Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
As Brunas e os Pedros da F-1
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Aconteceu duas vezes no fim de semana. O celular apita, mensagem de uma amiga, mãe de filho adolescente: "só pra constar que eu NÃO AGUENTO MAIS OUVIR O PEDRO E OS AMIGOS FALANDO DE F1". Horas depois, batendo papo com um casal de amigos que têm uma filha na faixa dos 18 anos, escuto: "A Bruna agora adora F-1. Ela hoje veio me perguntar se eu acredito que a Red Bull está mesmo melhor do que a Mercedes".
Não é coincidência. Foi apenas a confirmação, a materialização de um fenômeno que venho notando há alguns meses e para o qual busco explicações. Há uma imensa nova legião de fãs acompanhando a F-1. Gente cada vez mais jovem. E, alvíssaras, são muitas as meninas.
Tem um quê do que aconteceu anos antes no Brasil com NFL, NBA e com o futebol europeu. De um lado, o futebol brasileiro mal organizado, jogos ruins, estádios feios, personagens opacos, campos esburacados, marcas malcuidadas. Do outro, organização e planejamento, produtos impecáveis, visual limpo, respeito ao público, jogos que parecem (e são) shows.
O que você acha que um adolescente, alguém começando a fazer suas próprias escolhas pra vida, vai preferir?
Tem muito a ver também com a nova postura da Fórmula 1 desde que a Liberty assumiu o comando, há pouco mais de quatro anos. A antiga gestão, de Ecclestone e cia, tratava a internet como inimiga, como uma concorrente da TV, sua galinha dos ovos de ouro. O grande esforço da F-1 no YouTube era para derrubar vídeos de corridas antigas postados por fãs. Impediam, assim, o crescimento orgânico de popularidade da categoria.
A Liberty chegou e logo constatou o problema: a galinha estava envelhecendo. E os fãs também. Arregaçou as mangas. Promoveu pesquisas online, ouviu as equipes, inspirou-se claramente no modelo americano de esportes, investiu nas redes sociais. Associou-se à Netflix e lançou uma série cujo título remete à sua própria situação: "Drive To Survive".
Sobreviveu. Mais do que isso. Ressuscitou.
Por causa da série, Leclerc e Ricciardo se tornaram ídolos teen. No Twitter, Hamilton se tornou um dos principais ativistas de causas humanitárias do planeta. No Instagram, a F-1 consegue seu maior grau de engajamento: das 57 milhões de interações dos fãs nos últimos três meses, 80% foram na rede - levantamento da consultoria SportsValue.
Há um canal no Twitch para corridas virtuais, ambiente em que Norris e o brasileiro Pietro Fittipaldi brilham. Na China, a F-1 investe em quatro redes sociais locais: Weibo, WeChat, Toutiao e Douyin.
Pesquisa da Nielsen conduzida em dez países - Brasil incluído - e divulgada na semana passada aponta crescimento de 20% na base de fãs da categoria no ano passado. Dois dados bem significativos: a faixa entre 16 e 35 anos foi responsável por 77% desse crescimento, e hoje essa turma compõe 46% da comunidade de torcedores da F-1.
Não encontrei dados recentes sobre o aumento da participação feminina nesse bolo. Mas é flagrante. Basta acompanhar um treino livre pelo Twittter para constatar que elas são muitas e cada vez mais engajadas.
São as Brunas e os Pedros. São as Brunas e os Pedros que não se interessavam por F-1 há 2 ou 3 anos mas que foram impactadas por algum conteúdo e acabaram se apaixonando. São as Brunas e os Pedros que logo estarão no mercado de trabalho e se tornarão consumidores. São as Brunas e os Pedros que garantirão a sobrevivência do esporte.
São as Brunas e os Pedros que a F-1 antiga não enxergava, mesmo que eles estivessem gritando por atenção.
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