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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Vivendo do passado e de futuro incerto: ao Brasil sobrou Tite, faltou time

Daniel Alves se despede de Tite após eliminação da seleção brasileira - Reprodução/Instagram
Daniel Alves se despede de Tite após eliminação da seleção brasileira Imagem: Reprodução/Instagram

12/12/2022 18h58

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A Seleção foi eliminada pela Croácia e na sexta-feira mesmo já começou a autópsia de sua campanha. Mais do que isso, a autópsia do trabalho realizado pela agora ex-comissão técnica e pela CBF.

A primeira analogia que me veio à mente foi a da velhinha que bebe, fuma e só come fritura, mas vive até os cem anos. Quando ela morrer, ninguém vai tentar descobrir a causa. Foi velhice, dirão.

Ao contrário, quando alguém morre inesperadamente, logo partimos para examinar as possíveis causas. Eliminadas as mais comuns, começamos a amealhar suspeitos: um pouco de sedentarismo, muito antibiótico na infância, alimentação com poucos nutrientes, estresse. Tudo cabe.

Daniel Alves? Gabriel Jesus? A ausência de um tudo-campista? Um meia como Modric? Um Neymar sem lesão? Raphinha ter jogado melhor? Acreditar, de verdade, na psicologia esportiva?

Tite?

O Brasil é um pouco assim. Ainda que sua partida não devesse vir com tamanha surpresa. Como escrevi no sábado, já levamos 20 anos sem uma boa campanha em Copas do Mundo. Por que agora, nesse ciclo, seria tão diferente?

Craque a gente sempre teve. O que não parecemos ter é time. Jogo coletivo, jogada ensaiada, disciplina tática, um plano.

Quem tem plano não sobe com sete jogadores faltando quatro minutos para acabar uma prorrogação de quartas de Mundial. Quem tem plano bota o principal jogador do time para bater pênalti decisivo. Que, no caso, seria o primeiro ou o quarto. Não o quinto, que poderia não existir — como não existiu.

Nada mudou por aqui. Mas muito mudou por lá. Dois dos quatro semifinalistas, Marrocos e Croácia, sobreviveram à base justamente do seu esquema tático. Da capacidade de criar um todo maior do que a soma das partes. De compensar deficiências técnicas e, na base do futebol pensado, superar o talento puro.

Enquanto nada muda por aqui, muito muda por lá. E a gente segue especulando qual vai ser o nosso futuro, enquanto vivemos de passado.