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Santos Cruz diz que é 'politicagem baixa' apuração eleitoral com militares

"É politicagem mais baixa possível da exploração das Forças Armadas. É tentativa de exploração", disse Santos Cruz em entrevista. - Marcello Casal Jr/Agência Brasil
'É politicagem mais baixa possível da exploração das Forças Armadas. É tentativa de exploração', disse Santos Cruz em entrevista. Imagem: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Do UOL, em São Paulo

02/05/2022 18h08

O ex-ministro da Secretaria de Governo general Carlos Alberto dos Santos Cruz disse em entrevista ao jornal Valor Econômico que envolver as Forças Armadas na apuração dos votos das eleições é uma "politicagem baixa". A possibilidade de atuação dos militares no processo foi mencionada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

"É politicagem mais baixa possível da exploração das Forças Armadas. É tentativa de exploração", disse Santos Cruz na entrevista.

O ex-ministro completou classificando o envolvimento de militares no processo eleitoral como "brincadeira" por não ser tarefa das Forças Armadas.

Imagine as Forças Armadas fazendo contagem paralela de votos? O que é isso? Isso aí é brincadeira. Isso aí é simplesmente para criar confusão. Não é papel das Forças Armadas, não é tarefa das Forças Armadas. Tem Tribunal Eleitoral para isso. Ex-ministro Santos Cruz.

No último dia 27, durante um evento no Salão Nobre do Palácio do Planalto, Bolsonaro falou a deputados e apoiadores que as próprias Forças Armadas teriam sugerido a participação dos militares na apuração dos votos, como uma "apuração dupla". Para o presidente, essa seria uma forma de "confiar nas eleições".

"Não se fala ali em voto impresso. Não precisamos de voto impresso para garantir a lisura das eleições, mas precisamos de ter uma maneira — e ali naquelas nove sugestões existe essa maneira — para a gente confiar nas eleições", afirmou Bolsonaro.

Ao Valor Econômico, Santos Cruz diz que não tem havido uma sugestão como essa partindo dos militares.

"No caso, as Forças Armadas foram convidadas para participar, com outros, de uma avaliação do sistema, para demonstrar que o sistema é bom e confiável. Depois as Forças Armadas fizeram umas perguntas técnicas. As Forças Armadas não têm nada a ver [com eleição], então é técnico o negócio", disse.

"Eu não sei como foram as perguntas técnicas. Também não sei quais foram as respostas do TSE. O problema é que a partir daí você tem uma exploração política muito forte", completou o general.

Ele disse ainda, sem citar o nome de Bolsonaro, que "isso aí é conveniente para quem gosta de viver no ambiente de briga. Ou para quem não quer discutir os assuntos sérios que a gente tem. Para quem não sabe administrar, aí é um bom negócio."

"Pela experiência que eu tenho, tenho certeza disso: as Forças Armadas não vão entrar numa furada dessa, não tem cabimento", cravou.

Tensão com o ministro do STF Luís Roberto Barroso

Poucos dias antes da fala de Bolsonaro, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso declarou que acredita que as Forças Armadas "estão sendo orientadas para atacar o processo eleitoral brasileiro".

Santos Cruz negou a tese e disse que deve ter sido "desagradável" para as Forças Armadas ter recebido a declaração do ministro.