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Santos Cruz: Sem cabimento Bolsonaro arrastar Forças Armadas para política

General Santos Cruz criticou Bolsonaro pela politização das Forças Armadas - Wilson Mendes/Secretaria de Governo
General Santos Cruz criticou Bolsonaro pela politização das Forças Armadas Imagem: Wilson Mendes/Secretaria de Governo

Do UOL, em São Paulo

04/05/2022 10h45Atualizada em 04/05/2022 13h03

O general Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo na gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL), criticou o chefe do Executivo federal e disse que "não tem cabimento" o presidente tentar "arrastar" as Forças Armadas para a política. A declaração foi dada pelo militar em entrevista ao jornalista Roberto D'Avila, na GloboNews.

"Tentar arrastar as Forças Armadas, como nós tivemos naquele discurso em frente ao QG do Exército e agora dizer que as Forças Armadas vão fazer uma apuração paralela são coisas que não tem cabimento", afirmou Santos Cruz.

"Não é o caso de colocar as Forças Armadas dentro de um processo que estamos vendo que está radicalizado, que está sendo explorado politicamente. Eu vejo que essas ações trazem dificuldades para as Forças Armadas. Não trazem mais desgaste porque as Forças Armadas têm um crédito muito grande com a população", acrescentou o general.

Na semana passada, Bolsonaro voltou a colocar em dúvida o processo eleitoral brasileiro e sugeriu que militares fizessem uma contagem paralela dos votos nas eleições.

"Não se fala ali em voto impresso. Não precisamos de voto impresso para garantir a lisura das eleições, mas precisamos de ter uma maneira —e ali naquelas nove sugestões existe essa maneira— para a gente confiar nas eleições", disse o presidente.

Autoridades já afirmaram que o processo eleitoral brasileiro é seguro, completamente auditável e que não há indícios de que as consultas populares passaram por fraude.

Mudança no comando das Forças

Durante a entrevista, Santos Cruz também comentou a mudança que Bolsonaro fez no comando do Exército, da Aeronáutica e da Marinha, em março do ano passado. Na avaliação do militar, o gesto do presidente foi um "desrespeito pessoal, funcional e institucional".

Não tinha razão nenhuma para substituição. Uma substituição de comandantes das Forças Armadas precisa ter um mínimo de razões e explicações. É um direito [do presidente], mas precisam ter motivações e explicações à sociedade. Isso não foi feito. Foi um desrespeito pessoal, funcional e institucional. Infelizmente isso aconteceu. Não é um problema do direito de tomar a decisão ou não do presidente da República, mas a maneira como foi feita caracterizou falta de respeito. General Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo

O general foi questionado sobre as chances de Bolsonaro aplicar um golpe caso não vença as eleições presidenciais de outubro, possibilidade que foi o ex-ministro diz crer que não vá ocorrer.

"Por mais insanas que possam parecer algumas atitudes, é visível que a briga com o STF, a briga com as urnas eletrônicas e o discurso anticomunista são as âncoras para manter o país em estado permanente de conflito", afirmou.

Santos Cruz deixou o governo em junho de 2019 após se envolver em crises com a ala ideológica do governo e os filhos de Bolsonaro. Hoje ele é filiado ao Podemos e deve concorrer a algum cargo público em outubro. Após ganhar força no partido. ele já é cotado como pré-candidato ao Palácio do Planalto.