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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Os fatores chaves para os três jogos decisivos das Finais da NBA

Deandre Ayton (esq) e Chris Paul, estrelas do Phoenix Suns nas Finais da NBA - Barry Gossage/NBAE via Getty Images
Deandre Ayton (esq) e Chris Paul, estrelas do Phoenix Suns nas Finais da NBA Imagem: Barry Gossage/NBAE via Getty Images

Colunista do UOL

17/07/2021 04h00

Passado um dos jogos mais insanos e divertidos dos últimos tempos, as Finais da NBA estão empatadas em 2-2, o que era uma série de melhor de 7 agora vira uma melhor de 3: o Jogo 5 acontece em Phoenix nesse sábado, dia 17, enquanto os Jogos 6 e 7 (se necessário) acontecem dias 20 e 22 de julho, respectivamente.

E, curiosamente, ambos os times têm motivo para otimismo: os Suns detém o mando de quadra em uma série onde ninguém ainda venceu fora de casa, e os Bucks tendo jogador melhor nos últimos três jogos das Finais - com sua única derrota vindo de um jogo totalmente fora da curva e com parâmetros insustentáveis.

Desnecessário dizer, essa reta final tem tudo para ser espetacular. E, embora estejamos atingindo naquele ponto onde todos os ajustes e táticas estão no limite e os jogos comecem a depender pura e simplesmente de execução, resiliência e até um pouco de sorte, isso não quer dizer que não tenha alguns fatores críticos em especial que possam ser destacados - e que podem acabar decidindo quem levanta o troféu no fim do dia.

1. Os armadores precisam melhorar

No Jogo 1, Chris Paul teve uma atuação de gala: no seu primeiro jogo de Finais, o armador terminou o jogo com 32 pontos e 9 assistências, 12-19 nos arremessos e apenas dois turnovers. Com os Bucks usando trocas defensivas para tentar frear o ótimo ataque de Phoenix, Paul deu uma aula de mestre buscando essas trocas, encontrando o mismatch que queria e simplesmente destruindo a defesa dos Bucks. Foi uma performance inspiradora de um dos grandes armadores da história do esporte.

Desde então, no entanto, as coisas não têm sido tão boas para o armador dos Suns. Paul ainda teve um sólido impacto nos Jogos 2 e 3 nos pontos e assistências, mas era visível que algo não estava certo; sua grande característica como armador é seu controle e maestria completos sobre a partida, e desde o Jogo 1 Paul não conseguiu se impor dessa maneira. Ele ainda fez um bom trabalho reagindo ao que acontecia e fazendo boas jogadas, mas cada vez mais ficava evidente de que era a defesa dos Bucks tirando o ritmo do jogo. Onde isso ficava mais evidente era nos turnovers: talvez o melhor armador da história evitando desperdícios de bola, Paul teve 6 turnovers no Jogo 2 e mais 4 no Jogo 3; e, embora alguns desses sejam consequência de uma defesa agressiva dos Bucks e de ser um jogador que passa tanto tempo com a bola nas mãos, alguns são visivelmente erros de comunicação e processamento da jogada que acabam em erros primários.

Tudo isso culminou no Jogo 4, quando Paul teve talvez a pior atuação da sua carreira: foram 10 pontos, 7 assistências e 5 turnovers, incluindo um decisivo nos segundos finais do jogo no qual Paul tropeçou sozinho. Agora são 15 desperdícios de bola nos últimos três jogos, e tirando talvez a falta de playmakers secundários no time dos Suns é difícil dizer exatamente que tenha algo sendo feito errado nesse sentido - Paul simplesmente precisa jogar melhor. As chances de Phoenix vencer essa série são extremamente limitadas se Paul continuar assim, e embora ele não precise ser o CP3 do Jogo 1 o tempo todo, ele precisa voltar a exercer algum controle sobre o jogo para trazer os Suns de volta à liderança.

E os Bucks também estão lidando com seus próprios problemas em relação ao armador titular. Jrue Holiday tem sido inacreditável defensivamente e muito bom como passador, mas seu jogo ofensivo em geral tem sido um desastre na série. Tirando o Jogo 3, quando Holiday foi bem com 21 pontos em 8-14 de quadra e 5-10 de três, o armador tem média de 13 pontos por jogo com 15-55 nos arremessos (28%) e 1-12 (8%) nas bolas de três pontos. Isso é absurdamente terrível, e alguns desses são bandejas ou arremessos simples e totalmente livres que Holiday está errando sozinho.

É um bom sinal que os Bucks tenham conseguido vencer o Jogo 4 com mais uma péssima (4-20 FGs) atuação de Holiday no ataque, e suas más atuações não são tão críticas quanto às de Paul para os Suns, mas ainda fica difícil demais para Milwaukee vencer dessa maneira.

2. A batalha da posse de bola favorecendo os Bucks

No Jogo 1 da série, o único que Phoenix foi claramente o time superior, os Suns pegaram seis rebotes defensivos e cometeram 9 turnovers, enquanto os Bucks pegaram 9 rebotes ofensivos mas cometeram 13 turnovers - ou seja, os Suns teve uma posse de bola extra a mais que os Bucks para pontuar. Considerando o quanto esses turnovers e rebotes geram pontos fáceis em transição ou no garrafão, e o quão estagnado é o ataque dos Bucks em situações de meia quadra, controlar essa batalha pela posse de bola sempre foi fundamental para o Phoenix Suns nessas Finais.

