Alicia Klein

Alicia Klein

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
OpiniãoEsporte

Pancadaria e vergonha nas Eliminatórias: CBF foi incompetente e covarde

Vamos completar um ano sem treinador definitivo na Seleção. A CBF já sabia que Tite não ficaria depois da Copa do Qatar. Bateu cabeça até decidir por Carlo Ancelotti, que só pode assinar contrato no início do ano que vem e que nem sequer pode afirmar que de fato vem. Colocou no comando Ramon, da seleção olímpica, até pensar no que fazer. Deu ruim. A solução genial: deixar Fernando Diniz esquentando a cadeira de Ancelotti (que, lembremos, pode não vir).

Nem vou entrar no mérito da qualidade de Diniz. Ou mesmo debater se ele estava pronto para um desafio desta monta. Ou se era viável implementar sua complexa visão de jogo do dia para a noite.

Alçaram ao posto mais alto o técnico de um clube que disputava a reta final do torneio mais importante de sua vida. Não tenho dúvida da dedicação de Diniz — tenho certeza que este homem mal dormiu nos últimos meses. Ele, no entanto, é um só. E se viu na posição de trocar de chapéu semanalmente, virando toda hora a chavinha de Libertadores para Eliminatórias da Copa. Não é uma questão só de foco: é tempo.

Ednaldo Rodrigues pegou um técnico por meio período. Um profissional que, no momento de sua contratação, tinha no currículo apenas um campeonato carioca e precisava se concentrar no maior título da sua história e do Fluminense.

Mas era para um monte de amistoso, quem se importa. Não. Era para atravessar seis jogos de Eliminatórias de Copa do Mundo, incluindo confrontos com Uruguai e Argentina.

Resultado? Duas vitórias contra os lanternas Bolívia e Peru, um empate contra a Venezuela em casa e três derrotas seguidas, para Uruguai, Colômbia e Argentina. Primeira vez que não venceu a Venezuela, primeira derrota para a Colômbia, primeira vez que perdeu duas (depois três) seguidas, primeira sequência de quatro partidas sem vencer, primeira derrota em casa nas Eliminatórias e um desastroso sexto lugar até setembro do ano que vem. Vale recordar também que o Brasil só não está em situação pior porque o Equador começou a disputa com três pontos negativos (pela escalação de Byron Castillo na edição passada). Pelo que foi apresentado em campo, era para a seleção estar em sexto, quatro pontos atrás do quinto.

Em 81 jogos à frente da seleção, Tite perdeu seis. Em seis, Diniz perdeu três.

Ontem, falei em mediocridade dolosa. Talvez os erros sejam culposos, afinal não acredito que a CBF opere com a intenção de errar. E a definição do crime culposo cai como uma luva para a entidade: "Quando o agente deu causa ao resultado por imprudência (agiu de forma precipitada, sem cuidado ou cautela), negligência (descuido ou desatenção, deixando de observar precaução normalmente adotada na situação) ou imperícia (agiu sem habilidade ou qualificação técnica)".

A confederação absteve-se da reunião de segurança, que poderia ter decidido pela separação das torcidas no Maracanã. Reunião em que o confronto foi avaliado pela polícia como de altíssimo risco. Depois de tudo que aconteceu entre torcidas argentinas e cariocas no Rio, durante a Libertadores. Com tudo que se sabe sobre a rivalidade e nossa incivilidade.

Continua após a publicidade

Já diante da pancadaria, a CBF chegou a dizer que a responsabilidade era do consórcio que administra o estádio. Não tenho nada a ver com isso, sou apenas cliente.

Deu no que deu. Brasil na metade de baixo da tabela, zoado pela Argentina dentro de casa. Gente sangrando, chorando, em pânico, pais desesperados, crianças traumatizadas e um fracasso generalizado sendo transmitido ao vivo para o mundo todo.

Ah, e quem colocam para dar entrevista ao final da desventura? Raphael Veiga, que entrara aos 33 do segundo tempo.

Enquanto os jogadores argentinos tentavam intervir na briga e saíam de campo indignados, os brasileiros tocavam bola no gramado. Nas entrevistas, alguns chegaram a dizer que nem viram direito a confusão.

Além de passar vergonha, a CBF não tem coragem de dar a cara a tapa, escondendo-se nas sombras na hora em que a vaca despenca no brejo.

Perdoem a força das palavras, mas uma mãe que precisa explicar ao filho de 4 anos por que a polícia está dando paulada nas pessoas não encontra outra forma de definir o que viu: CBF incompetente e covarde.

Continua após a publicidade

Siga Alicia Klein no Instagram e no Twitter

Leia todas as colunas da Alicia aqui

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes