após a venda para a Liberty.
A pesquisa de agora é a primeira a refletir as ideias e ações dos novos donos. E é legal confirmar, com números, muitas das impressões que vínhamos tendo no dia a dia, no GP a GP.
A pesquisa é abrangente: ouviu 167.302 torcedores em 187 países. São fãs da categoria que toparam clicar num link e dar suas impressões sobre o esporte.
Os principais, ou mais chamativos, achados foram bastante divulgados nos últimos dias. O principal deles, o que coloca Verstappen como o piloto mais popular da categoria, seguido de perto por Norris. Hamilton, o antigo líder no quesito, aparece em terceiro.
Mas há muitos outros pontos interessantes.
A começar por um recorte dessa mesma questão. No Brasil, o favorito é Hamilton, e acho que isso tem relação direta com sua devoção a Senna. Desde sempre ele cita o brasileiro como seu grande ídolo e, quando vem a São Paulo, não deixa de visitar o cemitério do Morumbi.
O rejuvenescimento da F-1 também fica claro em vários pontos da pesquisa. Na questão acima, por exemplo, Leclerc e Russell surgem entre os favoritos. Nenhum dos dois disputava o Mundial quando a última sondagem foi feita.
Mais de um terço dos fãs que participaram da pesquisa tem entre 16 e 24 anos. É a faixa de idade mais representada. Imagino que a metodologia da pesquisa tenha algum efeito nisso, mas as anteriores foram realizadas da mesma forma e não registraram esse resultado.
Outro ponto importante é a participação feminina: 18,3% dos que responderam. É um aumento de 83% em relação a 2017 e de 177% sobre 2015. E aqui vai uma curiosidade: porcentagem é ainda maior na África e no Oriente Médio: 25%.
O estudo também indica uma renovação maior do público e reforça a necessidade de as transmissões serem mais didáticas: 34% dos fãs atuais começaram a acompanhar F-1 nos últimos cinco anos. Em 2017, a marca era de 11,7%.
É a comprovação de algo que venho notando nas redes sociais e nas visitas ao blog e que já citei neste post aqui. Na primeira encarnação deste blog, o público médio era aquele do Salão do Automóvel: o tiozão que adora carro. Isso mudou drasticamente. Muitos jovens, e muitas meninas, hoje buscam informações sobre F-1, com um engajamento impressionante.
A pesquisa também avaliou a percepção que os torcedores têm da marca F-1. Os cinco atributos mais votados foram "emocionante", "tecnológica", "cara", "competitiva" e "divertida".
Há um detalhe não citado em texto, mas que surge num gráfico. Em 2015, mais de 30% dos fãs indicaram que a F-1 era chata. Agora, esse índice cai para menos de 10%.
Mas, apesar da "onda de otimismo", frase que surge no estudo, a pesquisa traz críticas à F-1.
A afirmação "a F-1 tem muitas ultrapassagens" foi a mais rechaçada no capítulo que visava medir os principais atrativos do esporte. Houve também um "boom" de torcedores que consideram caros os preços dos ingressos: aumento de 66,5%. E há a constatação de que alguns circuitos do calendário claramente não agradam: China, Rússia e México são os patinhos feios.
Falando dos circuitos, Interlagos está bem na foto. Há quatro pistas que os fãs consideram intocáveis: Mônaco, Monza, Silverstone e Spa. Na sequência, a Nielsen agrupa outras cinco pistas mais populares: Melbourne, Interlagos, Montreal, Suzuka e Austin.
Por fim, um assunto caro a este blogueiro: a cobertura da mídia.
E há um dado impressionante. Não pela constatação, mas pelo número. Ok, todos sabemos que as audiências das transmissões em TV aberta vêm caindo. Mas a marca impressiona: 56% de queda desde 2017.
Mas se a F-1 está mais popular, para onde está indo este povo todo? Para sites especializados, para a TV fechada e para as redes sociais. O Twitter é a favorita para 40% dos torcedores, seguido de perto pelo Instagram, com 37% _foi a rede que mais cresceu nos últimos quatro anos, 20 pontos percentuais.
Para os interessados, a íntegra da pesquisa está aqui.
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