Desde então, no entanto, os Bucks têm dominado o quesito. Nos três jogos seguintes, foram 48 rebotes ofensivos e apenas 23 turnovers para Milwaukee, e 22 rebotes ofensivos mais 43 turnovers para os Suns - incríveis 46 posses de bola a mais para Milwaukee. Então se você estava confuso sobre como os Bucks conseguiram vencer o Jogo 4 apesar de arremessar 40% de quadra e 24% da linha dos três pontos, é por isso: 12 rebotes de ataque a mais e 12 turnovers a menos, uma tonelada de posses e chances extras para pontuar que acabaram carregando os Bucks à vitória no puro volume.

O efeito dos rebotes ofensivos já era esperado - Milwaukee é muito forte no garrafão, e tem uma vantagem de altura sobre o time baixo dos Suns - embora parte disso deveria ser mitigada pela presença de um excelente reboteiro em Ayton; o pivô tem 14 rebotes por jogo, então é difícil botar na conta dele a dificuldade, mas os níveis de rebotes ofensivos dos Bucks estão historicamente altos e os Suns precisam melhorar seu esforço coletivo nessa área para evitar continuarem sendo massacrados em algo que tem favorecido em muito o time do Wisconsin.

Mas os turnovers talvez sejam ainda mais preocupantes para Phoenix. Os Suns foram um dos melhores times de toda a NBA evitando desperdícios de bola na temporada regular, e de repente eles estão explodindo contra os Bucks. Parte disso vem de uma excelente defesa de Milwaukee, mas vai ser difícil vencer a série dessa maneira. Não apenas pelas posses extras, mas pelo que elas geram...

3. Supremacia nos pontos fáceis

Ao longo dos playoffs, eu já bati diversas vezes na tecla da importante de um time com um ataque emperrado como os Bucks conseguir dominar o jogo em transição. Sair em velocidade e enfrentar uma defesa bagunçada - especialmente considerando o quão devastador é Giannis em quadra aberta - é a melhor forma dos Bucks desafogar seu ataque e pontuar com facilidade. Os rebotes de ataque já citados, em geral, oferecem uma outra opção - uma forma de pegar a bola perto da cesta ou com a defesa bagunçada, e conseguir pontos de segunda chance.

E, em paralelo com o ponto anterior, eles contam um pouco da história da recuperação dos Bucks. No Jogo 1, foram 20 pontos para os Bucks entre pontos de segunda chance e pontos em transição - 7 a menos que Phoenix, com 27. No Jogo 2, os Bucks dobraram esse total para 40 pontos, e os dos Suns caíram para 26. Foram mais 36 no Jogo 3 (contra 8 dos Suns) e 34 no Jogo 4 (contra 7 dos Suns).

A disparidade é grande demais, e não apenas estar cedendo esses pontos é um grande problema para os Suns e o que tem salvado o ataque mediano dos Bucks, mas refletem bem como os próprios Suns pararam de conseguir esses pontos fáceis. Phoenix tem um ótimo ataque, mas os Bucks têm uma excelente defesa e que está conseguindo dificultar e estrangular o jogo de meia quadra adversário com um bom plano de jogo e uma execução ainda melhor. Os Suns precisam urgentemente conseguir achar formas mais fáceis de pontuar para desafogar o ataque.

O que nos leva para...

4. Os Suns precisam chegar no aro

Essa falta de pontos fáceis fica ainda mais problemática porque se combina com um problema maior dos Suns na série em geral: a dificuldade de conseguir bons arremessos.

Nas Finais, os Suns têm tentado apenas 17 arremessos por jogo perto do aro, que seria a pior marca de toda a NBA por muito. Phoenix, na verdade, foi o time que menos deu esses arremessos na temporada regular, o que não foi um problema porque a equipe era excelente nos chutes de média e longa distância. Mas, com os Bucks limitando os chutes de fora dos Suns, o time ficou dependente em excesso dos chutes médios, e por melhores que Paul e Booker sejam nessas bolas, elas ainda são as menos eficientes do jogo.

Não é o caso de você não poder nunca chutar bolas de meia distância - algo que algumas pessoas acreditam, erroneamente, que seja a conclusão estatística sobre esses arremessos - mas se você depender demais deles, de repente vira um problema de matemática: se você não está dando arremessos de alto aproveitamento perto do aro, não está conseguindo o ponto extra vindo dos chutes longos, e não está compensando isso com pontos fáceis em transição e nos rebotes de ataque, você precisa ser extremamente fora da curva nas bolas médias para compensar - algo que é pedir demais mesmo de dois monstros como Paul e Booker.

Essa questão matemática é o grande problema que os Suns precisam resolver na volta para Phoenix. E um bom lugar para começar são os pontos no garrafão, especialmente considerando que o time tem Ayton lá dentro. Nos segundos tempos dos Jogos 3 e 4, Ayton deu quatro arremessos no TOTAL; isso é inadmissível, especialmente contra um time que troca tanto a marcação como os Bucks tem feito. Phoenix precisa resolver esse problema, e esse é o lugar mais óbvio por onde começar.