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Plano de definir palanques de Lula em 15 dias esbarra nas disputas locais

Lula e Alckmin durante encontro com movimentos sociais, em São Paulo - Ricardo Stuckert
Lula e Alckmin durante encontro com movimentos sociais, em São Paulo Imagem: Ricardo Stuckert

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

05/06/2022 04h00

PT e PSB não vão conseguir resolver os entraves estaduais em torno da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a simplicidade que esperavam. O plano de definir apenas um palanque por estado até 15 de junho esbarra nos impasses partidários locais, distintos da realidade nacional.

O objetivo, definido em reunião na última terça (31), é que os dois partidos da chapa principal não virem concorrentes em nenhuma região e coloquem Lula e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), pré-candidato a vice, no mesmo palanque. Pelo menos cinco estados, no entanto, ainda têm entraves entre as duas siglas e até locais onde tudo parecia estar solidificado dão sinais de alerta.

Início turbulento

A necessidade de pacificar o palanque para a chapa ficou explícita nessa última semana. Na segunda (30), a pré-campanha adiou uma viagem de marcada para Santa Catarina a partir de quinta (2) em meio a um entrave com o PSB no estado, envolvendo as candidaturas do ex-deputado Décio Lima (PT) e do senador Dario Berger (PSB).

Oficialmente, o cancelamento se deu por motivos logísticos, mas o PSB-SC já havia pedido para que a visita fosse adiada. Berger passou há pouco por um procedimento cirúrgico e não estaria presente em Florianópolis para receber Lula.

Figura histórica do MDB e ligado à centro-direita em Santa Catarina, o senador entrou no PSB no fim de março, no mesmo evento de filiação de Alckmin, com a expectativa de ser o candidato da chapa no estado, mas o PT local decidiu lançar o nome de Lima. Agora, Lima diz estar aberto ao diálogo enquanto Berger afirma que prefere que Lula chegue quando a situação estiver resolvida.

Se, em Santa Catarina, o cancelamento evitou um desarranjo, no Rio Grande do Sul a disputa entre o deputado estadual Edegar Pretto (PT-RS) e o ex-deputado Beto Albuquerque (PSB) causou constrangimento. O PT esperava reuni-los no palco do grande encontro em Porto Alegre, mas o PSB gaúcho não foi sob a alegação de que o evento era voltado a promover Lula.

A ausência do partido irritou e constrangeu o ex-presidente, que abriu sua fala reclamando do impasse. No último evento na cidade, na quinta, exigiu que os pré-candidatos e o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), presidente estadual do partido, resolvessem a situação.

Albuquerque, por sua vez, debochou dos apelos do ex-presidente no Twitter e segue dizendo que, se o PT seguir com pré-candidato, se coligará com o PDT e dará palanque a Ciro Gomes (PDT). Interlocutores consideram este debate uma pauta esgotada.

Impasses no próprio quintal

Não é só no Sul. A chapa enfrenta problema semelhante no próprio quintal, porém com maior chance de diálogo. São Paulo, maior colégio eleitoral do país, tem o ex-ministro Fernando Haddad (PT) e o ex-governador Márcio França (PSB) como os pré-candidatos mais bem colocados nas pesquisas.

Na dianteira, o PT paulista não vê a mínima chance de retirar a candidatura do Haddad. O partido avalia que o ex-ministro tem a maior possibilidade de governar o estado desde os anos 1990 —seria a primeira vez do PT no Palácio dos Bandeirantes— e tenta convencer França a ir para o Senado.

Em segundo lugar nas pesquisas, empatado com o ex-ministro bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), França tem descartado a desistência, mas não se diz fechado ao diálogo. Diferente do Sul, o PT espera prevalecer em São Paulo.

Ainda no Sudeste, a chapa tem mais problemas. No Espírito Santo, o PT filiou e lançou o senador Fabiano Contarato (PT-ES) para concorrer contra o governador Renato Casagrande (PSB).

Casagrande, que oficialmente diz que ainda não decidiu se buscará a reeleição em outubro, está muito à frente nas pesquisas e seria a preferência para o PT nacional. Mas há a questão da militância local —um detalhe que pode ter passado despercebido na reunião dos pré-candidatos com os presidentes partidários.

O PT-ES é oposição ao governo de Casagrande e os petistas locais resistem a apoiar o governador. Já o PSB afirma que não faria sentido tentar outro nome, caso ele queira a reeleição.

