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Para além da foto com Lula: partidos aliados cobram lugar em chapa do PT

Reunião da coordenação da campanha do ex-presidente Lula (PT) e do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) - Ricardo Stuckert
Reunião da coordenação da campanha do ex-presidente Lula (PT) e do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) Imagem: Ricardo Stuckert

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

08/07/2022 04h00

As negociações das chapas do PT e dos palanques do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos estados têm causado algumas rusgas entre os partidos que compõem a frente em torno do petista. PSB e PSOL, em especial, estão descontentes com a postura dos petistas —que consideram intransigente em alguns casos.

Com palanques ainda em definição em alguns estados, os dois partidos têm reclamado a interlocutores e a representantes da campanha que eles seguem aceitando o protagonismo do PT, mas que também é preciso que os petistas cedam. Não basta uma foto com Lula, brincam.

PT e PSB enfrentam ainda disputa direta oficialmente em pelo menos cinco estados. Em São Paulo, principal deles, os dois conseguiram chegar a um consenso nesta última semana —só falta o anúncio oficial.

Nas conversas, já está confirmado entre o PT e a campanha do ex-ministro Fernando Haddad (PT) que o ex-governador Márcio França (PSB), até agora pré-candidato ao governo, deixará a disputa para concorrer pela chapa ao Senado.

O acordo foi feito em um almoço com a presença de Lula no último domingo (3) e selado durante a semana. Segundo interlocutores, o anúncio só não foi feito antes por um pedido do presidente do PSB, Carlos Siqueira.

Incomodado com a postura do PT em diferentes negociações, ele tem pedido para França segurar ao máximo e, assim, ter maior poder de barganha em outros estados. Como sinal de conciliação, o PT ofereceu ainda o cargo de vice na chapa de Haddad ao PSB, que deverá indicar Jonas Donizete, ex-prefeito de Campinas.

A expectativa é que todos esses anúncios sejam feitos amanhã (9), em um evento com Lula, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), vice na chapa nacional; Haddad e outras lideranças da aliança em Diadema, na Grande São Paulo.

Descontentamento do PSOL

O problema é que, se agradou de um lado, desagradou de outro. A indicação dos dois cargos na chapa de Haddad ao PSB enfureceu o PSOL, que entrou para a aliança de Lula em abril e retirou a pré-candidatura de Guilherme Boulos ao Palácio dos Bandeirantes logo depois.

No acordo anterior feito entre as duas siglas, o PSOL tiraria a candidatura de Boulos e apoiaria Lula. Como contrapartida, receberia apoio à Prefeitura de São Paulo em 2024. Uma adesão à campanha de Haddad se daria por meio de um lugar na chapa, fosse vice ou Senado pelo estado paulista.

Segundo fontes ouvidas pelo UOL, a decisão de dar tudo ao PSB irritou o PSOL e o presidente Juliano Medeiros, que passou a considerar lançar um candidato próprio ao Senado, para concorrer contra França.

À reportagem, integrantes do PSB e do PSOL dizem que não querem comparar seus tamanhos com o PT ou diminuir a força e a importância da imagem de Lula para toda a campanha, mas reclamam que querem ser ouvidos. Em certos momentos, militantes se dizem desrespeitados pela postura petista, que consideram intransigente.

De acordo com interlocutores, todas essas reclamações têm sido passadas com frequência à presidente petista, Gleisi Hoffmann, e ao grupo de Lula.

Estados com indefinição

A três meses das eleições, petistas contra-argumentam que avanços têm sido feitos. Citam o caso de São Paulo e de Pernambuco —no estado do Nordeste, o PT tirou os nomes do senador Humberto Costa (PT-PE) e da deputada Marília Arraes (SD-PE) da disputa para apoiar Danilo Cabral (PSB). Berço do partido, essa foi uma exigência para que o PSB integrasse a chapa. Marília deixou o PT, mas segue apoiando Lula.

Há ainda outros estados em que os mesmos PT e PSB precisam se resolver. No Rio de Janeiro, onde Lula e Alckmin estiveram nos últimos dois dias, o petista endossou a pré-candidatura do deputado Marcelo Freixo (PSB) ao governo com a condição de ter o deputado estadual André Ceciliano (PT-RJ) ao Senado.

Este cargo é cobiçado também pelo deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), que está melhor posicionado nas pesquisas de intenção de voto e diz que não vai retirar a candidatura. Em junho, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) decidiu que uma aliança pode lançar dois nomes ao Senado —algo que nenhum dos dois quer.

Em Santa Catarina, o PT deverá retirar o nome do ex-deputado Décio Lima (PT) para apoiar o senador Dário Berger (PSB-SC) e, no Espírito Santo, tirar o senador Fabiano Contarato (PT-ES) para apoiar a reeleição do governador Renato Casagrande (PSB).

Ao UOL, a frente reafirmou, após a publicação da matéria, que a pré-candidatura de Lima segue firme e deverá ser lançada na próxima quarta (13).

Resta o Rio Grande do Sul, onde os três partidos citados anteriormente têm pré-candidatos. Praticamente empatados nas pesquisas, o ex-deputado Beto Albuquerque (PSB), o deputado estadual Edegar Pretto (PT-RS) e o vereador porto-alegrense Pedro Ruas (PSOL) não sinalizam retirar seus nomes. Ali, os partidos já começam a dar como caso perdido.