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Com vaias e aplausos, ato de Lula no RJ é marcado por disputa PT-PSB

Ato da pré-campanha de Lula na Cinelândia, no Rio de Janeiro - LORANDO LABBE/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
Ato da pré-campanha de Lula na Cinelândia, no Rio de Janeiro Imagem: LORANDO LABBE/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Lola Ferreira e Lucas Borges Teixeira

Do UOL, no Rio e em São Paulo

07/07/2022 21h04

O clima esquentou entre os pré-candidatos do PT e do PSB ao Senado pelo Rio de Janeiro durante ato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na noite de hoje na Cinelândia, centro da capital. A tensão ficou evidente nos discursos de ambos, enquanto na plateia militantes dos dois partidos reproduziam a disputa com vaias e aplausos e até em projeções nos prédios da praça.

Lula chegou ao estado no auge do embate em torno da indicação ao Senado na chapa que compõe com deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ), pré-candidato ao governo. O petista banca o deputado estadual André Ceciliano (PT-RJ), presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), mas o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) mantém sua pré-candidatura —apoiada pelo PSOL.

Como pré-candidato de Lula, Ceciliano integrava o palanque principal, com direito a discurso, jingle e foto no telão. De mãos dadas, Lula, Geraldo Alckmin (PSB), pré-candidato a vice-presidente, Freixo e Ceciliano mostraram união na frente do palco no ato que reuniu milhares de pessoas. No entanto, em seu discurso, Lula não fez menção a Ceciliano ou à disputa pela indicação ao Senado.

Já Molon, que não permaneceu no palco, discursou brevemente como líder partidário antes da chegada de Lula, quando ainda não havia transmissão ao vivo. Ele alfinetou o adversário.

"Hoje, o Rio tem a lástima de ter três senadores bolsonaristas representando nosso estado, não trouxeram nada para o Rio de Janeiro, não trouxeram um único legado. Precisamos mudar essa história, enfrentar o [presidente Jair] Bolsonaro com determinação e sem conciliação. Precisamos enfrentar e derrotar [o governador do RJ] Cláudio Castro, sem conciliação e ambiguidades", discursou Molon.

Sem citar o nome do atual presidente da Alerj, Molon fez uma indireta a Ceciliano, que, apesar de formalmente compor oposição ao governo Castro, tem boas relações com o governador e parlamentares do PL, partido dele e de Bolsonaro.

Enquanto Molon falava, a militância petista cantava: "Molon, eu não me engano, o senador é Ceciliano".

Ceciliano respondeu pouco depois com Lula em pé a seu lado. O deputado falou por cerca de dez minutos e subiu o tom, também sem citar o adversário.

"Eu quero, presidente Lula, dizer ao senhor que serei um soldado do seu lado. Eu nunca saí do Partido dos Trabalhadores, eu fiquei. Defendi o seu legado, defendi a presidenta Dilma [Roussef], mas os covardes saíram. Os covardes saíram e, por isso, presidente Lula, eu quero ser o senador do PT."

Molon iniciou sua carreira política pelo PT em 1999. Pelo partido, foi deputado estadual no Rio em dois mandatos (2003 a 2010) e deputado federal a partir de 2011. Em 2015, depois de 16 anos, deixou a legenda para integrar a Rede Sustentabilidade, fundada por Marina Silva. Ceciliano é filiado ao PT desde 1996.

Até Juliano Medeiros, presidente do PSOL, entrou indiretamente na polêmica.

"É uma frente de sete partidos. Isso exige muito diálogo, generosidade, paciência, disposição de construir sínteses. Eu tenho certeza que, aqui no Rio de Janeiro, apesar das dificuldades, nós também vamos construir essas sínteses, com generosidade, compreendendo quem tem melhores condições para derrotar os candidatos da extrema-direita", declarou, no palco.

Na pesquisa mais recente, da Real Time Big Data, Molon aparece com 14% das intenções de voto, empatado tecnicamente com o senador Romário (PL), enquanto Ceciliano registra 4%.

Militantes do PSB e do PT disputam pela indicação da chapa ao Senado com projeções em prédios durante ato de Lula na Cinelândia, no Rio - Lola Ferreira/UOL - Lola Ferreira/UOL
Militantes do PSB e do PT disputam pela indicação da chapa ao Senado com projeções em prédios durante ato de Lula na Cinelândia, no Rio
Imagem: Lola Ferreira/UOL

Molon e Ceciliano contam cada um com o apoio de três partidos da coligação de Freixo e Lula no Rio. Além do PSB, PSOL e Rede Sustentabilidade endossam a pré-candidatura de Molon. PT, PCdoB e PV defendem que o presidente da Alerj seja o pré-candidato.

A disputa não estava só no palco. Militantes dos dois partidos reagiam às falas e às entradas de cada um dos pré-candidatos com aplausos e vaias. Até um prédio virado para a praça, posicionado em frente ao palco, virou espaço de disputa: antes de o ato começar, surgiu uma projeção com os nomes de Lula, Freixo e Molon. Não demorou para, no mesmo prédio, ser feita uma projeção com o nome de Ceciliano.

Além dos três pré-candidatos, estavam no palco o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), vice na chapa e único a falar o nome de Molon, as deputadas federais Benedita da Silva (PT-RJ) e Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente do partido, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o ex-senador Lindbergh Farias (PT), o ex-ministro Aloizio Mercadante (PT) e o vereador Tarcísio Motta (PSOL).

Artefato explosivo no ato

O ato começou de forma tumultuada. Uma bomba caseira com fezes foi lançada contra o público que acompanhava o ato por volta das 18h50, antes de Lula subir ao palco.

O artefato —feito com uma garrafa PET— provocou forte estrondo e espalhou mau cheiro no local. Ninguém se feriu. Um suspeito —cuja identidade não foi revelada— foi detido, segundo a Polícia Militar.

O local onde a bomba caiu foi isolado e o material rapidamente coletado por bombeiros civis. As atividades no palanque, que já haviam sido iniciadas, foram paralisadas por pouco mais de 20 minutos até a chegada de Lula.

Ainda de acordo com a PM, três testemunhas acompanharam os agentes na apresentação da ocorrência.

A assessoria de Lula disse, em nota, que eram "dois artifícios de fogos (...) jogados de fora para dentro da área do ato" e negou a existência de fezes nos artefatos. No entanto, a reportagem do UOL verificou no local que se tratava de fezes. Membros da segurança do evento também confirmaram a informação.

A bomba caseira foi lançada por cima das grades de proteção próximo ao lado esquerdo do palco montado na Cinelândia, tradicional ponto de atos políticos da capital fluminense. O artefato foi lançado da rua Evaristo da Veiga, entre a Biblioteca Nacional e o Theatro Municipal.

O esquema interno de segurança montado na praça impedia a entrada de garrafas e submetia todos a revista e detector de metais.

O isolamento da área do palco foi feito com placas de metal. No entanto, a área da escadarias da Câmara Municipal do Rio de Janeiro (à direita do palco) foi ocupada por militantes e apoiadores, munidos de instrumentos musicais e bandeiras de movimentos sociais.

A proximidade da Câmara ao palco permitia que centenas de pessoas que não passaram pela segurança do evento ficassem a poucos metros de quem está no palco. Do lado esquerdo do palco, a Biblioteca Nacional fechou suas escadarias.