No Rio de Janeiro o problema é a vaga para o Senado. Os petistas apoiam a candidatura do deputado Marcelo Freixo (PSB) ao governo estadual e têm André Ceciliano (PT-RJ) como postulante nesta vaga no Congresso. O PSB, por sua vez, segue com o nome do deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) para este posto.

Visto como algo mais fácil de ser resolvido, dado que o apoio a Freixo está selado, a resolução acontecerá por meio de uma queda de braço. Ceciliano, que tem boa relação com o governador Cláudio Castro (PL), pré-candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL), tem dito que não retira a candidatura e que o PT fluminense só sobe no palanque de Freixo se também tiver participação no Senado.

Na Paraíba, PT está dividido

A chapa tem ainda um problema na Paraíba. Sem candidato próprio, o PT-PB decidiu formar chapa com o senador Veneziano do Rêgo (MDB-PB), indicando o vice, e com o ex-governador Ricardo Coutinho (PT) no Senado.

Rêgo concorreria com o atual governador João Azevêdo (PSB), que busca a reeleição e também tem apoio de parte do PT local, como o deputado Frei Anastácio (PT-PB), único representante estadual do partido na Câmara, hoje.

De um lado, o PT local diz que o presidente Lula só subirá ao palco de Veneziano. Do outro, Azevêdo diz que aceitaria Lula também em seu palanque.

"O candidato do PT na Paraíba é o senador Veneziano, isso já foi definido, o diretório nacional já foi informado. Infelizmente, nem todas as alianças nacionais se podem formar nos estados, é natural, a política se impõe. É no palanque do senador, junto ao ex-governador Coutinho, que Lula subirá", afirma Jackson Macêdo, presidente do PT-PB.

"O governador Azevêdo tentará a reeleição, isso é mais do que esperado. Ele tem apoio de parte do PT local e é apoiador do presidente Lula, então nós dizemos que o Lula também será recebido em nosso palanque, se ele assim quiser, e achamos possível. Mas o governador seguirá pela reeleição, não há dúvida", afirma o deputado Gervásio Maia (PSB-PB), presidente estadual do partido.

Até em Pernambuco, estado usado frequentemente pela campanha como exemplo de resolução de disputas, a situação não está tão solidificada assim. Nesta semana, líderes do PT-PE divulgaram uma carta de apoio à pré-candidatura de Marília Arraes (SD).

No estado, Lula deverá subir ao palanque de Danilo Cabral (PSB), pré-candidato do governador Paulo Câmara (PSB), uma exigência do partido para fechar a chapa nacional lá atrás. Para isso, o PT retirou os nomes do senador Humberto Costa (PT) e Marília migrou para o Solidariedade, que também compõe a aliança nacional.

Ela segue prestando apoio a Lula, mas ele está impedido de subir em seu palanque, por causa do acordo com o PSB.

Estatutos diferentes

É exatamente isso que a campanha nacional quer evitar. A avaliação é que as eleições estaduais reproduzem a polarização nacional entre Lula e Bolsonaro e ter duas candidaturas à esquerda, de oposição ao atual presidente, enfraqueceria ambas.

Na reunião de segunda-feira, os presidentes partidários Gleisi Hoffmann (PT) e Carlos Siqueira (PSB) concordaram, junto a Lula e Alckmin, que a aliança deve ter só um candidato em todos os estados.

Não haverá um critério único e objetivo para definir as chapas, tudo deverá ser resolvido na base da conversa e da política, disseram os presidentes. Usar pesquisas eleitorais para definir os palanques, uma das ideias mais defendidas entre os pré-candidatos estaduais, já foi descartado pelo presidente do PSB. Segundo Siqueira, os entraves têm de ser resolvidos na base da política.

As siglas enfrentam, no entanto, um problema de estatutos diferentes. No PT, o diretório nacional pode destituir decisões estaduais enquanto no PSB, não, o estado é soberano.

Isso cria uma dificuldade especial para que o acordo seja feito em nível nacional na base do "você cede aqui e eu, ali". Se algum dos diretórios estaduais do PSB decidir bater o pé contra a aliança —como alguns prometem fazer—, nem Siqueira nem Gleisi poderão evitar.

Os dois garantem que isso não será necessário. Encarregados de resolver a situação, eles já começaram as articulações com os diretórios locais. Neste início, no entanto, ficou claro que não será tão fácil, ainda mais com o prazo apertado de duas semanas.