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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

VAR, Abel Ferreira, jornalistas e a dificuldade de admitir nossos erros

Cabine do VAR no Engenhão  - Thiago Ribeiro/AGIF
Cabine do VAR no Engenhão Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

22/04/2022 14h17

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Na quarta, escrevi nesta coluna sobre a falta de isonomia na Copa do Brasil e na Libertadores, que não dispõem de VAR em suas fases iniciais. CBF e Conmebol economizam uns dinheiros e a tecnologia só é disponibilizada para quem avança. E quem perde a vaga por erros corrigíveis dança.

Usei como exemplo um suposto erro cometido contra o Vila Nova, um pênalti a favor do Fluminense. Afirmei que o lance não tinha justificativa. Ao que tudo indica, o que não tinha justificativa era o meu comentário.

Na sequência da publicação do texto, o colega de SporTV Conrado Santana me enviou um ângulo que indica ter havido, de fato, uma carga sobre Willian, dentro da área. No mínimo, justificando a marcação do juiz.

Como jornalista, é horrível a sensação de perceber que algo dito publicamente estava errado. Mas acontece. Quanto mais expomos nossas opiniões, maior a chance de uma hora darmos a cara a tapa.

O que me impressiona é a falta de humildade em admitir os equívocos. Há quem não o faça nunca. Nem diante dos mais inquestionáveis números, estatísticas, desafiando a sabedoria popular, segundo a qual "contra fatos não há argumentos". Aparentemente, há.

Para além das opiniões sobre os infindáveis lances polêmicos, desmontadas com um novo ângulo, uma nova linha traçada, espanta-me a incapacidade de reconhecer que fulano era melhor do que eu pensava. Que sicrano atua bem pelo outro lado do campo. Que a minha análise foi precipitada.

Abel Ferreira é um ótimo exemplo. Tachado de retranqueiro, treinador de repertório limitado, de ter sorte, ele agora começa a amealhar respeito de torcedores e profissionais reticentes. Começou a ginástica para explicar que foi ele, o português, quem mudou. Que ele era tudo isso e, agora, está se reinventando, melhorando.

Parece mais fácil esse contorcionismo do que dizer: errei, precisei de dois títulos de Libertadores em onze meses para enxergar que ele estava acima da média. O cara sempre estudou muito e sempre foi bom. Realmente, não existe time retranqueiro com melhor ataque. Mal aí.

Já posso imaginar o sorriso maroto de quem me conhece há muito tempo lendo essa coluna. Você, pessoa ariana cabeça-dura teimosa orgulhosa chatinha, falando em admitir que está errada, amiga? Tenha vergonha nessa cara.

De fato, não é minha especialidade nem minha zona de conforto. Mas está ficando mais fácil com a idade e o entendimento de que acaba custando mais caro, seja em energia ou em credibilidade, insistir no erro. Buscar argumentos improváveis para justificar o injustificável cansa.

Como diz a sabedoria que só o pagode pode oferecer-nos: Todo mundo erra!

Todo mundo erra sempre. Todo mundo vai errar. O pulo do gato é não se achar acima dessa verdade.