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Allan Simon

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Globo escolhe jogo 'errado' e perde emoção com Senegal e Equador na Copa

Kalidou Koulibaly, do Senegal, comemora após marcar o segundo gol de sua equipe contra o Equador na Copa - Ryan Pierse/Getty Images
Kalidou Koulibaly, do Senegal, comemora após marcar o segundo gol de sua equipe contra o Equador na Copa Imagem: Ryan Pierse/Getty Images

Colunista do UOL

29/11/2022 14h03

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A Globo escolheu transmitir Holanda x Qatar como se estivesse em uma rodada de fim de semana do Brasileirão. Elegeu colocar na TV aberta a seleção mais conhecida, com camisa mais pesada, que chama mais atenção do público amplo e diverso dessa mídia.

Mas não estamos em uma rodada de fim de semana do Brasileirão, e a Globo deixou de exibir, no mesmo horário, um Equador x Senegal que era confronto direto pela vaga nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2022. Só conseguiu mostrar os minutos finais (leia mais abaixo) do duelo, após o fim da transmissão do jogo da Holanda.

A seleção holandesa ainda não tinha vaga garantida matematicamente, mas só dependia das próprias forças diante do Qatar, um dos piores times da competição. Classificação totalmente encaminhada e jogo previsivelmente sem graça.

Desde sexta-feira (25), quando o Grupo A teve desenhado o cenário da jornada decisiva, era óbvio que o duelo entre senegaleses e equatorianos era o mais interessante para quem gosta de futebol. Tanto é que a CazéTV, do streamer Casimiro Miguel, até promoveu enquete entre seus espectadores para confirmar que a vontade do público era ver Senegal x Equador. Deu sorte, ficou sem a concorrência da Globo e chegou perto de 800 mil espectadores simultâneos na soma de YouTube e Twitch.

Enquanto isso, a Globo relegou Equador x Senegal aos canais SporTV e ao Globoplay/ge, plataforma para a qual foi feita uma transmissão mais próxima ao padrão da TV aberta, com marca d'água da emissora no canto da tela e narração de Rembrandt Jr. Na televisão em si, Cléber Machado ficou com a missão de tentar empolgar um chatíssimo Holanda x Qatar que logo teve confirmadas as previsões sobre a superioridade holandesa e a total ausência de risco à classificação dos europeus.

No duelo preterido, porém, Senegal e Equador se alternavam na zona de classificação à medida que os gols saíam. O empate era equatoriano. Os senegaleses abriram o placar no primeiro tempo, de pênalti. Na segunda etapa, foi a vez do time sul-americano conseguir um gol que o colocava novamente no caminho das oitavas de final.

Poucos minutos depois, novo gol dos africanos, alterando o cenário de novo. O jogo pegou fogo e os dois times entraram um mata-mata antecipado pela vaga. Na TV Globo, Cléber Machado só conseguia criar alguma emoção informando o que rolava na outra partida.

Por sorte, Holanda 2 x 0 Qatar acabou um pouco antes e permitiu a exibição dos minutos finais em TV aberta do jogo que realmente valia, tal como fosse realmente uma rodada de Campeonato Brasileiro, quando a emissora costuma usar esse expediente de "completar" a transmissão com o sinal de outra partida ainda inacabada.

No Brasileirão, um Corinthians x Atlético-MG que não vale quase mais nada para o time alvinegro certamente dá mais audiência em São Paulo do que um América-MG x Atlético-GO valendo vaga na Libertadores e disputa contra o rebaixamento. Ninguém contesta uma escolha dessas. Mas a Copa não é Brasileirão.

Copa tem sua própria audiência, invariavelmente acima do que a emissora dá nas mesmas faixas horárias em dias comuns. Será que a Globo teria perdido tanto assim no Ibope se tivesse escolhido o que era mais emocionante e importante para os fãs do maior evento de futebol do planeta?

E tem mais: seguindo a mesma lógica, a Globo exibe País de Gales x Inglaterra hoje. Escolheu a camisa mais forte. Mas os ingleses só vão ficar fora da Copa se forem goleados. Enquanto isso, Irã x Estados Unidos devem fazer outro "mata-mata" antecipado ao estilo de Equador x Senegal, que acabou em vitória da equipe africana por 2 a 1.