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Fogaça: Por que o Internacional joga cada vez pior?

Guerrero, durante partida entre Internacional e Goiás - Ricardo Duarte/Internacional
Guerrero, durante partida entre Internacional e Goiás Imagem: Ricardo Duarte/Internacional
Gustavo Fogaça

28/11/2019 12h04

A vexatória derrota para o Goiás ontem (27) dentro do Beira-Rio empacou o Inter nos 51 pontos e trouxe os esmeraldinos para uma briga por vaga no G8. Onde antes era forte e praticamente imbatível, ultimamente o Colorado não consegue mais se impor dentro de casa. Por que o time de Zé Ricardo joga cada vez pior?

Para poupar o tempo de vocês já vou direto ao ponto: há um enorme problema de INTENSIDADE no Internacional. Principalmente, quando o time perde a bola e realiza a chamada "transição defensiva". Há uma morosidade que é totalmente descaracterizada do Inter batalhador de pouco tempo atrás.

E os números comprovam.

Existe uma métrica chamada PPDA ("pass per defensive action"), que você já leu algumas vezes aqui na coluna e serve para medir a intensidade defensiva do time. Quanto maior o valor, MENOS intensa é a ação defensiva do time em campo.

Em 2018, o Inter de Odair chegou em terceiro lugar no Brasileirão com um jogo de transição rápida, vertical, muita imposição física e de força. Com um centroavante referência e lutador na frente, havia uma estratégia bem clara: bola longa para a casquinha/pivô de Leandro Damião e quem viesse atrás, finalizava a gol.

No ano passado inteiro, a média de PPDA do Inter foi de 1,8 por partida.

Em 2019, Odair recebeu alguns reforços e quis mudar um pouco o modelo de jogo, sem perder a agressividade do ano anterior. Mesmo assim, a intensidade defensiva caiu ligeiramente, com o PPDA indo a 2 por partida.

Tirando as partidas com o treinador interino, nos jogos onde Zé Ricardo foi o treinador, o PPDA do Inter subiu para 2,3 por partida. Ou seja, o time ficou 28% MENOS intenso defensivamente do que era em 2018. É muita diferença!

Você deve estar se perguntando "por que o time perdeu tanta intensidade com os mesmos jogadores"? E eu tenho essa resposta.

Primeiro, a mudança de treinador faltando dois meses pro final do Brasileirão foi um tremendo erro e que impactou direto na performance tática coletiva do time. O time foi preparado lá em janeiro para jogar de um jeito. Treinador novo leva pelo menos 2 meses para impor suas ideias. Impossível o Inter jogar diferente - e bem - em pouco tempo com Zé Ricardo.

A única solução seria repetir o modelo de jogo de Odair Hellmann. Mas, se era para fazer igual ao treinador que estava antes, para que demiti-lo não é mesmo?

Em segundo lugar, no Brasil (e na maioria dos países), os jogadores de futebol só imprimem intensidade sem a bola quando querem "jogar pelo treinador". Quando o atleta não quer fazer isso, qual é a primeira coisa que ele faz? Não bota aquele gás todo, não executa o perde-pressiona com a mesma intensidade.

Era sabido o carinho e a vontade dos jogadores de que Odair ficasse mesmo depois da derrota na Copa do Brasil. Sua saída foi uma mensagem para o vestiário, e agora os jogadores estão mandando sua resposta aos dirigentes. Em campo.

Assim como na vida, não se tomam decisões no futebol desde um lugar de frustração. Geralmente, ações desse tipo são equivocadas e terminam comprometendo qualquer estratégia de gestão ou planejamento. O Inter demitiu Odair em um momento de frustração, e isso tem um preço que pode ser muito alto: a vaga para Libertadores pode escorrer por entre os dedos colorados.

Fonte: Estatísticas da plataforma InStat.

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