Arbitragem e circo nos clássicos: quem vai querer comprar o nosso futebol?
O Brasil gosta de se dizer o país do futebol. E somos. O que não quer dizer que seja do bom futebol. Há muitos anos ficamos para trás no fator conjunto e há uns poucos, também no quesito talento. Há mais de 20 anos não conseguimos produzir uma geração boa o suficiente para formar uma seleção vencedora.
Mas a coluna de hoje não é sobre a seleção. É sobre o futebol praticado aqui no dia a dia. E nem é sobre a bola rolando, até porque ela tem rolado bem pouco.
Os dois clássicos estaduais de ontem entre São Paulo x Santos e Vasco x Fluminense escancararam o que só não é óbvio para quem se recusa a admitir: somos amadores.
Falamos em ligas, em exportar nosso futebol de clubes para o exterior, em levar nossas marcas para o mundo, mas o que mostramos para nós mesmos é vergonhoso.
Nem destaco aqui a baixa qualidade técnica dos estaduais em geral, afinal ontem era noite de grandes embates, entre clubes multicampeões. Embora tenha sido ruim, o futebol não foi o que de pior aconteceu.
Sim, precisamos falar da arbitragem. De novo. Árbitros literalmente amadores, pressionados por dirigentes antes, por jogadores e técnicos durante, e por todo mundo depois das partidas. Árbitros mal treinados, mal corrigidos e maltratados por um sistema que os massacra, sem sequer oferecer estabilidade.
Um sistema tão uniformemente medíocre, que o difícil é apontar os árbitros bons. Você que me lê, de quantos consegue lembrar?
Edina esteve mal, claro. Bruno, então, nem se fala. Junto com seus auxiliares, cometeram erros técnicos grosseiros, e se mostraram incapazes de controlar os ânimos dentro e fora de campo. Bruno, curiosamente, foi escolhido a dedo por Vasco e Fluminense, como parte do bizarro acordo entre Ferj e clubes para acalmar ânimos.
Fiquei imaginando gringos que, de passagem no Rio pelo Carnaval, fossem parar ontem no Maracanã, aproveitando a chance de ver de perto o atual campeão continental. Pensei neles olhando aquele gramado, aquela chuva torrencial, aquele monte de jogador enfurecido correndo para cima do juiz a cada apito, gritando acintosamente, treinadores descontrolados, cartão para todo o lado, erros crassos, pouquíssima bola em jogo e nenhuma na rede.
Talvez até se divertissem, afinal nas férias tudo é festa, especialmente se tiver cerveja.
Mas comprariam um pacote para assistir a algum campeonato nosso no exterior? Gastariam um centavo conosco? Recomendariam aos amigos que começassem a acompanhar o Carioca, o Brasileiro ou mesmo a Libertadores?
Só se fosse pelo entretenimento. Pelo prazer de ver o circo pegar fogo cheio de palhaço dentro. E talvez nem isso, porque a nossa comédia virou tragédia faz tempo.
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